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sábado, 9 de março de 2013

A Vida Secreta da Natureza






Por ocasião da Semana do Meio Ambiente (um evento que esta Escola não poderia deixar de fazer menção), gostaria de compartilhar aqui a introdução do livro “A Vida Secreta da Natureza” do jornalista Carlos Cardoso Aveline. Trata-se de uma ótima leitura para quem deseja entender melhor as raízes da crise ambiental e busca iniciativas ecologicamente sustentáveis. *
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A Vida Secreta da Natureza – Introdução
A natureza, cuja evolução é eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econômica que tem para o ser humano que vive nela. Esta idéia central define a chamada ecologia profunda – cuja influência é hoje cada vez maior – e expressa a percepção prática de que o homem é parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive.
Na nova era global, milhões de pessoas voltam a perceber que o sentimento de comunhão com a natureza é um dos mais elevados de que o ser humano é capaz, e fonte de grande felicidade. Não é coisa do passado ou um costume do tempo das cavernas. Ao contrário, deverá marcar as civilizações do futuro. Em qualquer tempo histórico, o convívio direto com a natureza foi e será um fator decisivo para o bem-estar físico e psicológico do ser humano.
A expressão ecologia profunda foi criada durante a década de 1970 pelo filósofo norueguês Arne Naess, em oposição ao que ele chama de “ecologia superficial” – isto é, a visão convencional segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o ser humano.
Ao nível superficial, o homem coloca-se como centro do mundo e quer preservar os rios, o oceano, as florestas e o solo porque são instrumentos do seu próprio bem-estar. Quando olha para o meio ambiente com esta preocupação, o homem só enxerga os seus próprios interesses, já que, inconscientemente, se considera a coisa mais importante que há no universo. Olha a árvore e vê madeira. Olha o solo e vê o potencial agrícola ou a possível exploração de minérios. Olha o rio e vê umcurso d’água navegável por barcos de determinado porte. Ele sabe que deve preservar os chamados recursos naturais, porque são preciosos. A natureza para ele é um grande cofre, abarrotado de riquezas renováveis, mas que deve ser cuidadosamente preservado. Daí a necessidade de autoridades ambientais atuantes e uma boa legislação que preserve o meio ambiente.
Este nível da consciência ecológica tem importância, porque faz com que os seres humanos questionem seu comportamento econômico e comecem a perceber mais claramente que a ética, afinal, dá bons resultados. A postura mais primitiva, de mera pilhagem, vem sendo deixada de lado em grande parte da economia. As políticas públicas de meio ambiente têm reforçado até hoje prioritariamente este primeiro nível, claramente insuficiente, de consciência ambiental. A multa, a repressão, a aplicação da legislação ambiental e a fiscalização seriam instrumentos muito úteis a curto prazo, se no Brasil a política nacional de meio ambiente não tivesse sido tão persistentemente esvaziada.
Mas as boas notícias são mais fortes que as más. Uma nova consciência empresarial já repensa o conjunto das atividades econômicas a partir da meta de administrar sabiamente, a longo prazo, os recursos naturais. As gerações mais recentes de empresários e executivos trazem consigo uma forte consciência ambiental. Sua atitude é compatível com a descrição holista do universo e com a ecologia profunda. Progresso econômico e bem-estar material deixam de ser inimigos da preservação ambiental ou da busca espiritual. As novas tecnologias permitem aumentar a produção, ao mesmo tempo que se diminui, radicalmente, o impacto ambiental. O verdadeiro progresso econômico – surge agora um consenso em torno disso – deve ser socialmente justo e ecologicamente sustentável. As medidas convencionais e de curto prazo para a preservação ambiental combatem os efeitos da devastação e pressionam pela gradual adaptação das atividades econômicas às leis da natureza. Mas a ecologia profunda dá um sentido maior às estratégias convencionais de preservação. Atacando as causas ocultas da devastação, projeta e estimula o surgimento de uma nova civilização culturalmente solidária, politicamente participativa e ecologicamente consciente.
Em última instância, as causas da destruição ambiental são o individualismo ingênuo, o sentimento de cobiça material sem freios e a ilusão de que o ser humano está separado do meio ambiente, podendo agir sobre ele sem sofrer as conseqüências do que faz. Ter isto claro é importante. No entanto, não basta uma percepção teórica deste dilema ético. Além de compreender intelectualmente o princípio da unidade ecológica de tudo o que há, é oportuno vivenciar e deixar-se inspirar pelo sentimento da comunhão com a natureza. Deste modo, aprende-se a colocar cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, já que é absurdo pretender inverter o processo e colocar a vida a serviço deles.
Não há, pois, oposição real entre a ecologia convencional ou de curto prazo e a ecologia profunda ou mística. São dois níveis diferentes de consciência. Ambos são indispensáveis, e são mutuamente inspiradores. Foi em meados da década de 1980 que diversos pensadores – Warwick Fox, Henryk Skolimowski e Edward Goldsmith, além do próprio Arne Naess – começaram a produzir textos variados a partir do ponto de vista da ecologia profunda. A nova física e a nova biologia, com Fritjof Capra, Gregory Bateson, Rupert Sheldrake, David Bohm, e também os trabalhos científicos de James Lovelock e Humberto Maturana, entre outros, deram legitimidade científica à ecologia profunda. Em sua vertente religiosa, esta corrente de pensamento tem ampla base de apoio na tradição mística de todas as grandes religiões da humanidade. São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, está longe de ser uma figura isolada.
Cauteloso, Arne Naess recusou-se a criar um sistema racionalmente coerente – um circuito fechado de idéias – capaz de limitar o conceito de ecologia profunda, e manteve-o como uma idéia aberta segundo a qual a variedade da vida é um bem em si mesma. Para Naess, esta ecologia surge do reconhecimento interior da nossa unidade com a natureza. O fato nem sempre requer explicações e muitas vezes não pode ser descrito com palavras. Mas a ação freqüentemente mostra com clareza o que é ecologia profunda.
Em certa ocasião, um rio da Noruega foi condenado à destruição para que fosse construída uma grande hidrelétrica. As margens do curso d’água seriam inundadas para que se fizesse o lago da barragem. Um nativo do povo Sami recusou-se, então, a sair do lugar. Quando, finalmente, foi preso por desobediência e retirado dali à força, ele não teve opção. Mais tarde a polícia perguntou-lhe por que se recusara a sair do rio. Sua resposta foi lacônica:
“Este rio faz parte de mim mesmo”.
O indígena estava certo. O meio ambiente faz, realmente, parte de nós mesmos. São dele o ar que respiramos e a água que compõe 70 por cento do nosso corpo físico. Dele vêm os nutrientes que renovam a cada instante as nossas células. Esta unidade dinâmica não está limitada ao plano material da vida, mas também é psicológica e espiritual, mesmo que alguns de nós não tenham plena consciência disso.
A Vida Secreta da Natureza reúne textos publicados inicialmente nas revistas Planeta, Planeta Nova Era e outras publicações. A seguir, veremos experiências de contato direto com o mundo natural como fonte de inspiração para a alma humana em seu crescimento interior. E também reflexões sobre a proposta de um desenvolvimento ecologicamente sustentável; sobre a cidadania local e global como base para a construção de uma civilização solidária; e sobre a poderosa combinação atual entre o pensamento ecológico, a ciência moderna e a tradição esotérica.
Brasília, 30 de janeiro de 1999.
* Publicado em http://www.nodo50.org

terça-feira, 10 de abril de 2012

A SPIRULINA E AS NOVAS NECESSIDADES DIETÉTICAS DA HUMANIDADE



A spirulina é uma alga unicelular de cor verde-azulada. Rica em proteína, apresenta todas as vitaminas do complexo B, vitamina A, vitamina E e minerais, como ferro, fósforo, zinco, cálcio, potássio, magnésio, selênio, sódio e cromo, bem como um alto teor de clorofila e o potente antioxidante superóxido dismutase. A spirulina tem dez vezes mais ferro que a mesma quantidade de espinafre e 26 vezes mais cálcio que o leite de vaca.
A spirulina é utilizada como fonte de proteína desde tempos antigos na África e América do Sul.
Comparada à proteína da carne, que é de difícil digestão (apenas 20% digestível), a spirulina é 95% digestível, pois contém enzimas, que ajudam no processo digestivo.
Em outras palavras, comendo spirulina, ingere-se proteína de alta qualidade que não é tão pesada para o corpo – o que é excelente para os vegetarianos.
Além disso, a spirulina é pobre em gordura, calorias e colesterol.
Comer spirulina 30 minutos antes das refeições satisfaz o apetite, permitindo a redução do consumo geral de comida.
Pode ser usada como suplemento alimentar de atletas, durante ou após as refeições, e como fonte instantânea de energia em exercícios de longa duração.
Terapeuticamente, o uso da spirulina melhora a circulação sanguínea, reduz os níveis de colesterol e ajuda no tratamento de diabete, anemia, úlceras, doenças hepáticas, câncer, entre outros.

O que é a Alga Spirulina?

A Spirulina é uma alga microscópica azul esverdeada composta por uma única célula e que torna a luz solar em energia activa.
É uma das primeiras formas de vida concebidas pela natureza há mais de 3.6 biliões de anos atrás. A Spirulina contém biliões de anos de sabedoria evolutiva no seu DNA e é o fruto da primeira forma de vida fotosintética da Terra.
Vista ao microscópio, a Spirulina tem uma côr azul esverdeada e tem o aspecto de um espiral de longos e finos filamentos.


Algae Spirulina Microscopic

A Spirulina é excessivamente adaptável e ocorre numa ampla variedade de ambientes, incluindo a água fresca, nascentes tropicais, água salgada e salinas.
A Spirulina é cheia de nutrientes e muito fácil de ser digerida. Comercialmente, a Spirulina está disponível em pó, comprimidos e cápsulas ou adicionadas a alimentos e medicamentos tónicos.
Existem várias formas de algas preciosas e nos últimos 40 anos a Spirulina tem vindo a ser a escolhida pelas suas características nutritivas. Muito antes de se tornar a favorita da indústria de comida saudável, a Spirulina era, há séculos atrás, o alimento regular dos Norte Africanos e Mexicanos. Hoje em dia, muito gente à volta do globo já se apercebe que a Spirulina é um alimento poderoso com grande potencial como fonte de alimento completo, medicamento e recurso bioquímico.
Muitas pesquisas concentraram-se no cultivo e colheita daquilo aque carinhosamente chamam de “o verde”. Foi descrito como “probiótico” e “super alimento”.


O cultivo da Spirulina também trouxe interesse porque, assim como outras microalgas, a Spirulina é extramente adaptável, mesmo quando sujeita a condições extremas. Por ser rica em nutrientes e possuir uma capacidade para se desenvolver em condições adversas, a Spirulina tem um enorme potencial para ser uma fonte de alimento que ajudará a alimentar e a nutrir as populações do mundo.
Como planta, a Spirulina é incrivelmente rica contendo um equilíbrio de nutrientes que, virtualmente, fazem dela um “alimento completo” – capaz de manter a vida sem a necessidade de outros alimentos.


A Spirulina fornece vitaminas, muitos minerais, amino ácidos essenciais, carbohidratos e enzimas. A Spirulina é, pelo menos, 60% proteína de vegetal, a qual é pré digerida pela alga, tornando-a um alimento altamente digerível. Tem mais proteínas do que qualquer outro alimento. O seu perfil fora de série também inclui os ácidos gordurosos essenciais, os ácidos gordurosos GLA, lípidos, os ácidos do núcleo (RNA e DNA), complexo B, vitamina C e E e os químicos vegetais, tais como os carotenóides, clorofila (purificador do sangue) e ficocianina (um pigmento azul), a qual é uma proteína, que se sabe, evita o cancro.
Uma quebra, em termos nutritivos, de alguns dos suplementos, normalmente, mais disponíveis revela uma comparação impressionante.






Como é que cresce?

A Spirulina cresce em lagos alcalinos naturais. A cultura da Spirulina é parte da nova era da agricultura ecológica. A componente chave da produção de Spirulina é a luz do Sol e é dada atenção à medição da temperatura e aos níveis de oxigénio.
Porque os pesticidas e herbicidas matariam muitas formas de vida num lago, os cientistas de algas aprenderam a equilibrar a ecologia do lago sem usar essas substâncias prejudiciais.
Esta forma de aquacultura representa uma das soluções necessárias à produção de alimentos enquanto se restaura o planeta.

As novas necessidades dietéticas.

Os Benefícios da Spirulina estão a tornar-se notáveis demais para passarem despercebidos na sociedade de hoje em que a vida, é para muitos, cada vez mais ocupada, muitas dietas são determinadas pelo tempo que tem disponível para comer, desde o pequeno almoço à pressa até ao pequeno intervalo do dia de trabalho. Isto deixa muitas pessoas rendidas ás comidas pré preparadas que podem ficar prontas num instante, as quais são, normalmente, ricas em gorduras, açucares e carbohidratos, e com falta de proteínas, nutrientes naturais e fibras. Para fornecer ao corpo a quantidade necessária de nutrientes, para que o mesmo funcione a óptimos níveis, um grande volume de alimentos, com falta de nutrientes, são consumidos. As comidas pré preparadas aumentam a massa corporal, os níveis de colesterol e contribuem para problemas digestivos e de saúde, uns anos mais tarde.



Quando bombardeado com comidas gordas e pré confeccionadas, o sistema digestivo humano não extrai a quantidade necessária de nutrientes de qualidade. O corpo pede, mais nutrientes, continuamente, despertando o apetite e o compulsivo comer em excesso.

A Futura Dieta Verde

Tem de aprender a trabalhar com o seu corpo, não contra ele. As pessoas usam a Spirulina para um suplemento dietético como parte da transformação na sua saúde e vitalidade. A Spirulina é um alimento natural muito concentrado. Muitos usam-na como um complemento dietético e como alimento completo. É ideal para aqueles que têm um vida muito ocupada.
  • Não precisa ser mastigada, é o alimento ideal para quem leva a vida a correr;
  • Prepara-se em segundos;
  • Altamente concentrada para uma fácil absorção de nutrientes
  • Proteínas de alta qualidade
A Spirulina , como parte de uma dieta de comida natural saudável, pode ajudar a massa corporal a atingir níveis saudáveis novamente. Muitas pessoas utilizam-na juntamente com uma dieta baixa em carbohidratos e com exercício para atingir os seus resultados. Tomar uma colher de chá cheia de Spirulina em pó (cerca de 5 gramas), uma antes das refeições pode ajudar a satisfazer o apetite do seu corpo. Não se trata de suprimir o apetite, não contém drogas ou químicos que enganem o corpo. É simplesmente uma super nutrição, natural, concentrada e de fácil digestão. Sendo a digestão o maior processo que ocorre no corpo, quanto menos demorar a extrair os nutrientes dos alimentos, mais tempo tem para usar em reparações, crescimento e funções vitais. Exactamente o que o corpo precisa.

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  1. Mastigar alimentos para a máxima absorção de nutrientes.
  2. Comer as quantidades adequadas para a máxima absorção de nutrientes.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Como irrompeu na evolução o Homem Novo

Procissão de Passos. Oeiras - PI. 2012  Foto. Emanuel vital

02/04/2012
A Semana Santa é considerada pelos cristãos das várias Igrejas como a Grande Semana. Celebra-se na Sexta-feria Santa o processo judicial e a execução na cruz de Jesus de Nazaré e a irrupção do homem novo pela Ressurreição, no domingo de Páscoa. Há ai uma antecipação em miniatura do fim bom de todo o processo evolucionário. Essa é a fé dos cristãos. Oferecemos, numa linguagem não religiosa, o conteúdo religoso desta fé e desta esperança: LBoff
       Como todos de sua vilazinha era pobre. Como carpinteiro e camponês da fértil região da Galiléia, ajudava a família com seu trabalho.
Era visionário e grande contador de histórias. Mas não sonhava com outros mundos nem contava histórias desligadas da vida cotidiana. Queria este mesmo mundo, mas transfigurado. Se sonho era que a justiça, o respeito, o amor, a misericórdia e o perdão prevalecessem sobre o ódio, o egoismo e a arrogância. As relações deveriam ser de profunda igualdade. Ninguém deveria ser chamado de mestre, de chefe e de pai. Os que mandavam não mandavam. Serviam a todos. Misteriosamente tinha poder sobre dimensões sinistras da existência. Por isso curava cegos, purificava hansenianos, tocava a pele das pessoas que todos evitavam. Assim, pelo toque da pele, fazia com que elas se sentissem parte da humanidade e não excluídas dela. Chegou até a ressuscitar mortos: o filho da viúva de Naim e Lázaro, o irmão das amigas Marta e Maria. E ousava até perdoar pecados. Quem se sentisse mal com Deus e estava disposto a mudar, ouvia dele essas consoladoras palavras: “Teus pecados te são perdoados; vá em paz”!
Conhecia profundamente o coração das pessoas. Por isso, não julgava ninguém. Compreendia e mostrava misericórdia. Sua atitude base era essa: “Se alguém vem a mim, eu não o mandarei embora”. Pouco importava quem fosse, crianças, um oficial romano, um rico fiscal de impostos, de nome Simão ou um teólogo envergonhado, Nicodemos.
Certa feita, uma mulher foi apanhada em flagrante adultério. Todos queriam apedrejá-la. A lei assim o prescrevia. Ele ficou de cócoras na areia. Começou a escrever os pecados de todos os presentes. E estes iam saindo cabisbaixos, um a um. Até que ele ficou sozinho com a mulher. Com ternura lhe disse: “Mulher, alguém te condenou? Fêz-se longo e constrangedor silencio. “Eu também não te condeno. Mas não faças mais isso”.
Sonhava com uma solidariedade sem limites. Até para com os inimigos manifestos e tidos com hereges como os samaritanos. Se um deles estiver caído na estrada, seu conselho era: “esqueça tudo, verga-te sobre ele; leve-o para o hospital; e ainda deixe, adiantado, algum dinheiro para pagar os gastos”.
Seu sonho era que Deus não fosse sentido como um juiz implacável. Nem como um senhor onipotente. Mas como um pai, melhor ainda, como um paizinho (Abba). Tão terno e misericordioso que tivesse as características das mães. Deus, pai e mãe, não apenas dos bons, mas de toda humana criatura. Também dos “ingratos e maus”. Para o filho perdido na devassidão, o filho pródigo, se mostrava como pai miseicordioso e para a ovelha tresmalhada, pastor solícito.
Para todo o pecado, oferecia perdão. Para ele o ser humano é sempre resgatável.
Não era um asceta como os monges do deserto. Aceitava prazerosamente comer e beber com quem o convidasse como Zaqueu. Numa festa de casamento, ficou penalizado ao perceber que estava faltando vinho. Sua mãe já o alertara para o problema. Fez um dos maiores milagres de sua vida: transformou água em vinho e não vinho em água. Para que a festa se desenrolasse alegre até de madrugada. Não admira que pessoas invejosas de sua liberdade o chamassem de comilão, de beberão e de amigo de gente de má companhia.
Esse era o seu sonho, a sua utopia, a sua lenda pessoal: o Reino de Deus. Mas era um Reino sem rei, só de servos-irmãos e irmãs que se serviam uns aos outros. Mas para que esse seu Reino-serviço fosse verdadeiro, deveria começar bem lá em baixo, do fundo do inferno humano. Devia iniciar a partir dos invisíveis, pobres, oprimidos e pecadores. Se não começasse por eles, não seria para todos. Somente a partir dos últimos, os outros, os antepenúltimos e todos os demais até os primeiros podem ser incluídos. Por isso, gostava de dizer: “Felizes de vocês pobres! De vocês é o Reino de Deus”. Quer dizer: vocês serão os primeiros beneficiários do Reino de justiça, de bem-querença e de intimidade com o Pai e Mãe de infinita ternura!”
Como se depreende,esse Reino significa uma revoluçãoo absoluta: da criação inteira, finalmente, resgatada e reconciliada e das dimensões cósmicas, sociais, pessoais e espirituais. Tudo vai ser renovado, não sem a participação humana, pois com Deus nada é mecânico, mas tudo é participativo.
Sonho que se sonha só é pura ilusão. Por isso queria sonhar com outros. Reuniu um grupinho de doze ao seu redor: todos entusiastas mas sem grande consistência. Havia um outro grupo maior, de setenta e dois, que acreditavam nele mas com muitas reticências. Só o grupo das mulheres era fiel. Elas também o seguiam. Diz-se que Maria de Magdala tinha uma relação especial com ele. Elas o sustentavam generosamente e nunca o traíram, coisa que não aconteceu com os homens.
Sua primeira palavra foi cheia de força convocatória: “Gente, o tempo da espera expirou. O sonho vai se realizar! Acreditem nessa boa notícia. Vai ser uma grande alegria para todo o povo. 


...Mudem de vida. E comecem a realizar o sonho, lá onde estiverem. Caso contrário ele nunca vai acontecer”!
Todo visionário sofre. A realidade resiste ao sonho. As pessoas não gostam de mudar. E quando pressionadas, reagem com violência. Quanto de humanidade aguenta o ser humano?...






Armou-se um complô contra o sonhador de Nazaré. Velhos inimigos, Anás e Caifás, esqueceram suas desavenças para estarem juntos contra ele. O poder religioso – levitas e fariseus – se uniu ao poder político – saduceus e herodianos. As forças nacionais na pessoa de Herodes, se articularam com as forças romanas, imperiais, representadas por Pôncio Pilatos. Por fim, até o poder popular foi manipulado contra ele. Todos gritavam: “Fora com ele! Crucifiquem-no!” E foi crucificado. Morreu atirando um brado desesperado ao céu: “Pai, Pai, por que me abandonaste”?
E Deus que sempre escuta o grito do oprimido, atendeu ao grito do Crucificado. Disseram umas mulheres, três dias após ao seu sepultamento: “Ele está vivo, ele ressuscitou”!
Ressuscitou não no modo de Lázaro que foi apenas a reanimação de seu cadáver. Ressuscitou transfigurando a vida. Todas as potencialidades escondidas nelas desabrocharam totalmente. O que estava latente se tornou patente. Irrompeu o homem novo com um tipo de vida absolutamente nova, na qual o corpo assume as características do espírito e o espírito as características do corpo.
Ocorreu uma revolução na evolução. O que iria irromper no termo do processo evolucionário é agora antecipado. O fim bom do universo se mostra numa miniatura: na pessoa do Ressuscitado.
Este evento de infinita alegria e de total novidade foi testemunhado, em primeiro lugar, pelas mulheres, exatamente, porque elas nunca o traíram e lhe foram sempre fiéis. Elas o anunciaram aos apóstolos. Fizeram-se as apóstolas para os apóstolos. Só depois começam eles também a testemunhar a ressurreição.
Por isso os cristãos não celebram a memória de um passado mas o júbilo de uma presença, a do Ressusitado. A partir de agora a alternativa humana é essa: ou vida ou ressurreição.
À base da experiência das mulheres, os seguidores começaram a refletir e a reler toda sua vida e sua gesta passada. E concluiram: humano assim como esse homem só podia ser Deus mesmo. E começaram a chamá-lo de Filho do Homem, de Filho de Deus, por fim, de Deus mesmo encarnado em nossa miséria. Oh suprema ousadia da fé.
De onde ele vinha? Ninguém sabia dizer exatamente. De Nazaré? Mas este lugar não consta nas Escrituras do Antigo Testamento. Poderia vir alguma coisa boa de um lugar assim desconhecido? Quem era ele? Como se chamava?
Jesus de Nazaré é seu nome, filho de Maria cujo esposo era José.
Depois de termos dito tudo o que dissemos acima, qualquer semelhança com ele, Jesus, é pura coincidência.
Leonardo Boff escreveu Jesus Cristo Libertador, Vozes.