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sexta-feira, 1 de março de 2013

ECO DEBATE. COMUNIDADES VERDES SUSTENTÁVEIS







Comunidades Verdes, iniciativa para melhorar a qualidade de vida nas comunidades através de reflorestamento e plantio sustentáveis

Comunidades Verdes

Promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida nas comunidades através de ações de reflorestamento e plantio sustentáveis: esse é a proposta do projeto Comunidades Verdes, lançado pela Secretaria do Ambiente, na terça-feira (26/02), no morro do Fogueteiro, em Santa Teresa. Coordenada pela Superintendência de Território e Cidadania, a iniciativa – que também é realizada no Morro da Formiga, na Tijuca, no Complexo do Alemão, e no Batan, em Realengo – tem o objetivo de capacitar moradores em técnicas de reflorestamento, plantio de mudas, implantação de hortos comunitários, arborização e recobrimento de muros, encostas e fachadas residenciais com vegetação apropriada.
Além de investir na capacitação de 30 jardineiros por comunidade, somando um total de 120 pessoas, o projeto abrange a instalação de Núcleos Verdes nas quatro localidades, onde serão cultivadas hortaliças, flores, árvores frutíferas, plantas medicinais e ornamentais, além de mudas de espécies de Mata Atlântica para recuperação ambiental. Ao mesmo tempo, serão empreendidas, em parceria com o Sebrae, atividades de comercialização da produção das plantas cultivadas pelas Comunidades Verdes.
- Esse projeto gera benefícios em larga escala. Oferece formação profissional, gera renda para a comunidade, melhora a qualidade de vida, além de restaurar a Mata Atlântica e a biodiversidade. Além disso, o reflorestamento de áreas degradadas nas encostas, ajuda a evitar a erosão e o deslizamento de terra – explicou o secretário do Ambiente, Carlos Minc.
Os moradores que atuam no projeto passam por um curso de jardinagem e reflorestamento, que dura cerca de cinco meses, com direito a uma bolsa-auxílio de R$ 120. A meta é transformar os 30 melhores alunos das quatro localidades em jardineiros comunitários, que receberão uma gratificação de R$ 300. Os Núcleos Verdes são instalados em terrenos onde funcionavam lixões e desmanches clandestinos.
- O Núcleo Verde do morro do Fogueteiro, por exemplo, foi construído em um terreno que era usado como lixão e desmanche de carros. A ideia é pegar um terreno abandonado e transformá-lo em um ambiente de convívio social, com belos jardins e áreas de cultivo – disse Minc.
Atividades de paisagismo e embelezamento das comunidades, com plantio de vegetações em muros, fachadas e residências, também são incentivadas pelo programa estadual.
- Propomos aos alunos do projeto uma série de trabalhos paisagísticos, com intervenções na paisagem urbana das comunidades para criar um ambiente mais bonito e inspirador para os moradores – afirmou a superintendente de Território e Cidadania da Secretaria de Ambiente, Ingrid Gerolimich, que enfatizou o potencial econômico do projeto:
- É possível produzir nas comunidades algo com muita qualidade, que pode ser aproveitado pelos próprios moradores e também ser vendido em supermercados, lojas e feiras. Queremos estimular o desenvolvimento dessas áreas com consciência ambiental e ecológica.
Zélia Santos, de 63 anos, ajudou a preparar o terreno e plantar as mudas do Núcleo Verde do Fogueteiro. Para a moradora da comunidade, o projeto Comunidades Verdes oferece oportunidade de trabalho para pessoas mais velhas.
- Com a minha idade, é quase impossível arranjar um emprego no mercado de trabalho. Com a bolsa oferecida pelo projeto, posso ajudar em casa e ainda cultivar plantas lindas na minha comunidade. Carreguei terra, plantei mudas e decorei o terreno. Fico muito honrada com o meu trabalho e vou fazer tudo para deixar minha comunidade cada vez mais bonita e arborizada.
Para Cíntia Luna, de 35 anos, gestora do projeto no Fogueteiro e presidente da associação de moradores da comunidade, o programa estadual mobilizou moradores e crianças da região.
- As pessoas pararam de jogar lixo no terreno de plantio e cuidam para que o local permaneça limpo. Além disso, oferecemos pipas para as crianças que trouxessem garrafas pet para construção de canteiros de plantas. O resultado é que não se vê mais garrafas de plástico jogadas nas ruas e terrenos da comunidade. As crianças recolhem todas e vêm, satisfeitas nos entregar o material. Isso me dá muito orgulho.
Texto: Esther Medina // Fotos: Maria Eduarda Gazal / Governo do Estado do Rio de Janeiro
EcoDebate, 01/03/2013
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A opção da Permacultura


  7 DE JANEIRO DE 2013

Um estudioso da integração entre atividade humana e natureza defende, além da agroecologia, mudança radical de hábitos de consumo, habitação e uso de energia
No sie do IHU
Compreendida como um “sistema de permanência para uma nova cultura”, a permacultura propõe a sustentabilidade dos ecossistemas a partir de outra postura diante do uso dos recursos naturais e do consumo. Desenvolvida no Brasil há mais de 15 anos, esta prática avança com projetos de bioconstrução, construções ecologicamente corretas, “para retirar melhor proveito de sol, dos ventos, com o melhor conforto térmico e menor consumo de energia”, explica João Rockett.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, o diretor do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Pampa – IPEP enfatiza que as discussões acerca das questões ambientais não abordam “o ponto-chave da questão”: o consumo exacerbado. “Não basta separar o lixo. As pessoas estão consumindo uma série de coisas que não precisam, porque aumentou o poder aquisitivo e a oferta de produtos. Os produtos também são vendidos em embalagens desnecessárias. Quando você compra uma cola Super Bonder, por exemplo, que tem menos de 10 cm de comprimento por 1,5 cm de largura, compra também uma embalagem que tem um palmo de comprimento, porque tem toda uma logística”, assinala. E dispara: “Existem duas maneiras de uma sociedade mudar a sua cultura ou forma de viver: uma é quando planeja e toma uma atitude em cima do planejamento; a outra é quando se chega no caos, na crise. Eu acho que, do jeito que estamos, chegaremos na crise”.
João Rockett tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Extensão Rural. Confira a entrevista. 
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Em que consiste a permacultura, o que a diferencia da agroecologia, por exemplo, e como ela vem sendo desenvolvida na agricultura brasileira?
João Rockett: Podemos dizer que a permacultura engloba a agroecologia, como se fosse uma plataforma. Trata-se de um projeto interdisciplinar para criar unidades sustentáveis envolvendo a questão da água, da energia, da habitação, dos animais e das plantas dentro de um sistema que conecta esses outros sistemas. Ou seja, trata-se do projeto de otimizar um local com menor impacto sobre o espaço. Dentro desse sistema mais amplo, a agroecologia está relacionada à questão dos alimentos, considerando também a forma de distribuir esse produto no mercado e a questão social envolvida na produção.

Qual a especificidade da permacultura no bioma Pampa?
João Rockett: Aqui no Pampa nós temos um instituto de permacultura ligado à questão do clima. Existem institutos nos demais biomas brasileiros, mas nessa região especificamente consideramos o clima, que tem uma oscilação de temperatura diferente: muito calor no verão e muito frio no inverno, tendo oscilações de mais de 20 graus num mesmo dia.
No início deste projeto, há 15 anos, construímos uma casa com uma excelente pegada ecológica, feita de palha de santa-fé. As paredes da casa foram feitas de fardo de palha de arroz, considerando que esses são materiais típicos da região. Essa casa tem uma diferença térmica de 8 a 14 graus do ambiente externo, ou seja, uma condição térmica muito alta. Também estamos multiplicando algumas variedades antigas de trigo, que aos poucos foram deixadas de lado da produção por causa dos agroquímicos. O projeto também propõe um banheiro seco, com uso zero de água, a partir da utilização de um sistema de termosifonamento e secagem das fezes. Também utilizamos filtros biológicos para banheiros que utilizam água, com o que buscamos reutilizar essa água na agricultura. Além disso, coletamos a água da chuva para reutilizá-la. Enfim, a permacultura consiste numa série de práticas que visam à sustentabilidade.
A partir da permacultura é possível recuperar o solo degradado? É possível aplicar a permacultura considerando modelo agrícola extensivo brasileiro?
João Rockett: Com certeza, porque o que já foi vivo antes pode ser vivo depois. Um exemplo clássico é a água que sai do sistema industrial e do esgoto e que é revertida como água potável. No solo acontece o mesmo.
O primeiro projeto de permacultura foi realizado na Amazônia, na área de uma escola agrícola da periferia de Manaus. Essa escola foi a primeira, no Brasil, a receber o pacote da revolução verde dos EUA. Visitei várias vezes essa escola quando implementaram o processo de recuperação da área. O que se observou ao longo dos anos é que o terreno se recupera facilmente se for queimado e se for impactado por uso de defensivos agrícolas. Entretanto, o espaço com maior dificuldade de recuperação foi aquele em que se utilizavam equipamentos industriais tais como arados. Com isso concluímos que o solo tem dificuldade de se recuperar quando ele é compactado, quando se tira o ar, porque este é a base da vida do solo. Quando a compactação da terra é muito alta, não se tem ar e não se deixa penetrar a água. Sem esses dois elementos, fica difícil recompor a terra.
A permacultura também propõe a criação de ambientes urbanos produtivos e sustentáveis. Como essa metodologia pode ser aplicada no espaço urbano, visando à sustentabilidade das cidades, por exemplo? Há algum projeto nesse sentido?
João Rockett: Todas essas questões são de ordem cultural. A própria palavra permacultura deriva da união de “cultura pemanente”, que iniciou com o processo de agricultura e deu origem à agricultura permanente. Ou seja, criou-se um sistema de permanência para uma nova cultura. Já que estamos dizendo que a nossa forma de vida é insustentável, que ela está impactando o planeta, temos de mudar. Os valores das pessoas em relação ao uso dos recursos naturais estão se perdendo. Então, a mudança de cultura não é só uma questão de manutenção de uso dos recursos ambientais. É preciso perceber que tudo virou um produto a ser mercantilizado.
Chegamos a um ponto limite, mas existem projetos em que as pessoas têm outro modo de produção, inclusive em apartamentos, terrenos baldios. Para isso, é preciso ter uma vontade muito grande para mudar a cultura. O Brasil tem um fator interessante no sentido de que nele quem trabalhava eram o índio e o negro, diferentemente da Europa e dos EUA, onde os colonizadores realizavam os trabalhos. Em nosso país todo trabalho relacionado à mão de obra é desmerecido. Assim, temos um fator mais difícil de lidar no sentido de pensar numa forma de as pessoas produzirem seu próprio alimento.

Desde quando a permacultura é desenvolvida no país? Como vê os investimentos na área e em que aspectos ela tem avançado nos últimos anos?
João Rockett: No Brasil a permacultura é desenvolvida há 15 anos, e houve uma identificação logo que montamos os primeiros centros, que eram espaços para visitação. A nossa intenção era de que a permacultura fosse incorporada com a cultura, e hoje já existem editais de empresas como a Petrobras citando-a como uma linha de princípio para a execução de alguns projetos. Aos poucos se está abrindo espaço para essa discussão e muitas pessoas investem em telhados verdes, em bioconstruções.
O problema ambiental hoje é um problema de consumo. Não basta separar o lixo. As pessoas estão consumindo uma série de coisas das quais não precisam, porque aumentou o poder aquisitivo e a oferta de produtos. Os produtos também são vendidos em embalagens desnecessárias. Quando você compra uma cola Super Bonder, por exemplo, que tem menos de 10 cm de comprimento por 1,5 cm de largura, compra também uma embalagem que tem um palmo de comprimento, porque tem toda uma logística. Da mesma forma compramos um creme dental que vem embalado dentro de uma caixinha de papelão, e já está embalado em uma bisnaga. Temos de diminuir a quantidade de material que estamos colocando no planeta, porque tudo isso vai para a natureza.
A proposta energética da permacultura está atrelada à questão de rever o consumo energético?
João Rockett: De acordo com os princípios da permacultura, o chuveiro elétrico é uma coisa abominável por causa do alto consumo de energia para pouca eficiência. É comum qualquer loja de eletrodomésticos oferecer chuveiros de mais de 10 mil watts, sendo que há dez anos utilizávamos chuveiros de 5 mil watts. Cada chuveiro desses têm condições de movimentar uma pequena indústria. É como se estivesse ligando uma grande máquina. O problema não é que esteja faltando energia; nós é que estamos utilizando mal a energia que temos.
Imagina se fôssemos somar – eu estou fazendo esse cálculo – todos os chuveiros elétricos do país. O consumo é altíssimo, e o valor da transmissão de energia encarece. Então, quanto mais alto for o consumo, mais caro será para levar essa energia. Se abolíssemos o chuveiro elétrico, não precisaríamos de uma hidrelétrica como a de Belo Monte. Projetos como esse são uma agressão ao planeta, às culturas. É a invasão de um espaço natural em prol de uma geração de energia, de uma suposta necessidade de energia, quando, na verdade, teria de mudar a forma de consumo dessa energia.
No supermercado, por exemplo, existem balcões gigantes, sem vidros, resfriando produtos. Eles geram energia 24 horas por dia, sem nunca desligar a máquina, porque ela não está fechada: é como ter uma geladeira em casa com a porta aberta. Temos de mudar imediatamente essa forma de resfriamento. Não discutimos o ponto-chave da questão, que é o consumo exacerbado, ou seja, consumo sem critérios. Existem duas maneiras de uma sociedade mudar a sua cultura ou forma de viver: uma é quando planeja e toma uma atitude em cima do planejamento; a outra é quando se chega no caos, na crise. Eu acho que, do jeito que estamos, chegaremos a uma época de crise.
Precisamos rever o consumo, as construções, projetar as casas para permitir a entrada do sol no inverno, casas que consumam menos energia. Ainda seguimos o caminho da estética, enquanto deveríamos seguir o caminho da funcionalidade, porque a estética só tem custos. É como a moda: quer coisa que gere mais lixo do que a moda? A moda é lixo. A roupa que deixou de usar por um critério “x” passa a ser usada cinco anos depois porque é moda. É um nível de futilidade muito grande para uma humanidade, que já deveria estar em outro ponto, com outra visão de mundo.
O que podemos entender por bioconstrução e como ela se relaciona com a permacultura?
João Rockett: A bioconstrução foi criada pela permacultura, que observou como as civilizações antigas organizam o seu espaço, e a partir daí buscou informação para o seu projeto. Então, as pessoas que estão num ambiente onde há muita pedra irão, obviamente, construir suas casas com pedras; as pessoas que estão num ambiente com muita palha, com muita madeira, irão construir suas casas com esses materiais. Ou seja, o homem é o fruto do seu meio, e esse meio oferta materiais para ele construir. Assim, o prefixo “bio” considera o meio em que o homem está inserido, e a arquitetura vernacular considera essa lógica da arquitetura antiga e tribal.
Todos os povos antepassados tinham uma lógica de construção a partir do material da região, do declínio do terreno, do clima etc., e é isso que a bioconstrução traz para dentro da tecnologia de construção. Chamamos de bioconstrução a construção que tem um olhar pelo ambiente. Nesse processo, planeja-se a forma de construção e os materiais a serem utilizados para retirar melhor proveito de sol, dos ventos, com o melhor conforto térmico e menor consumo de energia.