Por meio de sua assessoria de imprensa, o BNDES declarou que “o cumprimento de exigências socioambientais e trabalhistas é condição básica para o desembolso de financiamento do BNDES a todo e qualquer projeto. Entre essas condições, destaca-se o licenciamento ambiental aprovado pelos órgãos responsáveis”. Mas, para especialistas, isso não basta. “O BNDES não pode dizer ‘se está ok para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ok para banco’. O BNDES precisa contribuir para que a legislação ambiental seja cumprida e não o contrário. Todos sabem o quanto estas hidrelétricas são questionáveis. Além disso, Belo Monte tem mega riscos e micro juros. Como é possível?", pergunta Gabriel Strautman, secretário executivo da Rede Brasil, sobre Instituições Financeiras Multilaterais. “Tem um mundo de interesses que este tipo de empreendimento movimenta” afirma Ricardo Verdum, assessor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Em dezembro de 2010, a Amigos da Terra-Amazônia Brasileira e a International Rivers divulgaram o relatório “Mega-projeto, Mega-riscos”, com análises sobre riscos de investimento nesta usina. O documento foi enviado ao BNDES, que não se manifestou. No mesmo mês e antes de o Ibama liberar oficialmente qualquer licença de instalação, o banco anunciou o empréstimo-ponte de R$ 1,087 bilhão para Belo Monte – e foi imediatamente contestado pelo Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA). Em novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou um estudo afirmando que a a política oficial de financiamento do BNDES não tem sido suficiente para estimular práticas econômicas sustentáveis.
Investimentos insustentáveis
Em 2008 o BNDES assinou o Protocolo Verde, cujos signatários se comprometem com "o desenvolvimento sustentável que pressuponha a preservação ambiental e a contínua melhoria no bem estar da sociedade”. Mas a existência deste protocolo não impediu atrocidades em termos de financiamento. “Basta comparar o que ele diz com o que ocorre na realidade”, afirma Roland Widmer, coordenador de Eco-finanças, da Amigos da Terra.
Diversos especialistas, incluindo os que fazem parte da Plataforma BNDES, criada para monitorar e pressionar a democratização do banco, afirmam que ele tem problema crônico de falta de transparência. Ninguém sabe dizer, em detalhes, como o banco avalia os riscos financeiros, impactos sociais e ambientais para aprovar as obras que financia. “As informações do site são insuficientes”, diz Gabriel. “O uso de dinheiro público é uma questão constitucional, esta informação deveria ser pública”, afirma João Roberto Lopes Pinto, cientista político e professor da PUC-Rio. Questionado pela reportagem sobre critérios utilizados para aprovar o financiamento a Belo Monte, o banco limitou-se a enumerar o que entende por benefícios da usina, como geração de energia e de empregos.
“Em 2010, os desembolsos do BNDES atingiram R$ 168,4 bilhões, um aumento de 23% em relação a 2009. É o segundo maior banco de desenvolvimento do mundo.” (fonte: BNDES) |
Além das fronteiras
O BNDES financia empresas brasileiras envolvidas em obras igualmente impactantes na Amazônia de outros países. Uma das razões é aumentar a hegemonia do Brasil na América do Sul. Onde quer que exista uma grande empresa brasileira com atuação na região, pode haver financiamento do BNDES. O banco afirma que não está envolvido com projetos de hidrelétricas no Peru, mas especialistas negam. “É conveniente falar que não para evitar pressão da sociedade civil”, diz Strautman.
O banco também está cobrindo os custos da estrada Villa Tunarí-San Ignácio de Moxos, na Bolívia, que deve ligar os vales bolivianos à Amazônia, via apoio à construtora OAS. “Temos que ficar de olho para que não reproduza lá fora o que tem feito aqui dentro”, afirma Strautman.
O BNDES precisa avaliar melhor o que financia. “O banco tem potencial para ser indutor de sustentabilidade no Brasil e em outros países”, afirma Roland. “É preciso que seja mais analítico e menos uma máquina de emprestar dinheiro” complementa Pedro Bara, líder de estratégia e infraestrututra do WWF na Amazônia.
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