E assim Diana aprendeu a mentir, manipular, trapacear...
Família quase normal de classe média, pai funcionário
público, mãe dedicada a atividades domésticas. Em casa sempre algum auxiliar que
vinha do interior para estudar e, a título de ajuda, ajudava nas das tarefas
da casa que vivia sempre cheia de visitantes do interior.
Certo dia, de volta de longa viagem, o pai chega com um
amigo que traz de presente para as crianças, dois mimos embrulhados em papeis
de presentes iguais. O conteúdo, porém era diferente: um gatinho e um
cachorrinho de borracha.
Cada irmã abre um pacotinho. Maria encontra o cachorrinho e Diana
o gatinho.
Maria, feliz da vida, corre pro colo da avó a mostrar o
presente.
Diana, decepcionada, emburrada e trombuda, corre para o colo
da babá chorando: - Eu não gosto de gatinho. Eu quero o cachorrinho.
A babá tenta fazer uma troca, mas a loirinha diz: - Não. Eu gostei
do meu cachorrinho. Não quero trocar. O gatinho também é lindo, mas o cachorrinho é meu.
No dia seguinte, logo cedo, aos prantos e em gritaria, Diana corre para os
pais e mostra o gatinho todo riscado de caneta Bic. Aquela tinta é impossível de
limpar em borracha e ela sabia disso:
- Mamãe, reclama Diana, Maria riscou meu gatinho. Você tem
que trocar. Eu fico com o cachorrinho e ela fica com o gatinho que ela riscou
com inveja.
- O pai, furioso, acorda Maria e exige que ela entregue o
cachorrinho à irmã e lhe dá uns safanões para deixar de ser invejosa. Ao lado,
agarrada às pernas da mãe, com ar de vitoriosa, Diana sorria entre as sobrancelhas.
Maria dizia:- eu não risquei gatinho nenhum. Não vou trocar. Não é justo.
Ao ouvir os gritos e choros, a avó e a babá vem da cozinha em defesa de Maria e Diana. Cada uma, claro, em defesa da sua criança.
Ao ouvir os gritos e choros, a avó e a babá vem da cozinha em defesa de Maria e Diana. Cada uma, claro, em defesa da sua criança.
Maria levou os safanões, recebeu castigos e apesar da
interferência da avó (com quem havia dormido e sabia que ela não tinha feito a
maldade com o gatinho) poderia também brincar com o cachorrinho, mas o
cachorrinho e o gatinho eram de ambas. Tudo afinal, naquela casa, era das duas
filhas.
Diana, com aquele estardalhaço, conseguiu seu intento.
Mentir e fazer escândalo, mobilizar a todos em função de sua situação de fragilidade de filha caçula
lhe rendeu o gatinho e o cachorrinho por que, afinal, para Maria, ela sim
estaria ganhando por que então teria a chance de brincar com sua irmã ( mesmo obrigada pela situação que ela própria criara), com o
gatinho e com o cachorrinho. De quem era, na verdade, não importava. O que ela queria era a amizade e o carinho da irmã.
Não ficou claro, jamais, quem riscou o gatinho de caneta Bic, mas,
decerto, o escândalo surtiu efeito nefasto na personalidade de Diana e no
emocional de Maria. Maria sabia que não tinha riscado o gatinho. Poderia ter sido Diana ou qualquer outra pessoa da casa. Menos ela. E deu-se por satisfeita com o desfecho do drama. No entanto, aquele fato determinou uma deformação na personalidade de Diana que,até hoje, guarda os brinquedinhos de borracha.
Talvez um troféu.
Talvez um troféu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário