Todo cuidado foi pouco. Depois de três anos ilesa fui, finalmente, batizada pelos potós de Oeiras. Morria de medo. Via todo mundo aparecer com queimaduras horrorosas, por isso, tomava o maior cuidado. Antes de dormir, sacodia todos os tecidos, apagava a luz muito antes de entrar no quarto, jamais parava embaixo de luz branca nem na praça nem no Café Oeiras. A moradia á Praça das Vitórias era tranquila. Costumo meditar de manhã cedinho, no silêncio da madrugada. Esse horário sempre me pareceu mais apropriado para entrar em contato com o Divino. E todos os dias, a esta época do ano, mal amanhecia o dia, apareciam novas histórias de queimaduras imensas. Tudo serviço dos insetinhos rubro-negros. As queimaduras , tal como os alto-falantes da Igreja Matriz e os fuxicos da política me pareciam parte integrante da vida de todo oeirense.
Foi ali, à Praça das Vitórias que recebi o referido batismo. Recebi uma queimadura de potó na face. Senti o queimar logo depois do horário do terço. Corri ao banheiro, embebi um algodão em Leite de Colônia e limpei suavemente. Temia espalhar o “mijo” e queimar o rosto inteiro. Mas o ardor continuava. Lavei com sabão neutro... o ardor continuava. Em minutos aparecera um vinco vermelho e o pavor do potó aumentava. Resolvi procurar por toda a casa de onde teria vindo aquele agressor. Encontrei três espécimes sobre minha mesa de trabalho. Aprisionei-os sob um copo de vidro na mesa ao lado do computador e decidi observar com uma lupa o comportamento deles aprisionados. Pulavam e tentavam subir para a luz. Tinham asinhas fininhas e transparentes. Um era pequeno, parecia marrom e não tinha asas. Dois eram maiores, listadinhos de vermelho e preto e gordinhos.
Não conseguiria mesmo dormir por causa da queimadura e do medo. Passei a noite a observar. Num certo momento, os dois potós gordinhos começaram a coçar as costas cabeludinhas e derrubaram as assas. Depois disso começaram a diminuir de tamanho. Deduzi que estavam expelindo o liquido contido nos anéis do abdome. A internet do Walmauri, àquela época, só me permitia mesmo trabalhar após a meia noite. Escolhi os três potós para me acompanhar nas pesquisas da madrugada. Descobri , na pesquisa, que potós comem de tudo. São polífagos. Alimentam-se de matéria orgânica em decomposição e de pequenos insetos também. O liquido que excretam causa coceira e ulcerações. É um ácido. Quando a gente coça, as bactérias embaixo das unhas (por mais que se lavem as mãos, elas existem) espalham o ácido que, queima e fere e infectam. As ulcerações crescem por causa da coceira. Minha mania, herdada de minha mãe, de usar Leite de Colônia para limpar a pele foi que me salvou da queimadura no rosto. Certamente o álcool amenizou o efeito do ácido e o ácido bórico eliminou boa parte das bactérias que viriam contaminar a queimadura.
Ao amanhecer, horário da minha meditação e oração, a vermelhidão estava praticamente desaparecida. Eu havia encontrado algumas explicações ótimas e uma dica fundamental: os insetos são atraídos por luz branca. Uma boa maneira de mantê-los afastados de casa é ter lâmpadas de luz amarela no interior e afastada uns 15 a 20 metros das janelas, iluminação com luz branca.
E : quando sentir que um potó caiu sobre você, não coce. Umedeça o local atingido com algodão embebido em água de colônia ou perfume, lave com sabão neutro e sossegue.
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