terça-feira, 24 de agosto de 2010

O ABANDONO DO PODER

Foto Jadson Santos

Ninguém tem o direito de agredir um cidadão com palavras, gestos, ou fisicamente. Nem submetê-lo a vexame ou constrangimento. Os abusos, demonstrações de poder e arrogância, o exibicionismo, são marca de policiais em grupos fardados e armados.

Jovens desarmados, que sequer tenham entrado em conflito com a polícia, não representem ameaça a grupos armados. Não seria necessário citar Leis. É questão de bom senso, mas elas existem.
Tornou-se comum, pelas ruas da periferia de Oeiras, encontrar jovens, pessoas comuns e pais de família abordados, com armas apontados no rosto, na cabeça, como se flagrados em delito. Isso pelo simples fato de estarem transitando em via pública. Tais situações são uma agressão aos cidadãos comuns que trabalham, pagam seus impostos, e jamais cometeram qualquer delito.
Ao invés de criarem programas educativos, ou de recuperação para nossos jovens e adolescentes, ficham seus nomes ou abrem TCOs e os tratam antecipadamente como deliquentes. Eu me pergunto o que será desses jovens, já taxados de marginais, quando precisarem de uma referencia para trabalhar, ingressar num curso de especialização ou mesmo freqüentar escola pública. O que sentem os pais, ao verem seus filhos em situação de miséria moral e constrangimento? Tais situações marcam a pessoa para toda a vida: moralmente, emocionalmente, psicologicamente. Esse tipo de operação e posicionamento do poder é inaceitável.

Os bairros onde residem estão no nada. Assistência social, sistema de saúde e educação são completamente inoperantes e ineficientes. Os índices de alcoolismo, depressão, prostituição infantil, pedofilia crescem absurdamente. Nenhuma providencia real é tomada. Segundo as pesquisas realizadas, os números atendidos pelos programas do Governo Federal são inexpressivos diante da realidade.


Agredir, punir, bater, humilhar e até algemar esses jovens, adolescentes e adultos, sem saber areal situação a que estão submetidos é fácil. Punir, quando não conhecemos a realidade de pessoas ainda mais fácil. Essa gente vive em casebres, em condições precárias, onde mesmo água, fundamental à vida, só se tem quando aparece alguém para ligar alguma bomba (quando não está quebrada) e por poucas horas. Fazem suas necessidades no mato, por que vivem no lajedo, onde nem fossa se pode cavar. Enfiam forquilhas em frestas da pedra para sustentar sua taipa. Foram jogados para morar à margem, na terra que ninguém queria. Cozinham em trempes de pedra, em latas de leite em pó, e comem carne de fussura, que vão buscar de madrugada no matadouro, retiradas das carcaças de cabeça e das sobras de ossadas.

Mesmo com tantos problemas, o potencial desses jovens é imenso. A produção cultural seria a fortaleza dessa gente. É sua cultura que os mantém vivos.

Quase nada tem sido investido nesses bairros, nessas pessoas, nessas comunidades.
Oeiras vai enfrentar agora três eleições. Quantos milhões têm sido investidos em marketing político, produção de som e propaganda? Vocês sabem quanto custa um auto falante, um carro de som equipado para fazer tanto barulho durante alguns dias? - Com toda certeza, muito menos que se investiria na manutenção anual de programa cultural ou esportivo para esses jovens, que os levariam à inclusão e não à marginalidade.

Que autoridade se responsabilizaria por tudo isso?

Texto retirado da pesquisa “A criminalidade nos Bairros de Oeiras”.
De autoria de Jadson Santos.

Nenhum comentário: