domingo, 19 de setembro de 2010

MARINA SILVA e a SERRA VERMELHA

Sinal amarelo para a Serra Vermelha

Marina Silva
De Brasília (DF)

Caatinga, bioma exclusivo do Brasil
(foto: Maria Hsu/Creative Commons/Reprodução)


Caatinga, em tupi-guarani, significa mata branca. Recebeu esse nome porque a vegetação fica desfolhada no período da seca e com uma cor esbranquiçada. Esse bioma só existe no Brasil e as últimas áreas nativas de caatinga que existem no país ficam no Piauí.
Naquele estado também se encontra um região muito exuberante e peculiar, chamada de Serra Vermelha. Com cerca de 120 mil hectares, fica no sul do Piauí e abriga um mosaico de ecossistemas: cerrado, caatinga e mata atlântica. É uma área de transição única, com tantas variações de vegetação que é até difícil definir onde termina e onde inicia cada tipo.

Juntamente com a Serra das Confusões e com a Serra das Capivaras, a Serra Vermelha forma um conjunto com belezas e particularidades naturais que deveria ser mais conhecido dos brasileiros.

A mistura de vegetação acaba propiciando uma maior diversidade biológica e de espécies endêmicas. Na região é possível encontrar animais ameaçados de extinção, como a onça pintada, a suçuarana, o tamanduá-bandeira e a arara-azul-de-lear.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) registraram a presença de mais de 340 tipos de vertebrados terrestres como anfíbios, répteis, aves e mamíferos com várias espécies ainda desconhecidas pela ciência.
A Serra Vermelha é também uma importante área de captação e infiltração de água da chuva, responsável por alimentar os mananciais próximos, incluindo a área conhecida como "pantanal do Nordeste", tal a diversidade de fauna e flora. Sua localização e formação geológica servem ainda como um divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios Parnaíba e São Francisco, e como recarga de aqüíferos.

Mesmo sendo responsável pela captação de água, a Serra Vermelha está inserida numa das regiões mais carentes de recursos hídricos do país. O que acaba determinando outra característica do local, o solo frágil e arenoso. Para se ter uma idéia, próximo ao município de Gilbués, está o maior núcleo de desertificação do Brasil.

Mas apesar de toda essa importância ecológica, a proposta do Ministério do Meio Ambiente (MMA) de criação do Parque Nacional da Serra Vermelha tem enfrentado forte oposição do governo do Piauí e de alguns setores econômicos.

Os estudos técnicos do grupo de trabalho organizado pelo MMA indicaram que o parque da Serra Vermelha deveria ter uma área de aproximadamente 440 mil hectares. No entanto, segundo denúncias de movimentos sociais e ambientalistas, estaria sendo fechado um acordo com o governo do Piauí para diminuí-la quase pela metade, para assegurar áreas para o produção de carvão, plantio de grãos e pecuária.
Se isso se confirmar, estaremos diante de um grave erro. Um patrimônio biológico como aquele só se encontra naquela área. Nem mesmo argumentos econômicos seriam capazes de sustentar essa opção, pois os resultados dessas atividades podem ser plenamente superados com uma política séria de desenvolvimento sustentável e de ecoturismo, criando um novo círculo virtuoso de bem-estar humano naquela região.

Quando foram criados 24 milhões de hectares de unidades de conservação no Brasil, durante minha gestão no Ministério do Meio Ambiente, apesar de forte resistência, percebemos que existe sustentação política na sociedade brasileira para que o gestor público faça a escolha certa.
Sem dúvida alguma, optar por preservar a biodiversidade e os serviços ambientais associados, como por exemplo, à proteção dos mananciais hídricos, significa maximizar os benefícios sociais, econômicos e ambientais.

Trata-se de uma escolha determinante para o explorado semiárido nordestino, região que será muito afetada pelos efeitos negativos da mudança climática global, caso não se tenha sucesso em mitigá-la.
O sinal amarelo está aceso para a Serra Vermelha. Esperamos que o governo faça a escolha certa e acenda o sinal verde para a proteção integral daquela extraordinária área.

Marina Silva é professora de ensino médio, senadora (PV-AC) e ex-ministra do Meio Ambiente.

Fale com Marina Silva: marina.silva08@terra.com.br

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