"Há aqueles que lutam um dia e por isso são bons; Há aqueles que lutam muitos dias e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos e são melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis." Bertolt Brecht
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terça-feira, 7 de agosto de 2012
Nos limites da terra
A história do ambientalista Lester Brown, fundador do instituto Earth Policy, em Washington, e ex-analista da Secretaria de Agricultura do governo americano, começa numa pequena fazenda no sul de New Jersey, onde ele plantava tomates. Hoje com 77 anos, Brown ainda se orgulha de como aos 17 começou com o irmão mais novo, Carl, de 14, o cultivo que produziria 700 t de tomate numa safra particularmente boa em 1958. "Foi uma adolescência bem divertida", lembra o economista, um dos responsáveis pela popularização da ideia de desenvolvimento sustentável nos Estados Unidos.
A reportagem e a entrevista é de Carolina Rossetti e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-10-2011.
Em 1974, Lester Brown fundou o Worldwatch Institute, primeiro centro de pesquisa do mundo dedicado a questões ambientais, do qual foi presidente por 26 anos. Estudioso de segurança alimentar, mudanças climáticas e energia renovável, ele foi eleito pela revista Foreign Policy um dos pensadores mais importantes de 2010. Na semana do Dia Mundial da Alimentação das Nações Unidas, segunda-feira, Brown falou sobre seu "plano B" para evitar um colapso dos recursos naturais do planeta
Parte do plano consiste em maneiras sustentáveis para dar de comer a 8 bilhões de pessoas em 2050. "Só hoje à noite teremos mais 219 mil pessoas no jantar", preocupa-se. "Os fazendeiros não estão dando conta dessa demanda, pressionados pelas mudanças do clima e a falta de água para irrigação. Neste ano esperávamos uma melhora, mas de novo os estoques de grãos estão baixos e os preços, altos. A escassez pode ser o novo normal."
Com um livro publicado no começo do ano, World on the Edge, pela editora W. W. Norton & Company, elogiado pelo ex-presidente Bill Clinton ("Devemos prestar atenção aos conselhos de Lester Brown"), o economista já trabalha em outros dois: um estudo sobre energias renováveis e uma autobiografia com lições tiradas da fazenda em New Jersey, onde os tomates deram lugar à soja, "para alimentar os chineses".
A geopolítica da escassez
"No final de 2007 e início de 2008, a provisão de alimentos estava apertada e os preços dos grãos subiram drasticamente. Alguns dos principais produtores reduziram as exportações para manter o custo nacional sob controle. Rússia e Argentina, grandes exportadores de trigo, restringiram as vendas; Vietnã, o segundo maior exportador de arroz, proibiu a exportação por meses. Muitos países que dependem da importação de alimentos perceberam que não podem mais contar com o mercado. Foi então que, em 2008, Arábia Saudita, China, Coreia do Sul, começaram a comprar ou arrendar terra em outros países, particularmente na África, mas também na América Latina e Sudeste da Ásia, a fim de produzir alimentos para si. Os principais destinos de compra foram Etiópia e Sudão, onde milhões de pessoas são sustentadas com comida do Programa Mundial de Alimentos da ONU. A competição por terra e água em nível internacional é uma manifestação precoce da nova geopolítica da escassez. Essa não parece ser uma situação temporária, mas uma que pode se prolongar indefinidamente. No ano passado, depois da onda de calor na Rússia houve uma grande redução da colheita de grãos e os preços dispararam de novo. Em 2011, estávamos com a expectativa de restabelecer os estoques. Como os preços estavam altos na época do plantio, produtores plantaram mais e usaram mais fertilizantes que no ano anterior. Ainda assim, não conseguiram dar conta da demanda e os estoques de grãos continuam e o baixos e os preços, altos. Estamos mais vulneráveis a mudanças climáticas e ao impacto de desastres naturais sobre as plantações. Nessa situação instável, um novo mecanismo para estabilizar os preços de grãos é necessário. Talvez algo como um Banco Mundial de Alimentos, que poderia garantir alguma estabilidade. Seria uma reserva internacional de grãos, para regulamentar o sobe e desce dos preços dos alimentos. Um órgão independente, multilateral, com representantes dos países produtores e exportadores de alimentos. É uma ideia.
Alimentando 8 bilhões
"Durante a maior parte do último meio século, os Estados Unidos tiveram um superávit de grãos e a Secretaria de Agricultura pagava aos produtores para que não plantassem em toda a extensão de suas propriedades. A quantidade de hectares posta de lado era ajustada todo ano de acordo com o mercado. Se uma monção na Índia ou uma seca na antiga União Soviética forçasse a subida do preço de grãos, os americanos retomavam o cultivo das terras em stand-by e a situação se estabilizava. Mas agora produzimos no limite da capacidade. Não há mais terra fértil ociosa e desocupada nos Estados Unidos. Perdemos a margem de segurança na economia mundial de alimentos. Não há mais jeito fácil de aumentar a produção quando os estoques encolhem. Os fazendeiros não estão dando conta da demanda, pressionados ainda pelas mudanças no clima e a falta de água para irrigação. São 80 milhões de pessoas a mais por ano no mundo, o que significa que só hoje à noite precisamos abrir espaço para 219 mil pessoas na mesa de jantar. Em 2050, serão 8 bilhões, segundo a ONU. Além do crescimento populacional, muita gente, particularmente na China, está tentando subir na cadeia alimentar e consumir mais grãos, carne, ovos e leite. Esse cenário, em que nunca temos o suficiente e o preço dos alimentos é flutuante, mas com uma tendência de alta, pode se tornar crônico. A escassez então seria o novo normal. Isso pressionará ainda mais as família de baixa renda, que hoje já gastam de 50% a 70% de seu dinheiro em comida. Nas décadas finais do século passado o número de pessoas com fome estava em declínio, caindo para o patamar de 825 milhões na virada do século. Mas no início do século 21, com o aumento do preço dos alimentos e a escassez nos celeiros do mundo, a fome voltou a crescer, atingindo hoje o desastroso recorde de 1 bilhão de pessoas.
Índia e China, bolhas de 'overpumping'
"Os países em situação mais preocupante são Índia e China. Em breve a Índia sofrerá uma queda na produção de alimentos. Segundo o Banco Mundial, 175 milhões de indianos (e 130 milhões de chineses) dependem de grãos produzidos com overpumping, a superexploração dos lençóis freáticos responsável por uma bolha de produção de alimentos que explodirá quando os aquíferos se esgotarem. A produção vai cair ao nível sustentável de acordo com a capacidade hídrica da Índia, que é inferior ao necessário para alimentar 1,1 bilhão de pessoas. O que a China está tentando, desesperadamente, é se manter mais ou menos autossuficiente na produção de grãos, com sacrifício da produção de soja e investimento em outros cultivos. Por ano, os chineses consomem 70 milhões de toneladas de soja - não só como tofu, mas principalmente como ração de aves e porcos - e só produzem 14 milhões. Por isso em quase todo o Ocidente planta-se mais soja que trigo ou milho. No Brasil, a produção de soja é maior que a de todos os outros grãos juntos. Nos Estados Unidos temos mais soja que trigo. Na Argentina a situação é ainda pior e a proporção chega ao dobro em relação aos demais grãos. O país virou praticamente uma monocultura de soja. E como é difícil aumentar o rendimento da produção de soja por hectare, só conseguimos mais soja ampliando a área de plantio.
Trabalhando a terra
"Nos países com agricultura avançada os fazendeiros estão alcançando os cientistas. Vemos isso na produção de arroz no Japão, um dos primeiros países a conseguir um aumento sustentável da produtividade de grãos. Depois de subir por um século, o rendimento por hectare de arroz no Japão não tem aumentado há 16 anos. Atingiu-se o limite. Na China o rendimento de grãos aumentou, mas podemos esperar um nivelamento similar ao Japão. O mesmo se dá na França, Inglaterra e Alemanha: o plantio de trigo também chegou ao limite da eficiência fotossintética. Mas hoje a palavra-chave é água. O mundo até que foi bem-sucedido em aumentar a produtividade da terra. De 1950 a 2010 triplicamos o rendimento de grãos por hectare, mas fizemos muito pouco para otimizar o uso de água.
Conselho a José Graziano, da FAO
"A FAO não é um braço forte das Nações Unidas e não tem um papel proeminente na economia mundial de alimentos como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem no controle de doenças infecciosas. A FAO produz relatórios. Uma das coisas que José Graziano (brasileiro que será o próximo diretor da FAO a partir de 2012) precisa fazer é investir na educação e informar o mundo sobre o momento que vive a agricultura mundial, para mostrar como a água está escassa e como isso logo poderá se traduzir em escassez de comida. Ele precisa também focar na questão populacional. Há uma tradição de a FAO nunca mencionar a necessidade de mudança rápida para famílias menos numerosas, até porque isso aumenta o orçamento de outra agência e não o dela. Mas precisamos dar particular atenção aos 215 milhões de mulheres do Sul da Índia e África Subsaariana que não têm acesso a nenhum tipo de planejamento familiar. Graziano precisa falar sobre a relação entre mudanças climáticas e segurança alimentar. As decisões tomadas nos ministérios de energia têm mais efeito sobre o futuro da segurança alimentar do planeta que as tomadas nos ministérios de agricultura. Nos Estados Unidos, por exemplo, 124 milhões dos 400 milhões de toneladas de grãos produzidas foram para as destilarias de etanol em 2010. É uma situação totalmente nova. Quem está no topo da FAO terá responsabilidade de trabalhar com os ministérios de energia, transporte, meio ambiente e recursos hídricos, não só os da agricultura. Uma abordagem estreita e tradicional do dilema da segurança alimentar do mundo pode ser, neste momento, desastrosa.
Controlando as porções
"Em paralelo a tudo isso que discutimos, há importantes revoluções alimentares acontecendo no mundo em âmbito local. A pressão por produtos mais frescos, saborosos, nutritivos e saudáveis está crescendo. A produção local de alimentos ganha atenção nos Estados Unidos. Soluções como as hortas urbanas e as feiras de pequenos produtores estão, felizmente, se expandindo há anos. Tem gente que brinca que, com o aumento do preço do petróleo, as enormes saladas ceasar estão com os dias contados aqui na costa leste dos EUA, pois a alface vem da Califórnia e vai chegar o dia em que essa viagem se tornará cara demais. Em parte isso é verdade. Outro ponto importante é a questão do desperdício. Há meio século falamos sobre a necessidade de reduzi-lo. Sabe-se que grande parte do desperdício de alimentos se dá na estocagem por causa de celeiros ruins, sujeitos a chuva e insetos. Mas há outras formas de desperdício. Os restaurantes americanos servem pratos enormes como se ainda fôssemos uma nação de trabalhadores braçais, quando, na verdade, somos um país de funcionários de escritório. Ou o excedente vai para o lixo ou a pessoa come mais do que precisa, o que é também uma forma de desperdício. E aí temos outro grave problema que atinge tanto países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos: a obesidade.
Compartilhado do Instituto Humanias Unisinos
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Rescatar la dimensión chamánica
Leonardo Boff
02/12/2011
Como seres conscientes e inteligentes tenemos nuestro lugar y nuestra función dentro del proceso cosmogénico. Si no somos el centro de todo, seguramente somos una de esas puntas avanzadas por las cuales el universo se vuelve sobre sí mismo, es decir, se vuelve consciente. El principio antrópico débil nos permite decir que, para ser lo que somos, todas las energías y procesos de la evolución se organizaron de forma tan articulada y sutil que hicieron posible nuestra aparición. En caso contrario, yo no estaría ahora escribiendo aquí.
A través de nosotros, el universo y la Tierra se ven y se contemplan a sí mismos. La capacidad de ver surgió hace 600 millones de años. Hasta entonces la Tierra era ciega. El cielo profundo y estrellado, las cataratas de Iguaçu, donde me encuentro ahora, el verdor de las selvas de aquí al lado, no se podían ver. A través de nuestra vista, la Tierra y el universo pueden ver toda esta indescriptible belleza.
Los pueblos originarios, de los andinos a los samis del ártico, se sentían unidos al universo, como hermanos y hermanas de las estrellas, formando una gran familia cósmica. Nosotros hemos perdido ese sentimiento de pertenencia mutua. Ellos sentían que las fuerzas cósmicas equilibraban el curso de todos los seres y actuaban en su interior. Vivir en consonancia con estas energías fundamentales era llevar una vida sostenible y llena de sentido.
Sabemos por la física cuántica que la conciencia y el mundo material están conectados y que la manera que un científico escoge para hacer su observación afecta al objeto observado. Observador y objeto observado se encuentran indisolublemente ligados. De ahí que la inclusión de la conciencia en las teorías científicas y en la propia realidad del cosmos es un dato ya asimilado por gran parte de la comunidad científica. Formamos, efectivamente, un todo complejo y diversificado.
Son conocidas las figuras de los chamanes, tan presentes en el mundo antiguo y que hoy están volviendo con renovado vigor, como lo ha mostrado el físico cuántico P. Drouot en su libro El chamán, el físico y el místico (Vergara 2001) que tuve el honor de prologar. El chamán vive un estado de conciencia singular que lo hace entrar en contacto íntimo con las energías cósmicas. Entiende la llamada de las montañas, de los lagos, de los bosques y selvas, de los animales y de los seres humanos. Sabe conducir tales energías para fines curativos y para armonizarlas con el todo.
En el interior de cada uno de nosotros existe escondida la dimensión chamánica. Esa energía chamánica nos hace quedar en silencio ante la grandeza del mar, vibrar con la mirada de otra persona, estremecernos ante un recién nacido. Necesitamos liberar esta dimensión chamánica en nosotros para entrar en sintonía con todo lo que nos rodea y sentirnos en paz.
Nuestro deseo de viajar con las naves espaciales por el espacio cósmico ¿no será tal vez el deseo arquetípico de buscar nuestros orígenes estelares y el ímpetu de regresar al lugar de nuestro nacimiento? Varios astronautas expresaron ideas semejantes. Esta incontenible búsqueda nuestra de equilibrio con todo el universo y de sentirnos parte del universo pertenece a la noción inteligible de la sostenibilidad.
La sostenibilidad lleva consigo la valoración de este capital humano y espiritual cuyo efecto es producirnos respeto y sentido de sacralidad ante todas las realidades, valores estos que alimentan la ecología profunda y que nos ayudan a respetar y a vivir en sintonía con la Madre Tierra. Hoy se hace urgente esta actitud para moderar la fuerza destructiva que en las últimas décadas se ha apoderado de nosotros.
domingo, 27 de novembro de 2011
Conscientização Ambiental
Um povo, uma nação alcançará o quinto lugar no cenário político-econômico mundial, se e somente se: investir maciçamente em educação em todos os níveis, principalmente, em pesquisas científicas.
Faz-se necessário, repensar como governar e fazer leis. Perder-se o apego a paradigmas arcaicos, que acarretam à desinformação e ao medo do novo, do moderno, ousado.
Quando o inglês navegador Thomas Cook, em meados de 1770, desbravou os oceanos em direção à Oceania e à Ásia, não amedrontou-se em passar mais de dois anos navegando, mas sim revolucionou a Cartografia e descobriu a Nova Zelândia e a Austrália, ou em 1945, quando a Alemanha fora arrasada por duas guerras mundiais, não esquivou-se do trabalho e a Ex-Alemanha Ocidental, apoiada pelos Estados Unidos, recuperou bibliotecas, escolas, universidades e hoje, é considerada a primeira potência exportadora de tecnologias limpas.
De 7 a 18 de Dezembro de 2009, fora realizada a conferência mundial da ONU sobre o Meio Ambiente, na Dinamarca, mais de 120 países estiveram presentes, durante onze dias, mais de 10.000 pessoas, quotidianamente, discutiam sobre o futuro do planeta. Os cientistas apresentaram idéias brilhantes de como salvar o meio ambiente das catástrofes naturais decorrentes do aquecimento global e das mudanças climáticas. Governos como: da Alemanha, Inglaterra; Suécia e Finlândia apoiam as ciências aliadas às indústrias, isto é, antes de se fazer uma lei, são realizadas avaliações legislativas, para que as leis ambientais se adequem aos anseios da sociedade e funcionem na prática, elevando a qualidade de vida dos indivíduos. Além do que, há incentivos fiscais para não poluição, ou seja, o princípio do poluidor pagador, quem polui paga e quem protege o meio ambiente recebe subsídios, como é o caso das energias renováveis, como energia solar e eólica, livres de emissões de gás carbônico.
Não apenas países ditos do primeiro mundo têm esta consciência ambiental, mas nações como a Índia e o México incentivam a certificação do CO2 (Comércio de gás carbônico, o direito a poluir é pago) e além do que investem em transportes férreos abastecidos por energias renováveis, não poluentes, que evitam os congestionamentos de trânsito e emissões de gases.
Existe também a energia que vem dos mares, e não é aquela que jorra „acidentalmente“ centenas de litros de petróleo e sim aquela que vem com a força das ondas ou que giram as turbinas eólicas. Estas formas de energia sustentável, não violam os direitos humanos, nem ferem a Constituição expulsando mais de 50.000 pessoas entre elas, índios e nem desmata 500 km. Em 2050, os índios brasileiros serão vistos apenas em fotos.
O futuro chegou, o Brasil já sofre com as mudanças climaticas, sejam as secas, altas temperaturas, chuvas torrenciais, enchentes, deslizamentos de terras, ciclones, etc. Catástrofes estas que são fatais e ameaçadoras tanto para o hoje, quanto para o amanhã e o país não está preparado para os desastres naturais, porque não tem a cultura, da prevenção, da precaução.
É chegada a hora de despertar, de tomar decisões, medidas, exercer a democracia participativa em prol do meio ambiente. O futuro é a chance que se tem no presente e deve ser aproveitada de forma sustentável para a garantia da vida digna e saudável das presentes e futuras gerações.
Ruth Pessoa Gondim é PhD em Direito Europeu Ambiental na Alemanha e na Áustria e também é autora do livro "Implementacao do Direito Ambiental".
Texto reprduzdo a partir do http://www.brasilecologico.net/
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade
Moacir Gadotti - Instituto Paulo Freire
Três décadas de debates sobre .nosso futuro comum, deixaram algumas pegadas ecológicas tanto no campo da economia quanto no campo da ética da política e da educação que podem indicar-nos um caminho diante dos desafios do século XXI. A sustentabilidade tornou-se não só um tema gerador preponderante neste inicio de milênio para pensar o planeta mas também um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos capaz de reacender a esperança em um futuro possível com dignidade para todos.
O cenário não é otimista: podemos destruir toda a vida no planeta neste milênio que se inicia. Uma ação conjunta global é necessária. Um movimento como grande obra civilizatória de todos é indispensável para realizarmos essa outra globalização, essa planetarização, fundamentada em outros princípios éticos que não os baseados na exploração econômica, na dominação política e na exclusão social. O modo pelo qual vamos produzir nossa existência neste pequeno planeta decidirá sobre a sua vida ou a sua morte, bem como a de todos os nossos filhos e filhas. A Terra deixou de ser um fenômeno puramente geográfico para se tornar um fenômeno histórico.
Os paradigmas clássicos, fundados em uma visão industrialista predatória. antropocêntrica e desenvolvimentista estão esgotando-se, não dando conta de explicar o momento presente e de responder às necessidades futuras. Precisamos de um outro paradigma. fundado em uma visão sustentável do planeta Terra. O globalismo é essencialmente insustentável, ele atende primeiro às necessidades do capital e depois a necessidades humanas e muitas das necessidades humanas a que ele atende tornaram-se humanas apenas porque foram produzidas como tais para servirem ao capital.
Precisamos de uma "Pedagogia da Terra", uma pedagogia apropriada a esse momento de reconstrução paradigmática. apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem constituindo-se gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexões que ocorreram nas últimas décadas principalmente no Interior do movimento ecológico. Ela se fundamenta em um paradigma filosófico (Paulo Freire. Leonardo Boff. Sebastião Salgado. Boaventura de Sousa Santos, Milton Santos. Aziz Ab'Sáber, Thomas Berry. Fritjop Capra, Edgar Morin) emergente na educação que propõe um conjunto de Saberes/valores Interdependentes. Entre eles podemos destacar:
1. Educar para pensar globalmente: na era da Informação, diante da velocidade com que o conhecimento é produzido e envelhece não adianta acumular informações. Preciso saber pensar. E pensar a realidade, não pensamentos já pensados. Daí a necessidade de recolocarmos o tema do conhecimento do saber aprender. Do saber conhecer. das metodologias, da organização do trabalho na escola.
2. Educar os sentimentos: o ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. É necessário educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se. para viver com sentido em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e não apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em construção.
3. Ensinar a identidade terrena como condição humana essencial: nosso destino comum é compartilhar com todos nossa vida no planeta. Nossa identidade é ao mesmo tempo individual e cósmica. É preciso educar para conquistar um vínculo amoroso com a Terra, não para explorá-la, mas para amá-la.
4. Formar para a consciência planetária: é preciso compreender que somos interdependentes. A Terra é uma só nação e nós, os terráqueos os seus cidadãos. Não precisamos de passaportes. Em nenhum lugar na Terra deveríamos considerar-nos estrangeiros. Separar primeiro de terceiro mundo significa dividir o mundo para governá-lo a partir dos mais poderosos; essa é a divisão globallista entre globalizadores e globalizados. o contrário do processo de planetarização.
5. Formar para a compreensão: é necessário formar para a ética do gênero humano, não para a ética instrumental e utilitária do mercado. No mesmo sentido, é necessário educar para se comunicar, não comunicar para explorar. para tirar proveito do outro. mas para compreendê-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se nesse novo paradigma ético e em uma nova inteligência do mundo. Inteligente não é aquele que sabe resolver problemas (inteligência Instrumental), mas aquele que tem um projeto de vida solidário, porque a solidariedade não é hoje apenas um valor. e sim condição de sobrevivência de todos.
6. Educar para a simplicidade e para a quietude: nossas vidas precisam ser guiadas por novos valores. como simplicidade. austeridade. quietude. paz. saber escutar. saber viver juntos. compartilhar. descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsável frente à cultura dominante, que é uma cultura de guerra, de competitividade sem solidariedade. E passar de uma responsabilidade diluída a uma ação concreta, praticando a sustentabilidade na vida diária, na família, no trabalho, na escola, na rua.
A simplicidade não se confunde com a simploriedade e a quietude não se confunde com a cultura do silêncio. A simplicidade deve ser voluntária. como a mudança de nossos hábitos de consumo. reduzindo nossas demandas. A quietude é uma virtude conquistada com a paz interior e não com o silêncio imposto.
É claro, tudo isso supõe justiça, e justiça supõe que todas e todos tenham acesso à qualidade de vida. Seria cínico falar de redução de demandas de consumo. Atacar o consumismo, falar de consumismo aos que ainda não tiveram acesso ao consumo básico. Não existe paz sem justiça.
Diante do possível extermínio do planeta, surgem alternativas em uma cultura da paz e uma cultura da sustentabilidade. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos. com os outros e com a natureza. A pedagogia deveria começar por ensinar sobretudo a ler o mundo, como nos diz Paulo Freire. O mundo que é o próprio universo, porque é ele nosso primeiro educador. Essa primeira educação é uma educação emocional, que nos coloca diante do mistério do universo. Na intimidade com ele, produzindo a emoção de nos sentirmos parte desse sagrado ser vivo e em evolução permanente.
Não entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado, misterioso que nos desafia a cada momento de nossas vidas em evolução, em expansão, em interação. Razão, emoção e Intuição são partes desse processo, em que o próprio observador está Implicado. O paradigma Terra é um paradigma civilizatório. E, como a cultura da sustentabilidade oferece uma nova percepção da Terra. considerando-a como uma única comunidade de humanos; ela se torna básica para uma cultura de paz.
O universo não está lá fora. Está dentro de nós. Está muito próximo de nós. Um pequeno jardim. uma horta, um pedaço de terra é um microcosmos de todo o mundo natural. Nele encontramos formas de vida, recursos de vida, processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar nosso currículo escolar. Ao construí-lo e ao cultivá-lo. Podemos aprender muitas coisas. As crianças o encaram como fonte de tantos mistérios. Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a Terra: a vida. a morte, a sobrevivência. Os valores da paciência, da perseverança, da criatividade., da adaptação, da transformação, da renovação.
Todas as nossas escolas podem transformar em jardins professores-alunos, os educadores-educandos em jardineiros. O jardim ensina-nos ideais democráticos: conexão. Escolha, responsabilidade. Decisão, iniciativa. Igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade e gênero.
Estamos diante do crescimento incessante e paralelo entre a miséria e a tecnologia: somos uma espécie do sucesso no campo tecnológico. Porém muito mal sucedida no governo do humano. Vivemos na era da informação mas não do conhecimento e da comunicação. As tecnologias da comunicação não significam comunicação humana. Por isso, temos necessidade de uma esfera publica cidadã" (Jurgen Habermas), uma esfera publica de decisão não-estatal; precisamos, como diz Adela Cortina, de “uma ética pública cívica”, fundada em uma sociedade pluralista (por exemplo, respeitar respostas distintas a perguntas sobre a vida, Isto e, praticar o pluralismo ético), na convivência autêntica ("viver juntos e não apenas se justapor"), na construção coletiva ("tarefa a realizar permanentemente, pois os pontos de convergência não são automáticos"), e no descobrimento mútuo e no diálogo ("buscar o que temos em comum").
A "Carta" significa "mapa", um mapa para nos guiar nessa travessia conturbada. Nesse sentido. a Carta da Terra precisa ser considerada como um código de ética planetária a nos guiar hoje para um mundo onde predominem os valores da solidariedade e da sustentabilidade, um projeto. um movimento, um processo que pode transformar o risco de extermínio em oportunidade histórica, transformar o temor em esperança. Adotar e promover a prática de seus vaiares não pode ser apenas o compromisso de estados e nações, e sim de cada ser humano. Individual, pessoal, como sujeito da história. como vem promovendo o Manifesto 2000 da Unesco. Precisamos de uma cultura de paz com justiça social para enfrentar a barbárie. Se aceitamos a barbárie. acostumamo-nos a um cotidiano de violência e de insustentabilidade. :
No livro Pedagogia da Terra defendemos a necessidade de uma Carta da Terra associada a um processo de paz. A uma cultura de paz. E, como a Carta da Terra é um documento ético, ela precisa da educação para se tornar cada vez mais conhecida. Contudo, precisamos de mudança não só na consciência das pessoas, mas também de mudanças estruturais no campo econômico, como as propostas pela Agenda 21 . A Carta da Terra precisa estar associada à Agenda 21 e ter um grande suporte na sociedade civil. Os governos podem assinar tratados, podem adotar a Carta da Terra. porém não cumprirão suas promessas se a sociedade civil não estiver vigilante e não pressionar os governantes para que eles cumpram o que assumiram. O que foi socialmente construído pode ser socialmente transformado. Um outro mundo é possível. Uma outra globalização é possível. Precisamos chegar lá juntos e, sobretudo, em tempo.
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