Veganismo para todos – Sonho que se sonha junto é realidade
05 de agosto de 2013 às 12:00
Quem nunca viu por aí alguém trajando uma camiseta com a viçosa palavra “vegana” estampada? Em três anos, numa empreitada solitária, o caminhoneiro Fabiu Buena Onda conseguiu fazer o termo que ainda não está dicionarizado sair do meio restrito dos que se posicionam a favor do respeito aos animais e transitar livremente pelas ruas do país. Sem um centavo de lucro, com vistas apenas à divulgação, ele já distribuiu milhares de camisetas sem nenhuma pretensão além do “desejo ingênuo de liberdade”, como ele mesmo define.
Nesta entrevista à repórter da ANDA Lilian Garrafa, Fabiu fala sobre a alma desse projeto e outras atividades inspiradoras que subvertem as relações de comércio e lucro em prol do sonho de ver o termo vegano amplamente absorvido e posto em prática. Por meio de ações libertárias, anárquicas e desvinculadas de qualquer pretensão comercial, por onde passa Fabiu tem despertado pessoas para um modo mais simples, horizontal e ético de viver.
ANDA – Em uma sociedade primordialmente consumista, como é a sua relação com o comércio que você pratica com a venda de camisetas? Qual sua principal motivação com essa atividade e qual a importância que o lucro desempenha nesse processo, que envolve uma certa forma de ativismo?
Fabiu Buena Onda – O comércio sempre me incomodou. Comprar, comprar, vender, vender. A palavra “produto” me incomoda todos os dias. Tudo em que o mercado encosta morre. As corporações estão engolindo o planeta.
Eu repasso uma ideia, sem marca, nem ONG, instituições ou governos. Também não ponho meu nome em nada e 100% da verba arrecadada volta para a continuidade do próprio projeto. O preço popular de R$ 9,90 já fala por si só. É uma iniciativa que na própria prática quebra qualquer ideia de elite. Eu não vivo disso e por esse motivo já são 3 anos sem aumentar o valor.
O projeto tem sua alma. É uma atividade extra em minha vida que, ainda bem, não envolve as energias do dinheiro. Por isso ando em qualquer lugar, sem medo, numa tranquilidade plena. Não divulgo de porta em porta. Pega quem procura e sente a necessidade de usar uma palavra que ainda não temos em nosso dicionário. Meu maior lucro são as amizades espontâneas que florescem por todo o país.
Me motiva um desejo ingênuo de liberdade, sem expectativas.
Eu repasso uma ideia, sem marca, nem ONG, instituições ou governos. Também não ponho meu nome em nada e 100% da verba arrecadada volta para a continuidade do próprio projeto. O preço popular de R$ 9,90 já fala por si só. É uma iniciativa que na própria prática quebra qualquer ideia de elite. Eu não vivo disso e por esse motivo já são 3 anos sem aumentar o valor.
O projeto tem sua alma. É uma atividade extra em minha vida que, ainda bem, não envolve as energias do dinheiro. Por isso ando em qualquer lugar, sem medo, numa tranquilidade plena. Não divulgo de porta em porta. Pega quem procura e sente a necessidade de usar uma palavra que ainda não temos em nosso dicionário. Meu maior lucro são as amizades espontâneas que florescem por todo o país.
Me motiva um desejo ingênuo de liberdade, sem expectativas.
ANDA – Quais os critérios que você tem para escolher os lugares onde disponibiliza as camisetas para venda? O fato de um estabelecimento em que suas camisetas serão vendidas não ser totalmente vegano faz alguma diferença (positiva/negativa)?
Fabiu Buena Onda – Nesses 3 anos já foram 30 locais que chamo de “pontos de apoio”. A maioria desses pontos possui um posicionamento vegano. Dos pontos que ainda não são veganos faz uma diferença negativa para os animais, pois trata veganismo como um nicho de mercado, isso porque ainda não internalizaram que o veganismo serve para todas as pessoas, tanto as veganas quanto as ainda não veganas.
Mas não dá pra gente prender o veganismo só para os veganos, pois veganismo não é dos veganos. Veganismo é movimento, soltar, abrir… Os pontos de apoio são importantes para exposição; mesmo que ninguém compre, é importante o termo estar cada vez mais presente, sendo que não tem como eu estar fisicamente em todos os cantos. Faz um tempo que não busco por lugares, os dispostos entram em contato comigo e disponibilizo. Também decidi encerrar minhas atividades com essas camisetas nos bazares veganos em São Paulo, pois não me encaixo no formato de aluguel de espaço. A grande massa das encomendas é feita em meu perfil pela internet e eu envio pelos correios ou então quando me encontram pelas ruas e eventos.
Mas não dá pra gente prender o veganismo só para os veganos, pois veganismo não é dos veganos. Veganismo é movimento, soltar, abrir… Os pontos de apoio são importantes para exposição; mesmo que ninguém compre, é importante o termo estar cada vez mais presente, sendo que não tem como eu estar fisicamente em todos os cantos. Faz um tempo que não busco por lugares, os dispostos entram em contato comigo e disponibilizo. Também decidi encerrar minhas atividades com essas camisetas nos bazares veganos em São Paulo, pois não me encaixo no formato de aluguel de espaço. A grande massa das encomendas é feita em meu perfil pela internet e eu envio pelos correios ou então quando me encontram pelas ruas e eventos.
ANDA – Como é a receptividade de pessoas não veganas às camisetas?
Fabiu Buena Onda – Na maioria das vezes de curiosidade por nunca ter ouvido falar, mas notei por muitas vezes várias pessoas com um certo entendimento sobre o que se trata, só que grande parte ainda confunde veganismo com dieta.
Não considero as camisetas bonitas, mas sim objetivas. Os sentimentos são bem positivos tanto de ocupação do espaço quanto de uma rede de informações que se forma.
Não considero as camisetas bonitas, mas sim objetivas. Os sentimentos são bem positivos tanto de ocupação do espaço quanto de uma rede de informações que se forma.
ANDA – Estando já no 30º lote, você se vê também como corresponsável pela popularização do termo “vegano(a)”?
Fabiu Buena Onda – Quando sentei com o David Turchick no restaurante Vegacy, em 2010, para viabilizarmos o início desse projeto, a ideia foi de fazer algo em português e de acesso popular. Hoje, chegando ao número de 3 mil camisetas produzidas, sinto que a responsabilidade está em cada pessoa que se expõe. Ainda falta muito para esse termo se tornar popular, o norte do país é bem carente de acesso. Será importante, pois quanto mais cedo uma pessoa tem contato com o termo e seu significado, mais cedo é ampliada a possibilidade de passar a considerar eticamente os animais e exercer esse respeito. É muito fácil ser vegano.
De tanto repetir esse “mantra” estampado, quero que a palavra “vegana” suma do planeta Terra e que esses valores sejam internalizados ao ser humano. Assim como não existe nenhum nome para chamar uma pessoa que não mata, confina ou escraviza outras pessoas, também não precisaremos do termo “vegano”.
De tanto repetir esse “mantra” estampado, quero que a palavra “vegana” suma do planeta Terra e que esses valores sejam internalizados ao ser humano. Assim como não existe nenhum nome para chamar uma pessoa que não mata, confina ou escraviza outras pessoas, também não precisaremos do termo “vegano”.
ANDA – Além das camisetas com os termos Vegano/Vegana, você também criou outras estampas ao reformular o tradicional desenho sobre “libertação animal e libertação humana”, abrindo a mão humana, que antes aparecia com punho cerrado na imagem original. O que simboliza essa mudança? Considera que a libertação animal está atrelada de que forma à libertação humana?
Fabiu Buena Onda – O abrir a mão é fruto de observação às inclinações do movimento. A mão fechada significa muita coisa boa como o movimento operário, a luta, a força e a resistência, mas também somos carregados de julgamentos, pancadas e mesquinharias. É muito comum pessoas ainda não veganas reclamarem de socos e violências verbais por parte desse movimento dito libertário. Muito disso se dá pelo fato de o movimento não observar o conjunto de fatores que leva a sociedade a ser como é. Se pessoas exploram animais é porque foram ensinadas com naturalidade pra isso, e, assim como os animais não humanos, ninguém nasce mau. A pata estava aberta, daí então pensei em deixar a mão humana da mesma forma, ampliando simbolicamente essa igualdade visual. Não dá pra agir só na emoção com cólera. A mão aberta simboliza paz, energia, intelecto, pede pra parar, acalmar. Eu abri mão de várias coisas. As conexões libertárias são sentidas por todas as pessoas que experimentam deixar os animais em paz. Se libertar de vários egoísmos.
ANDA – Como tem sido a experiência com as barracas livres, onde você disponibiliza objetos para serem pegos espontaneamente pelas pessoas, sem nenhum custo? Com que regularidade você faz e qual o saldo dessa prática? É uma forma de subverter o sistema?
Fabiu Buena Onda – A barraca livre tem sido uma intervenção mágica de muito aprendizado. É o sonho de toda criança de que tudo seja de graça. Me empodero exercendo e absorvendo várias habilidades, sem pressa, sem expectativas e sem julgamentos.
Quase todos nós temos vários objetos que não usamos mais, e muita coisa é jogada no lixo. O que não é mais útil pra um pode ser muito útil ao momento de outro. Não é troca nem caridade, mas sim apenas mais uma quebra de paradigmas. Não escrevo nada sobre gratuidade na mesinha, aparece quem realmente tem que aparecer. Viva o acaso.
Decidi me responsabilizar em fazer 13 aparições nas feiras de consumo em 2013, deve ser pelo número desse ano e pelo 13 simbolizar loucura nessa sociedade. Tu pega a permacultura e o anarquismo faça-você-mesmo, bate por 13 minutos e vê no que dá. Sincronismos e dádivas holísticas! Diferentes relações humanas são possíveis e necessárias.
Quase todos nós temos vários objetos que não usamos mais, e muita coisa é jogada no lixo. O que não é mais útil pra um pode ser muito útil ao momento de outro. Não é troca nem caridade, mas sim apenas mais uma quebra de paradigmas. Não escrevo nada sobre gratuidade na mesinha, aparece quem realmente tem que aparecer. Viva o acaso.
Decidi me responsabilizar em fazer 13 aparições nas feiras de consumo em 2013, deve ser pelo número desse ano e pelo 13 simbolizar loucura nessa sociedade. Tu pega a permacultura e o anarquismo faça-você-mesmo, bate por 13 minutos e vê no que dá. Sincronismos e dádivas holísticas! Diferentes relações humanas são possíveis e necessárias.
ANDA – Você tem alguma outra ocupação? Tem outros futuros projetos relacionados à atual atividade?
Fabiu Buena Onda – Trabalho sempre foi a coisa menos desenvolvida em minha vida, pois em tudo que trabalhei até hoje não me senti vivo. Quem sabe um dia ter prazer, me sentir útil e conseguir me manter de uma forma mais decente, daí certamente não será trabalho! Meses atrás, em Florianópolis, fiz os cursos Galactolatria, da filósofa Sônia T. Felipe, na UFSC, e o PDC, no Instituto Çarakura. Também tomei conhecimento sobre uma tal de Conscienciologia. Pessoas fantásticas me receberam solidariamente na ilha. Estou em busca de maneiras de me sustentar e viabilizar alguns simples sonhos.
Plantar e bioconstruir numa terra, exercendo uma permacultura vegana com mais autonomia, aproveitando a água da chuva, a luz do sol e os ventos, abrir a porta pra amigos de todos os cantos para realizarmos vivências artísticas, politizadas e mastigar outras reflexões. Quero um porão e nele fazer um retiro de musicaterapia.
Plantar e bioconstruir numa terra, exercendo uma permacultura vegana com mais autonomia, aproveitando a água da chuva, a luz do sol e os ventos, abrir a porta pra amigos de todos os cantos para realizarmos vivências artísticas, politizadas e mastigar outras reflexões. Quero um porão e nele fazer um retiro de musicaterapia.
ANDA – O que você considera faltar na atualidade para dar mais visibilidade ao veganismo? Acha que ações inspiradoras como as suas são viáveis para serem exercidas em larga escala numa megalópole como São Paulo?
Fabiu Buena Onda – A meu ver não há veganismo sem permacultura, nem permacultura sem veganismo, ambos estão se conhecendo para se tornar um só organismo. Isso acontecerá quando a permacultura abandonar o arraigado utilitarismo animal e o veganismo se libertar de todo esse industrialismo exacerbado. A falta de visibilidade de ambos é incentivada pelo cume de uma pirâmide, que explora animais humanos e não humanos. Essa minoria rica investe pesado para se manter no topo, postergando toda injustiça de má distribuição de terras e alimentos. Tanto recursos desviados para animais não humanos quanto para humanos. A escola padrão é usada para “ignorantizar” e nos tornar dependentes; esse condicionamento engessa, limitando o campo de visões e ações autônomas. Nosso fértil potencial vital não é estimulado e nossa abundância natural vira escassez artificial.
Me desculpem os boêmios, urbanoides, burgueses, meritocratas e aculturados, mas eu não acredito em São Paulo, em toda essa estrutura caótica, densa, superpopulosa, centralizada, inadministrável, que a transforma numa cidade hostil coerciva de “nãos”. Cimento, industrialização, poluição, sequestro de alimentos, competitividade, consumismo e muito lixo. Aqui e em todas grandes cidades somos desterrados, perdendo nossas raízes de seres terráqueos.
Considero as ações muito viáveis, porém depende de vontade e as pessoas são muito ocupadas com outras coisas. Muitas gostam das ações, mas estão desencorajadas. A obediência civil é muito forte. Não acredito que isso será aplicado em larga escala, que eu queime minha língua.
Me desculpem os boêmios, urbanoides, burgueses, meritocratas e aculturados, mas eu não acredito em São Paulo, em toda essa estrutura caótica, densa, superpopulosa, centralizada, inadministrável, que a transforma numa cidade hostil coerciva de “nãos”. Cimento, industrialização, poluição, sequestro de alimentos, competitividade, consumismo e muito lixo. Aqui e em todas grandes cidades somos desterrados, perdendo nossas raízes de seres terráqueos.
Considero as ações muito viáveis, porém depende de vontade e as pessoas são muito ocupadas com outras coisas. Muitas gostam das ações, mas estão desencorajadas. A obediência civil é muito forte. Não acredito que isso será aplicado em larga escala, que eu queime minha língua.
ANDA – Soube que atualmente você tem feito experiências com queijos veganos em grelha. Esse tipo de “iguaria” ainda é raro no meio vegano. Tem intenções de fazer essa aptidão ser conhecida e aproveitada pelos veganos ansiosos por novidades?
Fabiu Buena Onda – Sou um ex-dependente químico de queijos, foi muito difícil largá-los. O processo foi idêntico ao de ex-drogados, com a agravante de que eu não estava fazendo mal só pra mim, mas também aos animais e ecossistemas. Sorte que descobri nas escrituras de Galactolatriasobre os opiáceos existentes, pois me culpei por muito tempo quando não conseguia parar com os queijos. Me sentia um maldito, no início fiz até uma comunidade reunindo mais de 50 receitas de queijos vegetais pra tentar sanar essa minha adicção. Sou mais viciado em queijos do que os mineiros e aboli esse uso. O sofrimento dos últimos 6 anos resultou na produção de um queijo que descobri que fica ideal na grelha. Sou muito crítico e acabei desenvolvendo um queijo que realmente tem sabor de queijo, sem usar soja nem 6 litros de leite roubado das vacas pra cada quilo, todo sofrimento e poluição que o queijo animalizado deixa no planeta Terra, além do estratosférico desperdício de recursos e infinitas mazelas a nossa saúde. Lancei mês passado numa Festa Julina e todos os 30 espetinhos foram devorados por pessoas que nem sabiam o que era veganismo. Todas aprovaram. É trabalhoso e perecível, portanto decidi fazer só por encomendas ou então para eventos veganos, tudo a R$ 5 a unidade. Nas próximas verduradas e bazares veganos serei o queijeiro.
ANDA – Se desejar, faça considerações que julgue relevantes a acrescentar.
Fabiu Buena Onda – Quando tu estiveres envolvida em algo que tem uma alma e alguém de fora vier falar que você “tem que fazer isso ou aquilo”, entenda como um sinal bem claro de que “não tens que fazer isso ou aquilo”.
Esse ano está sendo o mais fantástico da minha vida, entrei num campo de vibrações de positividade e percebi que nele posso ficar, basta se envolver. Aos 33 anos encontrei as sincronicidades.
Não sou frugívoro, mas minha base alimentar é de frutas e vegetais crus, que são os alimentos com menor impacto sobre a Terra. Me alimento da energia de todas as cores do arco-íris refletidas nas frutas. Faz 6 anos que não ligo uma TV. Abandonar industrializados ao máximo, devolver a matéria orgânica para o solo, andar de bicicleta. Viva as feiras de rua, viva a favela! Alimento vivo, alimento lindo, sabores e saberes. Quero agradecer.
Esse ano está sendo o mais fantástico da minha vida, entrei num campo de vibrações de positividade e percebi que nele posso ficar, basta se envolver. Aos 33 anos encontrei as sincronicidades.
Não sou frugívoro, mas minha base alimentar é de frutas e vegetais crus, que são os alimentos com menor impacto sobre a Terra. Me alimento da energia de todas as cores do arco-íris refletidas nas frutas. Faz 6 anos que não ligo uma TV. Abandonar industrializados ao máximo, devolver a matéria orgânica para o solo, andar de bicicleta. Viva as feiras de rua, viva a favela! Alimento vivo, alimento lindo, sabores e saberes. Quero agradecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário