Eu não gosto de política. Sobretudo política partidária. Chega a ser engraçado, porque meu pai foi Diretor Geral da Assembléia Legislativa (e, antes disso, Assessor Jurídico) e, portanto, eu cresci entre políticos. Ou talvez, por isso mesmo…
O caso é que discutir política, pra mim, é igualzinho a discutir futebol. Não existe racionalidade na escolha de um partido ou de um time. Nem adianta dizer que “os partidos têm uma ideologia, e refletem os valores de seus afiliados“. Balela! A única ideologia do político brasileiro, infelizmente, é se locupletar das vantagens do cargo e do dinheiro público. Aprendi isso muito cedo, ainda sob a ditadura, quando as pessoas eram ou Arena ou MDB. E eu perguntava a meu pai se só existiam essas opções “a favor” ou “contra” (“situação” e “oposição“, como ele dizia), os bons e os maus, no fim das contas – onde a ordem se alterava de acordo com o ponto de vista. Eu achava aquilo tãaaaaaaaaaao sem sentido! Eu via gente boa e gente sacana nos dois lados… Isso ficou ainda mais claro na hora do pluripartidarismo: foram pouquíssimos os que se mantiveram coerentes… E de política, na juventude, eu só gostava mesmo era dos Showmícios. De preferência os de Fernando Gondim (vereador de Olinda) ou os de Arraes porque tinha Chico Buarque.
Ao contrário do rótulo que tentaram me impingir muitas vezes, não sou alienada. Vejo os descalabros e fico tão indignada quanto qualquer militante. Talvez discorde da maneira de reagir, porque sou absolutamente avessa a violência, e frequentemente esses confrontos terminam em violência. Mas, justamente por não ser militante me abstenho de julgamento.
Acho infantil e cômodo jogar essa cultura política corrupta na herança colonial. Faça-me o favor! Se os terapeutas dizem que depois de adultos não podemos mais culpar nossos pais por nossos fracassos, imagina séculos depois! Até para aqueles que, como eu, acreditam na pluralidade de existências é um argumento vazio: se fomos nós mesmos os degredados corruptos do Brasil Colonial, tivemos 5 séculos pra progredir na escala da evolução. Nossos políticos são corruptos porque nosso povo impregnou-se da “Lei do Gerson” e no fundo aprova a atitude dos políticos porque eles representam o sonho popular de, também, tirar vantagem… Por falta de educação – de todos os tipos e a todos os níveis – nosso povo sequer entende que o patrimônio público é de todos. Ainda ecoa nos meus ouvidos a frase que todos nós escutamos milhares de vezes: “pode pegar, é publico“.
É claro que existem exceções. Concordo com Nelson Rodrigues quando ele diz que toda unanimidade é burra. E, Graças a Deus as exceções pro lado do bem estão crescendo e muito. Movimentos em prol da ética e dos Direitos Humanos têm se proliferado. E as redes sociais têm contribuído pra isso. Continuo optando pelo não engajamento, o que me permite transitar e divulgar e promover as causas que acho justas. E fico feliz por ver a quantidade de movimentos que me chegam através do Facebook e Twitter. Viva nós!
Voltando ao foco…
Essa visão equivocada do “manda quem pode“, intensificada pelo Coronelismo ou, como dizia Gilberto Freyre, a Escola do Mandonismo, e corroborada pela herança da ditadura gerou uma polícia absolutamente despreparada para lidar com gente. Como diz o ditado, “se quer saber o caráter de uma pessoa, dê poder a ela“. E a grande maioria de nossos policiais – militares ou civis – visa sobretudo isso ao entrar na corporação: poder.
Sim, eles arriscam a vida todos os dias e deveriam ganhar o suficiente para evitar a tentação da propina. Certo? Não. Pessoas que nem salário têm conseguem ser dignas. Eles deveriam ganhar melhor para estarem menos estressados no trabalho e diminuir um pouco o risco a que se expõem. Ponto. Quem mais aceita propina são os que têm maior salário no país. Além disso, os policiais deveriam ser melhor treinados. Não em termos táticos, que isso eles parecem nascer sabendo. Parece que bebem sangue no café da manhã e trituram cereais a socos. Mas deveriam aprender sobre GENTE, sobre direito, sobre VALORES HUMANOS, sobre dignidade. Até porque, grande parte de nossos policiais vem da mesma camada da população que eles tão desumanamente reprimem: das camadas mais pobres.
O contingente de jovens na idade militar é muito maior que o que pode ser absorvido – Graças a Deus!. Consequentemente, ficam aqueles que querem ficar. E um dos grandes atrativos é soldo. O outro, é o poder. De resto, pouca instrução formal, pouca educação em casa, muito sofrimento e privações em histórias de vida quase iguais às dos bandidos (pobres). E as péssimas condições de trabalho só apontam um caminho: o embrutecimento. De que outra forma suportar um cotidiano miserável, a incerteza de voltar pra casa e traficantes muito mais bem armados que a própria polícia?
Onde essa história nos leva? Ao abuso de autoridade – uma vez que o cidadão é sua única válvula de escape. Alguém pode me esclarecer se existe algum sistema de avaliação psicológica periódica na polícia? Porque terapeuta tem que fazer terapia antes de fazer atendimento clínico. Piloto passa por check-up (inclusive avaliação psiquiátrica) periodicamente. A gente faz teste psicológico pra tirar carteira de motorista. Mas, é policial, é avaliado? Nunca ouvi falar. Se existe esse cuidado, desculpem minha ignorância.
E aí, vemos barbaridades como a repressão na USP e, sobretudo, o Massacre de Pinheirinhos. Até quando vamos admitir esse tipo de abuso? Até quando vamos aceitar que “a polícia é despreparada” como se não houvesse opção? E até quando vamos nos eximir de nossa responsabilidade nesse despreparo, por elegermos políticos anti-éticos e corruptos que fecham os olhos a esses descalabros?
Manifesto reuniu mais de 5 mil pessoas contra o massacre de Pinheirinhos. (blog Sem Lorota, de Lara Tapety)
Maravilha! Mas ele já aconteceu. E nada vai devolver a vida ou os pertences dos moradores massacrados. Ou tirar a dor de seus corpos e de seus corações. Para prevenir coisas desse tipo, temos que, também, cuidar das bases: educação, direitos, fazer cumprir as leis, exigir um treinamento humano para aqueles que devem nos proteger. Reformar o Congresso, ter cuidado ao eleger…
É toda uma postura de vida que precisa ser revista. Porque apontar o dedo é fácil. Se eu posso julgar você é porque não cometo esses erros, logo, sou melhor que você. Difícil é ver os erros, avaliar a parcela de responsabilidade de cada um e procurar soluções efetivas. Aproveitem o vídeo para pensar: ontem USP, hoje Pinheirinhos. E amanhã, onde vai ser?
Aí, sim, esse slogan demagogo pode se tornar realidade e quem sabe a gente vai ter
um Brasil para Todos.
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