domingo, 9 de junho de 2013

O facebook, o pensamento social e o compartilhar. Um ponto.


Unicorn Grocers in Chorlton, Manchester

Ethical economies of scale – can they really work?


100% envolvida no processo de pensar a cidade, a vida em comunidade, a necessidade do ser humano de repensar a distribuição das riquezas e a produção desde meu primeiro Congresso de Arquitetura em 1979, envolvi-me nos últimos anos de facebook com outras pessoas que vibram com a mesma sintonia: em busca de uma sociedade equânime e justa, onde os valores do consumismo irracional, o egocentrismo, o lucro e a necessidade de explorar para sentir-se bem sucedido e o desenvolvimento a qualquer custo não sejam mais entendidos como um bem ou necessidade para a humanidade.

E o facebook certamente tem uma função determinada pela espiritualidade que coordena a vida neste planeta. É incrível como nos vem sempre pessoas especialíssimas com quem podemos compartilhar ideais, discutir pensamentos e encontram-se, mundo afora, soluções para questões que podem vir a se tornarem factíveis para todos.

Para tanto, devagarinho, espera-se que a consciência de cada um se expanda com o todo, que os valores se regenerem e que os seres passem a perceber-se no outro.
Sempre compartilho aqui neste espaço as ideias que os amigos compartilham. Claro que com respeito aos créditos das citações, ideias e fontes.

Ontem, decepcionada com as postagens sujas, doentias, que considero profundamente equivocada, havia decidido eliminar meus perfis no facebook. Lá mantenho contato com muitos dos amigos que tenho encontrado em minhas andanças desde que passei a me entender por gente. Certamente é meu link com minha história de vida e compreensão de mundo.

Todos os processos históricos que nosso pais tem vivido tem nos levado a abrir mão de nossas riquezas, de nossa soberania, de nosso pródigo destino. É que a miséria da condição humana escraviza os bravos lutadores que se engajam em campanhas políticas e assumem lideranças, certos de que irão, de alguma maneira, dar sua contribuição. Mas a força das corporações escravizadoras tem vencido as batalhas. Afinal, por aqui não tempos homens-aranha, homens- morcego, capitães-brasil capazes de levar tantos coringas e vilões ao lugar que lhes cabe.

De vez em quando, no nosso caminho em busca da sociedade mais justa, encontramos homens e mulheres bem intencionados, intencionadas. Ai a gente ganha novo ânimo, entusiasmo e se entrega a elaborar propostas, soluções para problemas que, de fora, percebemos com enorme simplicidade de solução. A dificuldade é que o ego, aquele bicho enorme que se instala no peito dos eleitos, começa a corroer as almas, corromper os espíritos, de um jeito tão doentio que a maioria sucumbe em nome da manutenção do poder. Afinal, alianças são feitas, acordos fechados, financiamentos liberados para se chegar ao controle e tomar nas mãos as canetas do poder e, assim, mesmo os bem intencionados, cedo ou tarde, sucumbem diante das corporações, dos lobbies e dos grupos sanguessugas da sociedade, da cidade, do planeta.

Mas hoje surgiu uma situação publicada por um amigo especialíssimo do meu face que resolvi reativar num momento de introspecção. Refere-se ao “Supermercado das Pessoas”, uma situação desenvolvida na Inglaterra e pode ser adotada por qualquer sociedade que tem vontade de compartilhar vida de maneira mais justa.

Obrigada, Kirttan!
Segue a postagem.

Entenda como funciona um supermercado colaborativo, que não visa ao “lucro pelo lucro”
Lydia Cintra 24 de janeiro de 2012 

Ideias inovadoras são aquelas que desafiam a lógica do que está estabelecido entre as pessoas. E por serem inovadoras, quebram o conforto do que é conhecido e propõem uma forma diferente (e melhor, muitas vezes) de pensar e agir.
Quando o assunto é supermercado, as coisas funcionam mais ou menos assim: existe um dono. Este dono paga funcionários que mantêm os processos em funcionamento (limpeza, estoque, logística, caixa…). O espaço fica aberto para receber clientes, que escolhem os produtos dispostos em prateleiras, pagam por eles e vão embora.
Em Londres, um grupo de pessoas decidiu fazer diferente e romper com este roteiro pré-determinado. A primeira explicação está no nome: The People’s Supermarket, ou, O Supermercado das Pessoas. A ideia foi desenvolvida no começo de 2009 por Arthur Potts-Dawson, Kate Bull e David Barrie, inspirado no exemplo do Park Slope Food Co-operative, da cidade de Nova York, EUA.
Neste novo modelo, as pessoas tornam-se membros do negócio (e cada membro é também dono) e oferecem horas de trabalho voluntário. Assim, ganham, entre outras coisas, o direito a descontos nas compras. Além do preço menor para os membros, os produtos já têm o valor reduzido, uma vez que o quadro de funcionários fixos é bem pequeno em relação a um supermercado comum.
Segundo os criadores do “Supermercado das Pessoas”, o objetivo “é criar um comércio sustentável, uma empresa social que alcança o crescimento e as metas de rentabilidade enquanto opera dentro de valores baseados no desenvolvimento da comunidade”.

Conheça 15 características do The People’s Supermarket e entenda como funciona essa nova forma de comprar:
1. Não há bônus para chefes. Ou seja, não há a concentração da renda e dos lucros. Você pode se perguntar: como viver sem lucro? A ideia é justamente pensar fora da caixa e muitas vezes de forma antagônica ao que é considerado “natural”. Uma margem de lucro menor muitas vezes simplifica as coisas. Dinheiro nem sempre é a forma mais interessante de lucro;
2. A lógica é o alimento PARA as pessoas e PELAS pessoas. Não existe consumidor final. Existem pessoas que consomem e fazem a coisa acontecer. Segundo o Manual dos Membros, a ideia é a criação de um supermercado “que destaca as possibilidades do poder do consumidor e desafia o ‘status quo’.”
3. Quem é membro também é dono do negócio e tem poder de decisão. “Quando você se torna um membro, começa a dividir a propriedade do negócio. Quando você anda em um supermercado tradicional, anda na loja de alguém. Quando é um membro, anda dentro da sua própria loja”, diz o Manual.
4. Qualquer pessoa pode comprar no supermercado. Porém, quem se torna um membro tem alguns benefícios, direitos e responsabilidades a cumprir, como: pagar uma taxa anual de 25 libras, trabalhar voluntariamente em um turno de 4 horas a cada 4 semanas, comprar regularmente no (seu) supermercado, fazer “marketing boca-a-boca” (ou seja, falar do The People’s Supermarket para amigos, colegas, conhecidos, família…) e manter-se informado sobre o que está acontecendo na empresa.
5. Dedicação, energia e engajamento são as características esperadas para quem quer ser (ou já é) um membro;
6. Uma das intenções é conectar a população urbana com a comunidade rural local, provedora dos alimentos que abastecem as cidades;
7. É importante considerar que as pessoas estão prontas para as mudanças. Por isso, novos modelos de consumo devem ser colocados em prática e naturalmente serão bem aceitos pela população (ou pelo menos por parte dela);
8. Um dos propósitos do negócio é um supermercado que atenda as necessidades dos membros da comunidade oferecendo alimentos saudáveis e de alta qualidade, por preços razoáveis;
9. As compras são feitas de fornecedores confiáveis, com os quais o supermercado cria boas relações;
10. A produção de alimentos local, nas proximidades de Londres, tem preferência. Uma das regras é comprar produtos britânicos sempre que possível;

People’s Kitchen, a cozinha criada para evitar desperdícios
11. Um dos principais objetivos é reduzir ao máximo o desperdício de alimentos. Uma das formas encontradas para isso foi a criação de uma “cozinha-restaurante” que prepara pratos com alimentos que estão com a data de vencimento próxima. As refeições devem ser nutritivas e saudáveis, sem conservantes e açúcar em excesso, para os clientes levarem prontas para casa.
12. Ainda para evitar o desperdício, o supermercado faz compostagem, processo de produção de adubo feito com resíduos orgânicos;
13. Como valores do negócio, o supermercado proporciona treinamentos de habilidades para seus funcionários e voluntários que podem ser aplicados tanto no trabalho quando fora dele. A empresa, a partir deste prisma, deve ser um recurso de desenvolvimento para a comunidade como um todo;
14. O ambiente de trabalho é feito para que todos deem sua contribuição. Todos são bem-vindos e livres de julgamento. E qualquer um pode ser membro. Não há razões sociais, políticas ou religiosas que impeçam uma pessoa de fazer parte;
15. O local não vende cigarro.

Uma nova forma de estabelecer relações de compras passa pelo envolvimento de pessoas da comunidade no funcionamento do estabelecimento. Dessa forma, as pessoas se “apropriam” daquilo que faz parte do dia-a-dia (no caso, um supermercado) e fazem com que ele seja mais do que prateleiras que oferecem opções de (quase) tudo.
O modelo do The People’s Supermarket é interessante do ponto de vista da co-criação: pessoas, juntas, criam um espaço saudável de trabalho que substitui de forma bastante eficiente o modelo de consumo passivo que conhecemos hoje – que é, também, mais agressivo ao meio ambiente a às relações sociais estabelecidas dentro desse sistema.
Este espaço saudável inclui o sorriso que você dá para aquele vizinho que agora é colega de trabalho voluntário e organiza frutas nas gôndolas com você, inclui o cuidado maior que as pessoas aplicam naquilo que fazem quando o resultado está diretamente ligado a elas mesmas e a pessoas próximas e inclui, por fim, a sensação (agradável) de que o que está sendo feito gera um bem comum e não apenas o lucro pelo lucro.
Ou seja, um ambiente participativo é menos impessoal, mais caloroso e mais sustentável nas relações entre pessoas e meio ambiente.
(Imagens: Facebook/ The People’s Supermarket)

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