quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A BORBOLETA AZUL




O título sugere a lenda. Muitos devem conhecer a historinha que circula pela internet entre os amigos, entitulada “a borboleta azul”. A lenda conta que uma menina curiosa, decide colocar à prova o velho sábio, por duvidar de que fosse realmente um sábio. Tomou nas mãos uma borboleta azul, escondeu-as mãos com a borboleta para trás, foi até o sábio e disse: tenho nas mãos uma borboleta azul, ela está viva ou morta. Antes que o sábio respondesse tinha preparado o seguinte ardil: se ele disser que está viva, eu a esmago e ela estará morta; ele não é um sábio. Se ele disser que ela está morta , eu a deixo voar; ele não é um sábio.

Mas o sábio, como podíamos esperar de um sábio, foi muito sábio em sua resposta, ele disse:
Ela está em suas mãos, depende de você.

Esta lenda nos propõe questões muito profundas. Podemos começar por refletir o significado da borboleta. A borboleta é o resultado de um processo de metamorfose. Primeiro é larva, torna-se crisálida e depois, finalmente, borboleta. Também é um dos símbolos mais significativos da Psique. Em algumas imagens a “menina psique” tem asas de borboleta, quando aparece em quadros ao lado do belo “menino eros” que tem asas de pássaro.
Na Grécia antiga, quando a borboleta emergia do casulo (da crisálida) dizia-se que este momento era idêntico a profunda liberação, equivalente ao atingir da imortalidade. Simbolicamente, cada um de nós trás em si a possibilidade desta metamorfose, o que significa pois, cada um destes estágios?

Há pessoas que não conseguem deixar o casulo, para elas a vida é pesada, velha, monótona, inútil, sem sentido. Partes de si mesma, ficam aprisionadas no passado, o qual a pessoa reluta em deixar, ou porque não sabe como fazê-lo, ou porque não tem coragem de fazê-lo, ou porque teme demasiadamente o futuro. Aquele que consegue libertar-se do casulo, é aquele que consegue aceitar o paradoxo de vida e morte, que se repete continuamente a cada novo padrão de crescimento. O medo de deixar os velhos padrões impede o voo. No centro dos velhos padrões e do medo de deixá-los está a insegurança. O medo da mudança está aqui, porque a criança que delega a responsabilidade sobre si mesma a outrem, continua predominado na vida de indivíduos adultos. Voar é responsabilizar-se, pelo bem e pelo mal, ou, pelo além do bem e do mal.
Viver é fluir com a mutação, em termos da alquimia oriental, isto significa “seguir o Tao”. Fluir implica uma grande capacidade de suportar a solidão. Dizemos suportar, porque quando começamos a tomar consciência de nossa solidão o que queremos é fugir dela. Parece algo abominável, terrível. Nada nem ninguém a quem possamos nos “agarrar”; nada nem ninguém para quem correr. É um tempo muito ameaçador.

Não sabemos ainda, neste tempo inicial, que ou se, podemos contar conosco mesmos. Mas para aqueles que se propõe a suportar  a sua solidão, está reservado o nascimento do herói dentro de si. É o herói que poderá criar dentro de nós um núcleo de segurança, uma confiança e uma certeza inabaláveis.
A agonia do tempo necessário à preparação da metamorfose de crisálida à borboleta, é suportada por poucos. Amigos e familiares estranham aquele que de repente está introvertido, silencioso, reflexivo. Estranham mais ainda, os primeiros voos confusos da borboleta que acaba de nascer e ainda não está adaptada ao seu novo padrão de leveza.



JUNG escreve que o sacrifício necessário para se chegar a ser quem se é, é o sacrifício do “homem natural”, da inconsciência, da ignorância, da ingenuidade. A meta de todo o processo de individuação junguiano, é a consciência do Si-mesmo, ou seja, o centro regulador da psique. O Si-mesmo, começa a manifestar-se através do conflito. A cada novo aumento de consciência, temos conflito. Podemos ficar aprisionados andando em círculo, ou podemos fluir andando em espiral. Há uma mudança sutil cada vez que atingimos um novo nível da consciência em espiral. Para tal, requerem-se muitas condições; requer-se um trabalho lento e gradativo, difícil e em certas épocas lancinantemente doloroso. Devido a tais insuportáveis dificuldades, grupos se reúnem formando comunidades religiosas, para criar com isto, um contenedor, um suporte para o indivíduo poder baixar às suas próprias profundezas, às suas próprias sombras. Sem um contenedor, pode o processo tornar-se insuportável. Neste sentido, o consultório do analista é um contenedor por excelência. Para que a crisálida seja mantida viva, é preciso que esteja acontecendo a retirada das projeções.

Em seu livro “Puoi volare, Farfalla”, Marion Woodman, nos deixa algumas vozes da crisálida:
É difícil para mim, crer na vida...
O que estou fazendo com o meu tempo? Jogando- o fora? Não sei... não sei... esta solidão é terrível...
Estou sempre tentando ser o que não sou...
Estive tão ocupado fazendo que parece que perdi algo de muito precioso para mim...
Estou combatendo o meu destino... o que ele quer de mim?


São muitas vozes, muitos sons. Muitas vozes também convidam-nos a voar, uma delas é de W. Goethe:
“Há uma única Verdade elementar, cuja ignorância mata
inumeráveis idéias e explêndidos planos:
no momento em que, empenhamo-nos a fundo, também a Providência
então se move. Infinitas coisas ocorrem para ajudár-nos,
coisas que de outro modo, não poderiam nunca acontecer...
Qualquer coisa que possas fazer,
Ou imaginar poder fazer,
Começa-a .
A audácia tem em si gênio, poder, magia.
Começa agora”.
W.Goehte.
Sonia Regina Lyra crp – 08/0745.

Nenhum comentário: