( por Ledusha Spinardi )
Já revirei o mundo com olhos e língua em riste. Agora sobra o delicado gesto. Resto de linho que de tão gasto esqueceu qualquer aspereza.
Na gaveta também repousam as cenas que fazem da minha memória uma preciosidade.
Para o mar, as naves.
Para os véus, as chaves.
Para o céu, as aves.
Pairam nos fiapos desse abril sem planos só algumas frases. Vaza uma voz entre os lilases: “Por onde piso vão crescendo as palavras. É o sonho do poeta.” Não me lembro onde li ou mesmo se li - o que importa? – isso que se parece com tudo que confesso e me estende.
Desnuda, sem asas previdentes, estremeço gozando o viço do vôo para o vácuo irresistível, de onde nunca poderei saber se volto.
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