domingo, 9 de junho de 2013

Era uma vez... O gatinho riscado.

E assim Diana aprendeu a mentir, manipular, trapacear...




Era um vez...
 

Família quase normal de classe média, pai funcionário público, mãe dedicada a atividades domésticas. Em casa sempre algum auxiliar que vinha do interior para estudar e, a título de ajuda, ajudava nas das tarefas da casa que vivia sempre cheia de visitantes do interior.

Certo dia, de volta de longa viagem, o pai chega com um amigo que traz de presente para as crianças, dois mimos embrulhados em papeis de presentes iguais. O conteúdo, porém era diferente: um gatinho e um cachorrinho de borracha.
Cada irmã abre um pacotinho. Maria encontra o cachorrinho e Diana o gatinho.
Maria, feliz da vida, corre pro colo da avó a mostrar o presente.
Diana, decepcionada, emburrada e trombuda, corre para o colo da babá chorando: - Eu não gosto de gatinho. Eu quero o cachorrinho.
A babá tenta fazer uma troca, mas a loirinha diz: - Não. Eu gostei do meu cachorrinho. Não quero trocar. O gatinho também é lindo, mas o cachorrinho é meu.


No dia seguinte, logo cedo, aos prantos e em gritaria,  Diana corre para os pais e mostra o gatinho todo riscado de caneta Bic. Aquela tinta é impossível de limpar em borracha e ela sabia disso:
- Mamãe, reclama Diana, Maria riscou meu gatinho. Você tem que trocar. Eu fico com o cachorrinho e ela fica com o gatinho que ela riscou com inveja.
- O pai, furioso, acorda Maria e exige que ela entregue o cachorrinho à irmã e lhe dá uns safanões para deixar de ser invejosa. Ao lado, agarrada às pernas da mãe, com ar de vitoriosa, Diana sorria entre as sobrancelhas. Maria dizia:- eu não risquei gatinho nenhum. Não vou trocar. Não é justo.

Ao ouvir os gritos e choros, a avó e a babá vem da cozinha em defesa de Maria e Diana. Cada uma, claro, em defesa da sua criança.
Maria levou os safanões, recebeu castigos e apesar da interferência da avó (com quem havia dormido e sabia que ela não tinha feito a maldade com o gatinho) poderia também brincar com o cachorrinho, mas o cachorrinho e o gatinho eram de ambas. Tudo afinal, naquela casa, era das duas filhas.
 
Diana, com aquele estardalhaço, conseguiu seu intento. Mentir e fazer escândalo, mobilizar a todos em função de sua situação de fragilidade de filha caçula lhe rendeu o gatinho e o cachorrinho por que, afinal, para Maria, ela sim estaria ganhando por que então teria a chance de brincar com sua irmã ( mesmo obrigada pela situação que ela própria criara), com o gatinho e com o cachorrinho. De quem era, na verdade, não importava. O que ela queria era a amizade e o carinho da irmã.
 
Não ficou claro, jamais, quem riscou o gatinho de caneta Bic, mas, decerto, o escândalo surtiu efeito nefasto na personalidade de Diana e no emocional de Maria. Maria sabia que não tinha riscado o gatinho. Poderia ter sido Diana ou qualquer outra pessoa da casa. Menos ela. E deu-se por satisfeita com o desfecho do drama. No entanto, aquele fato determinou uma deformação na personalidade de  Diana que,até hoje, guarda os brinquedinhos de borracha.

Talvez um troféu.



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