Sutra: Felicidade ou tristeza – seja o que for que lhe aconteça, siga em frente, intocado, desapegado.
Osho: Será de grande importância se algum dia, no futuro, começarmos a mudar os padrões das nossas línguas, porque elas estão profundamente enraizadas na ignorância. Quando você sente fome, imediatamente diz: “Estou com fome!” Isso cria uma identificação e lhe dá uma sensação como se você estivesse com fome. Você não está. A língua deveria ser tal que não lhe deixasse ter essa noção errada – “Eu estou com fome!”. Na realidade, o caso é que você está observando que o corpo está com fome – você está observando o fato de que o estômago está vazio, que ele deseja comida – mas ele não é você. Você é o observador. Você é sempre o observador, você jamais é o agente. Você permanece sempre como um observador bem distante.
Fique cada vez mais e mais enraizado na observação – eis o que Buda chama de vipâssana, um profundo discernimento interior. Simplesmente ver com os olhos internos o que quer que aconteça, e permanecer intocado, desapegado.
Um guerreiro indígena dos velhos tempos, bastante robusto, chegou cambaleando de volta ao acampamento, com sete flechas enfiadas no peito e nas pernas. Um médico examinou-o e comentou:
– Vigor espantoso. Elas não machucam?
O veterano resmungou:
– Só quando eu rio.
Na verdade, elas não deveriam ferir nem assim – e elas não ferem um buda. Não que, se você flechar um buda, não vá criar um ferimento – a ferida está ali. Ele pode sentir até mais do que você, porque a sensibilidade de um buda é máxima – você é insensível, obtuso, meio morto. Os cientistas dizem que as pessoas só deixam que dois por cento das informações cheguem até elas; noventa e oito por cento do mundo fica excluído. Para o buda, cem por cento do mundo está acessível; assim, quando uma flecha atinge um buda, ela fere cem por cento. Para você, ela fere somente dois por cento.
Mas há uma grande diferença: o buda é um observador. Ela fere, mas não o fere. Ele observa como se aquilo estivesse acontecendo a outra pessoa. Ele sente compaixão pelo corpo – ele sente compaixão, tem compaixão por seu corpo – mas sabe que ele não é o corpo. O corpo é um belo serviçal, uma casa muito boa para morar! O buda cuida dele, mas permanece distante.
Mesmo quando o corpo está morrendo, o buda continua observando que o corpo está morrendo. Sua observação permanece até o último suspiro. O corpo morre e o buda continua observando que o corpo morreu. Se a pessoa consegue observar até esse ponto, ela transcende a morte.
Despertando: O apego é a livre manifestação do ego. Para que você possa se apegar a algo ou alguém, primeiro, é preciso existir um sentimento de posse. Você se apega a sua família, porque ela é a sua família. Você se apega a sua casa, porque ela é a sua casa.
E é fato que: enquanto existir apego, haverá sofrimento. Por mais que seu ego o iluda dando a falsa sensação de controle, quem realmente está realmente na direção é Ele, o Todo. E enquanto você não se tornar consciente disso, seus desejos – em algum momento – não serão os desejos do Todo e, quando isso acontecer, você irá sofrer.
A ótica do mundo através do apego, através do ego, é limitada. Ao se apegar a sua família, você perde a oportunidade de ter gratidão pela existência de todos os seres presentes no universo, que são – igualmente – sua família. Ao se apegar a sua casa, você abandona a oportunidade de ter gratidão por todas as casas que existem, que são de fato as suas casas.
Buda tem consciência que tudo é de todos, pois, todos são o Todo. E é a partir desse estado de consciência que o apego desaparece. Buda não tem uma família, ele tem todas as famílias; ele não tem uma casa, ele tem todas as casas.
E apesar de parecer contraditório, esse é o famoso soltar. É preciso soltar a família, aquela que te trouxe ao mundo, para abrir os braços para sua família universal. É preciso soltar a casa, aquela da sua infância, aquela que você tem tanto carinho, para então reconhecer todas as casas como suas.
E desde que o mundo é mundo, os mestres ascencionados vem divulgando de todas as formas o soltar. E trata-se de um conceito simples de se entender, porém, complexo para se aceitar, pois, vai totalmente contra ao que o ego propõe – ao apego.
Na ótica a partir do ego, o soltar é visto como uma desistência, um abandono, como abrir mão de algo ou alguém, tudo isso, num sentido negativo. E realmente existe uma desistência, mas é a da ideia do meu; realmente existe um abandono, mas é o do sentimento de posse; realmente existe o abrir mão, mas é o da falsa sensação de controle.
Na época de Martin Luther King Jr, estava em vigor uma lei segregacionista onde brancos e negros viajavam separados nos ônibus e, os negros, deveriam dar lugar aos brancos. Um belo dia, Rosa Parks, senhorita da pele negra e no auge da conexão com sua alma, resolveu negar-se a ceder seu lugar a um homem branco. Resultado: foi presa.
Foi desse episódio que nasceu a famosa história do boicote aos ônibus que fortaleceu Luther King na sua luta pela igualdade racial. A solução encontrada, foi parar de utilizar o ônibus como meio de transporte; se ele está sendo palco da separação, da desigualdade, pare de usá-lo – pare de contribuir na manutenção dessas energias.
E tomar essa atitude é ir totalmente na contramão do que o ego propõe. Nesse momento, ele estará gritando: “Não abra mão do que é seu! Expulse todos os brancos! A partir de agora, só os negros poderão utilizar os ônibus!”.
Foram necessários 382 dias de boicotes para que a suprema corte do EUA determinasse como ilegal os atos segregacionistas que geraram o episódio. Foram necessários 382 dias de desapego aos ônibus para que a situação mudasse.
Gautama, o Buda, é um mestre na arte de soltar e, impecável ao dizer: “… seja o que for que aconteça, siga em frente, intocado, desapegado”.
Busque conhecimento, emita amor, seja Luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário