Homem anos à
frente do seu tempo, político e comerciante oeirense, filho de Antônio
Francisco Nogueira e Aurora Leite Nogueira, José era um assíduo defensor do
respeito à dignidade humana. Ouvia nas ondas curtas do rádio, as notícias internacionais
e os fatos econômicos tão diversos quanto os processos políticos que marcaram
seu tempo. Sabia do que acontecia além do vale entre colinas no centro do
Piauí. Atento ao novo mundo que se descortinava ante as tendências
internacionais pela liberação feminina, falava do papel da mulher na sociedade
como mãe e como orientadora das mudanças sociais que estavam por vir. Defensor
da igualdade entre os gêneros, respeitava as decisões da esposa mais jovem,
Salomé porque, segundo ele (dizia Salomé), a sabedoria feminina vai além do
pensamento: “mulher pensa com o coração”.
Honrado,
inteligentíssimo e culto, foi um grande incentivador do desenvolvimento urbano
de Oeiras. Sensível, perspicaz, extremamente atento às necessidades humanas,
ensinou aos filhos valores éticos e morais desde muito jovens. Altruísta,
permitia e proporcionava tudo ao próximo sempre antes de a si mesmo. Assim o
definia Zuleica, filha a quem chamava de artista desde a infância.
Socialista
por convicção, recebeu, sob muitas críticas, a Coluna Prestes em sua passagem
pelo Piauí. Defendia o respeito ao ser humano acima de tudo. Jamais aceitou
apropriar-se de qualquer coisa pertencente a outrem ou aproveitar-se de
qualquer situação de privação para auferir-se vantagem. Nos períodos de seca, guardava
no cofre da loja, como garantia, tesouros das famílias dos sertanejos que,
desesperados em busca de alimento, empenhavam o que tinham para não deixar a
família passar fome. Surpreendiam-se ao retornar à Casa Tapety no fim da
estiagem ao receber de volta suas joias de família mediante pagamento das
dívidas. José dizia: “Não é correto ficar com suas joias! Eu não quero nada que
não tenha sido resultado de meu esforço. Trabalhe e merecerá. Vá em paz. Venha
buscar quando puder”, dizia aos clientes e amigos. Fazia questão da mesa farta,
de maneira a proporcionar água fria do pote, alimento e acolhimento aos
sertanejos que vinham à cidade nos dias de feira. Antes de qualquer interesse
político, tratava a todos com carinho pelo respeito ao ser humano.
Diante de sua
convicção sobre a ineficácia do sistema político que se configurava à época,
também “portador das verdades futuras”*, escolheu não participar de situações
políticas que o colocariam contra seus ideais revolucionários. Após a exitosa experiêcia de oito meses frente à Prefeitura onde conseguiu conretizar projetos importantes conforme seus anseios como cidadão, permitiu-se não se corromper pela sedução do ego e do poder. Sabedor, entretanto, de que alguém
teria de assumir o comando político da região no Estado Novo, confiou a seu
grande amigo Rochinha o apoio para esse fim, mantendo-se como pensador e
articulador dos bastidores da política oeirense.
Negou-se por
diversas vezes a assumir cargo executivo ou legislativo por indicação ou sem
eleições diretas. Falava em democracia, igualdade de direitos, e se negava a
aceitar dominação sobre quem quer que fosse. Sangue brasileiro, mistura de todas
as raças, sabia respeitar as diferenças de cor, sexo e classe social.
Compartilhava a mesa farta com os visitantes. Falava em egocentrismo como o
maior problema da humanidade. Dizia que o simples é o certo. Embora escrevesse
com perfeição e loquacidade, adquiriu o respeito dos amigos pela simplicidade
com que lidava com o ser humano, natural com a natureza. Como a natureza.
Irmão cuidadoso,
marido e pai amoroso, paciente e humilde, Zuleica e Salomé falavam dele com
ternura e respeito.
Fumava. O
cigarro o ajudava a pensar formas de promover desenvolvimento em Oeiras de
maneira que o povo se libertasse do pelourinho e dos altares. Morreu ainda moço,
vítima desse companheiro permanente aos 55, deixando viúva sua esposa
apaixonada e guerreira, Salomé, para quem cantoralava “Fascinação” ao declarar
amor incondicional e eterno.
*termo usado
pelo seu irmão, Poeta Nogueira Tapety em seu Elogio do Belo.
Josevita
Tapety Pontes