terça-feira, 30 de agosto de 2011

Como o sistema financeiro mundial criou a dívida

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos experimentando na crise atual. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.



O colapso econômico é iminente. Os países mais industrializados do mundo enfrentam uma grande crise da dívida provocada pela crise do crédito de 2008, após a crise das hipotecas imobiliárias e a queda do Lehman Brothers. Estas crises originadas por um colapso do crédito costumam ser muito mais prolongadas e profundas que as crises desencadeadas por um surto inflacionário. Grande parte do mundo enfrenta este tsunami da dívida à beira da bancarrota, como acontece com Grécia, Irlanda e Portugal. No entanto, podemos falar de bancarrota quando estes países possuem enormes riquezas em capital humano e recursos produtivos? De acordo com o atual sistema financeiro, sim. E é por isso que os serviços públicos estão sendo cortados e os bens públicos privatizados.

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos a experimentar na crise atual: a destruição do sistema financeiro que temos conhecido, dado que não tem nenhum tipo de saída pelas vias convencionais. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

Para compreender isto, há que referir que o sistema financeiro tem funcionado sempre como um gigantesco esquema ponzi, onde os novos devedores permitem manter a velocidade do crédito. Se se produz um colapso dos novos devedores, o sistema fica sem a opção de conceder mais crédito e, à medida que esta opção se cristaliza com o tempo, o sistema inteiro entra em colapso e requer injeções de liquidez na esperança de que os fluxos voltem à normalidade. A habituação do dna coletivo à dependência do crédito produziu este retorno à normalidade durante várias décadas. Mas até o dna acusa fadiga e nesta co-dependência ao crédito recorda os sintomas da escravatura: é a escravatura da dívida.

A criação de dinheiro através do sistema de reserva fracionada
Os bancos centrais são os responsáveis pela oferta monetária primária, ou base monetária, conhecida também como dinheiro de alto poder expansivo. Este dinheiro de alto poder expansivo é o que chega aos bancos privados, que são quem o reproduz pela via do crédito. A reprodução do dinheiro original depende da taxa de encaixe, ou reservas mínimas requeridas, que produz o efeito inverso: quanto menor é a exigência de reservas, maior é a quantidade de dinheiro que a banca privada cria. Isto conhece-se como o multiplicador monetário e a sua fórmula, muito simples, é m=1/r, onde m é o multiplicador monetário e r o nível de reservas exigidas em percentagem.

Deste modo, perante um nível de reservas de 50% (r=0,5 na equação), o multiplicador monetário é 2, como era nas origens da banca inglesa no ano de 1630. Se o nível de reservas é de 20%, o multiplicador monetário é 5 e se as reservas exigidas são de 10%, o multiplicador é 10 (m=1/0,1), o que indica que está a multiplicar-se dez vezes a quantidade de dinheiro real oferecida pelo banco central.

Grande parte da desregulamentação financeira promovida desde os anos 80 consistiu em dar aos bancos a maior das liberdades para o montante das suas reservas. Deste modo, a clássica norma de reservas em torno de 10% ou 20% foi reduzida a níveis de 1%, e mesmo inferiores, como aconteceu com Citigroup, Goldman Sach. JP Morgan e Bank of America, que, nos momentos mais sérios, afirmavam ter uma taxa de encaixe de 0,5%, com o qual o multiplicador (m=1/0,005) permitia criar 200 milhões de dólares com um só milhão em depósito. E no período da bolha, as reservas chegaram a ser inferiores a 0,001%, o que indica que por cada milhão de dólares em depósito real, se criavam 1.000 milhões do nada.

Esta foi a galinha dos ovos de ouro para a banca. Uma galinha que era de todas as formas insustentável e que foi assassinada pela própria cobiça dos banqueiros que se aproximaram do crescimento exponencial do dinheiro até que este entrou em colapso, demonstrando que toda a ficção se asfixia na conjectura e nada é senão o que é. A solução que os bancos centrais ofereciam era muito simples: mal havia um aumento da inflação, elevavam a taxa de juro para assim encarecerem o crédito e bloquearem os potenciais novos empréstimos (cortando, desta forma, potenciais novos empréstimos) e incentivando, a taxas mais altas, o “aforro” seguro dos prestamistas.

Entende-se agora o abismo em que estamos e por que razão governos e bancos centrais correm a tapar esses enormes buracos que o dinheiro falsamente criado deixou? Entende-se por que razão a Fed e o BCE correm a resgatar o lixo dos ativos tóxicos criado neste tipo de operações? Se ainda há dúvidas, deixo aqui este vídeo (ver acima) que pode ajudar a compreender parte importante deste fenômeno. Este documento foi realizado em 2006 e contém sérias advertências que não foram ouvidas nem pelos governos nem pelas pessoas. Por algo será.

(*) Artigo publicado em El Blog Salmón, traduzido por Ana Bárbara Pedrosa para esquerda.net

NAMASTÊ !!

Gayatri Mantra

 "Eu Saúdo aquele Ser, possuidor da efulgência divina e que é a causa e sustentação de todos os planos da existência.Que minha mente esteja sempre fixa e absorvida Nele e que Ele possa iluminar, purificar e inspirar meu intelecto."

OM
BHUR BHUVAH SVAH
TAT SAVITUR VARENYAM
BHARGO DEVASYA DHEEMAH
DHIYO YO NAHA PRACHODAYAT



O Gayatri mantra é, junto com o OM, o mantra mais conhecido e cantado na Índia.
Ele representa a essência do conhecimento védico e foi recebido e depois ensinado pelo sábio Vishwamitra.

Certo dia, o rei Viswamitra estava caçando nas florestas do Himalaia e chegou nas proximidades do eremitério do sábio Vasishtha. As tropas do rei estavam cansadas e famintas.
Vasishtha saldou o rei e pediu a Kamadhenu, sua vaca que podia conceder todos os desejos, que provesse alimento para o rei e suas tropas.
Vishwamitra ficou impressionado com a vaca mágica e pensou que essa  vaca poderia das conta de todas as necessidades dele, de suas tropas e de seu reino. Se aproximando de Vasishtha ele pediu a vaca como presente as o sábio respondeu egativamente, dizendo que somente aqueles que eram realizados na verdade de Brahman poderiam ter a vaca.
Vishwamitra ficou muito ofendido e se enfureceu, ordenando que suas tropas tomassem a vaca a força.Vasishtha então ordenou à vaca que produzisse milhares de guerreiros celestiais, que deram uma lição nas tropas de Vishwamitra, as espantando do eremitério.
Percebendo o que ocorreu, Vishwamitra realizou que toda a sua opulência, armas e exércitos não valia de nada perto da realização yogue de um Brahmarishi (título concedido aos mais altos sábios realizados em Brahman, como Vasishtha). Vishwamitra resolveu ele próprio se tornar um Brahmarishi, abandonando seu reino e adentrando as florestas do Himalaia para praticar meditação profunda em Brahman.

Por muitos anos ele praticou exercícios espirituais e meditação, conseguindo grande poderes yogues.
Vendo o avanço de Vishwamitra, Indra, o deus celestial, se assustou e temeu que Vishwamitra pudesse o suceder no comando dos céus. Assim, enviou uma bela ninfa para distrair a meditação de Vishwamitra.
O rei se viu vítima da paixão e se enamorou da ninfa, que engravidou e deu a luz a uma linda menina. Quando se deu conta de que a luxúria havia consumido todos os anos de esforço e meditação, Vishwamitra renunciou sua esposa e filha e mais uma vez entrou em meditação profunda.

Desta feita, Vishwamitra conseguiu poderes ainda maiores e Indra, mais uma vez mandou uma ninfa, que tentou atrapalhar a meditação de Vishwamitra. Tendo sucesso em sua empreitada a ninfa se aproximou do rei, que por sua vez se lembrou da experiência passada e ficou cheio de raiva contra a ninfa por ela ter quebrado sua meditação profunda.Vishwamitra, então, transformou a ninfa numa pedra.
Foi só então que Vishwamitra percebeu que a raiva e ira haviam consumido todos os anos de sua intensa prática espiritual.Mas com perseverança inquebrantável, Vishwamitra subiu mais alto no Himalaia e entrou mais uma vez em meditação profunda.

Durante esse período, um outro rei se aproximou do sábio Vasishtha e pediu a ele para realizar um grande sacrifício do fogo para que o ajudasse a atingir o paraíso com seu corpo carnal e com sua consciência atual, o que Vasishtha recusou prontamente.
Ofendido e revoltado o rei, chamado Trishunku, se aproximou de Vishwamitra.

Vishwamitra viu nesse encontro uma oportunidade de ser vingar de Vasishtha, mostrando seus poderes yogues.
Feito o sacrifício do fogo, Vishwamitra mandou o rei ao plano de Indra, com corpo e consciência terrena.
Sabendo ser impossível manter o rei no plano de Indra com o corpo e consciência terrena, Vishwamitra o trouxe de volta, mas enquanto descia das alturas celestiais o rei Trishnku chorou e orou para que Vishwamitra o salvasse.
Vishwamitra concedeu a salvação ao rei, criando um sistema estelar apenas para o rei. Ou seja, o seu poder era tão grande que ele criou umcéu/paraíso apenas para o rei.Mas ao fazer isso, Vishwamitra percebeu que todo o esforço de sua meditação e exercícios espirituais intensos foram em vão.

Mais uma vez ele se viu decepcionado e vez o voto de não sair mais de sua meditação profunda.
Quando Vishwamitra se deu por satisfeito com sua prática, Brahma em pessoa apareceu ante ele e disse que estava muito satisfeito com a intensidade da prática de Vishwamitra, concedendo-lhe o título de Maharishi (Grande Sábio). Entretanto, Brahma lhe avisou que para se tornar um Brahmarishi ele deveria ser abençoado pelo Sábio Vasishtha. Ao dizer isso, Brahma desapareceu.Mesmo atingido o estado de Maharishi, Vishwamitra se frustrou ao pensar que depois de tudo ainda teria que recorrer ao sábio Vasishtha para ser abençoado.

Com ciúme da posição de Vasishtha ele pensou que se o matasse ele não precisaria das bênçãos para se tornar um brahmarishi.Espreitando a casa de Vasishtha ele pegou uma grande pedra para atirar na cabeça de Vasishtha.
Mas quando estava próximo ele escutou a esposa de Vasishtha, Arundhati, dizendo que já que Vishwamitra havia se tornado um grande homem, ele deveria abençoá-lo e assim elevá-lo ao estado de Brahmarishi. Vasishtha concordou e disse que assim que Vishwamitra o procurasse ele concederia sua benção.

Ao ouvir isso, Vishwamitra se sentiu profundamente envergonhado, lançou a pedra longe e correu para se curvar diante do grande sábio.
Assim, Vasishtha disse a Vishwamitra: "Você mostrou ao mundo que o espírito humano é invencível e não aceita derrota. Você conquistou a luxúria, os desejos, o apego e arrogância, um por um, através de suas intensas práticas espirituais e meditação. A última barreira era o ciúme. Agora você o conquistou também. Salve Brahmarishi Vishwamitra! "
Assim que Vasishtha tocou o ponto entre as sobrancelhas de Vishwamitra, seu chakra frontal se expandiu e ele viu os sete ritmos pelos quais o Cosmo foi criado.

Nesse exato momento, o Gayatri Mantra junto com os sete Vyahritis (lit. ritmos, mas são os sete planos de manifestação consciencial) foi revelado a ele.
Vishwamitra tem como tradução possível "amigo (mitra) do Universo (vishwa)".

Gayatri é um dos aspectos da deusa Saraswati, esposa de Brahma e que
representa o seu poder criativo ou shakti. Saraswati é mitologicamente representada como a protetora e inspiradora das artes, música, literatura e ciência. No entanto, esotericamente ela representa o potencial de expressão da mente humana.

A palavra Gayatri é composta de duas palavras:
Gaya= Florescer, abundar, energizar (vitalizar), energia vital.
Trâyate =o que protege; o que concede a liberação.

OM: de forma simplista podemos dizer que ele é o som primordial, a
fonte de toda a criação. Um dos outros nomes pelo qual é conhecido é
PRANAVA ou "substrato da vida, princípio vital".
O OM é a base de onde toda a criação tem existência. Ele é o
substrato de todo o Conhecimento, é o "pano de fundo" onde o potencial criativo se manifesta.
Não podemos aprofundar o assunto aqui, mas o OM é produto da Shakti,
ou Poder Criativo da Consciência [Brahman].
Somente a explicação desse mantra daria um livro, mas para o nosso
estudo a definição acima basta.

BHUR BHUVAH SVAH: são 3 das 7 Vyahritis (lit. "palavras, dizeres")
percebidas pelo sábio Vishwamitra. Representam 3 dos 7 planos de
manifestação da Consciência.

As vyahritis mais o OM são usadas como uma introdução ao mantra.

BHUR é tradicionalmente associada ao plano físico. Esotericamente é
a "espiritosfera" (neologia usada para descrever a amplitude
da "atmosfera espiritual" pertinente ao planeta, corpo celeste ou
parte/ambiente sideral) do planeta Terra.

BHUVAH é lit. "atmosfera". Esotericamente é a espiritosfera
imediatamente superior à nossa. Segundo a tradição seria o espaço
entre o Sol e a Terra e entre a Terra e os outros planetas. Para o
pensamento hindu, todos os planetas são habitados e ao mesmo tempo
são consciências distintas, sendo Júpiter o mais avançado
(espiritualmente) de todos (em nosso sistema solar).
Lê-se "buvarrá". Em alguns casos, onde o `h' final não é
pronunciado, é "buvá".

SVAH: é o Paraíso, o plano mais alto em nosso sistema. Esotericamente é associado ao Sol, que segundo os sábios é o "limite da onisciência" (Ishwara) de nosso sistema. É ele o portador de todos os referenciais de conhecimento que possuímos. Para um aprofundamento recomendo ler com atenção o Yoga Sutras de Patanjali. Infelizmente não poderemos aprofundar esse tema aqui, pois ele é extenso e tem correlação com a manifestação consciencial desde Brahman até o mundo físico.Lê-se "suvarrá". Em alguns casos pode ser lido como "isvárra".

As vyahrits são interpretadas de várias maneiras, dependendo do ponto de vista filosófico.

Elas também podem ser interpretadas da seguinte maneira:
Bhur: Rig Veda
Bhuva: Sama Veda
Svah: Yajur Veda

Ou ainda como sendo relacionados aos cinco pranas que fluem no corpo
humano:
Bhur: Prana (região peitoral)
Bhuva: Apana (região sacra)
Svah: Vyana (permeando o corpo todo)

Essa abordagem é bem fundamentada nas disciplinas Tântricas do Hatha-Yoga e do Kriya Yoga.
É outra abordagem que requer uma explicação mais detalhada, mas infelizmente não é possível nesse momento, visto que todo o
conhecimento de bioenergia fundamentada no Kundalini Yoga, Laya Yoga,
enfim, no Tantra teria que ser explicado.


SIGNIFICADO EXOTÉRICO

1)Tat: Sabedoria Profunda (Brahma Jñana)
2)Sa: Bom uso da energia
3)Vi: Bom uso da riqueza
4)Tu: Coragem durante períodos ruins / acidentes
5)Va:A grandiosidade do convívio amigável com as mulheres
6)Re:A grandiosidade da esposa, que concede toda a fortuna à família
7)Nyam: Adoração e respeito à Natureza
8)Bhar: Controle Mental constante e firme
9)Go: Cooperação e Paciência
10)De: Todos os sentidos sob controle
11)Va: Vida Pura
12)Sya: Unidade do homem com Deus
13)Dhee: Sucesso em todas as esferas
14)Ma: Justiça Divina e Disciplina
15)Hi: Conhecimento
16)Dhi: Vida e morte
17)Yo: Seguir o caminho da retidão
18)Yo: Manutenção da Vida
19)Nah: Cautela e Segurança
20)Pra: Conhecimento das coisas que estão por vir e Doação para o bem
21)Cho: Leitura das escrituras sagradas e Associação com os sábios
22)Da: Auto Realização e Bem Aventurança
23)Ya: Boa Progênie
24)At: Disciplinas da vida e cooperação

As outras 4 Vyahrits são: Mahaha, Janah, Tapah, Satyam.

TRADUÇÃO APROXIMADA

TAT: Lit. Aquele, aquela (aqui refere-se à Savitri). Lê-se "Tat" (com
t mudo).

SAVITUR: De Savitri, o esplendor do Sol, o brilho solar, os raios
solares, a força solar. Em muitos casos Savitri é associado ao deus
do Sol (Surya). Ela seria a shakti (poder) de Surya.
De forma esotérica representa o Criador, Sustentador, o todo
penetrante.

VARENYAM: Desejável, excelente, o melhor entre

BHARGO: efulgência, esplendor, luminosidade (que destrói os pecados), brilho, glória.

DEVASYA: Divino, relativo à divindade. Lê-se "devássia".

DHEEMAH: Meditar sobre; relativo à meditação. Lê-se "dimarri".

DHIYO: pensamentos elevados ou nobres, intuição profunda, iluminar
(revelar a Realidade Última). Lê-se com o i duplo, "diio".

YO: o que, o qual.

NAH: nosso, de nós, unir, junto, nó. Lê-se "narrá", com o "á" curto, como em água.

PRACHODAYAT: de prach (pedir, demandar) + codate[chodayate] (animar,
inspirar, colocar em movimento), portanto a tradução seria algo como
possa inspirar, possa animar. Lê-se "prachodaiáte" .

http://www.anjodeluz.com.br/gayatri2.htm

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)
da  Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948

Preâmbulo

        Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,   
        Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,   
        Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,   
        Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,   
        Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,   
        Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,   
        Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mis alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,    

A Assembléia  Geral proclama  

        A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. 
 
Artigo I 

        Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.  
Artigo II 

        Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 

Artigo III 

        Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV 

        Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.    

Artigo V 

        Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI 

        Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.   
Artigo  VII
        Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.    

Artigo VIII 

        Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem  os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.    

Artigo IX 

        Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.    

Artigo X 

        Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.  
 
Artigo XI 

        1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.   
        2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII
        Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII 

        1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.   
        2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV 

        1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.   
        2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV 

        1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.   
        2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI 

        1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.   
        2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

Artigo XVII 

        1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.   
        2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII 

        Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX 

        Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX 

        1. Toda pessoa tem direito à  liberdade de reunião e associação pacíficas.   
        2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI 

        1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.   
        2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.   
        3. A vontade do povo será a base  da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo  equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII 

        Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII 

        1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.   
        2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.   
        3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.   
        4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV 

        Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.

Artigo XXV 

        1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.   
        2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI 

        1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.   
        2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.   
        3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII
        1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.   
        2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XVIII 

        Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e  liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIV 

        1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.   
        2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.   
        3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX 

        Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição  de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.



Com amor. . .

"Sabe o que eu quero de verdade?!
Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela
arranhe um pouco a alma.
Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma..."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Todo jardim . . .

. . .começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Rubem Alves

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A enxurrada de enganosas grandes ideias

No mundo pós-ideia, recebemos trilhões de dados, muitas vezes insignificantes, sem parar para pensar

Neal Gabler, do The New York Times - O Estado de S.Paulo
 
O número de julho/agosto de The Atlantic alardeia as "14 Maiores Ideias do Ano". Prenda o fôlego. As ideias incluem "Os jogadores são os donos do jogo" (n.º 12), "Wall Street: a mesma de sempre" (n.º 6), "Nada permanece secreto!" (n.º 2), e a maior de todas do ano, "A ascensão da classe média - só que não a nossa", que se refere às economias em crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China.

Pode soltar o ar. O leitor deve achar que nenhuma dessas ideias parece particularmente de tirar o fôlego. Nenhuma delas, aliás, é uma ideia.
Elas são mais observações. Mas não se deve culpar The Atlantic por confundir lugares comuns com visão intelectual. As ideias simplesmente não são o que costumavam ser. Em um passado distante, elas podiam acender debates, estimular outros pensamentos, incitar revoluções e mudar fundamentalmente as maneiras como observamos e pensamos o mundo.

Elas podiam penetrar na cultura geral e transformar pensadores em celebridades - notadamente Albert Einstein, mas também Reinhold Niebuhr, Daniel Bell, Betty Friedan, Carl Sagan e Stephen Jay Gould, para citar alguns. As próprias ideias podiam se tornar famosas: por exemplo, "o fim da ideologia", "o meio é a mensagem", "a mística feminina", "a teoria do Big Bang", "o fim da história". A grande ideia podia ganhar a capa da revista Time - "Deus está morto?" - e intelectuais como Norman Mailer, William F. Buckley Jr. e Gore Vidal seriam eventualmente convidados para as poltronas dos talk shows de fim de noite. Isso foi há uma eternidade.

Se nossas ideias parecem menores hoje, não é porque somos mais burros do que nossos antepassados, mas simplesmente porque não ligamos tanto para as ideias quanto eles ligavam. Aliás, estamos vivendo cada vez mais em um mundo pós-ideia - um mundo em que as ideias grandes, as que fazem pensar, que não podem ser instantaneamente monetizadas, têm tão pouco valor intrínseco que menos pessoas as estão gerando e menos canais as estão disseminando, a despeito da internet. As ideias ousadas estão praticamente fora de moda.

Argumento lógico. Não é segredo, especialmente nos Estados Unidos, que vivemos numa era pós-Iluminismo na qual racionalidade, ciência, argumento lógico e debate perderam a batalha em muitos setores e, talvez, até na sociedade em geral, para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Embora continuemos fazendo avanços tecnológicos gigantescos, podemos estar na primeira geração que girou para trás o relógio da história - que retrocedeu intelectualmente de modos avançados de pensar para os velhos modos das crenças. Mas pós-Iluminismo e pós-ideia, embora relacionados, não são exatamente a mesma coisa.
Pós-Iluminismo refere-se a um estilo de pensar que já não mobiliza as técnicas do pensamento racional. Pós-ideia refere-se ao pensar que não é mais feito, independentemente do estilo.

O mundo pós-ideia vem se aproximando faz tempo, e muitos fatores contribuíram para isso. Vemos o recuo nas universidades do mundo real, e um encorajamento, e premiação, da especialização mais estreita em lugar da ousadia - de cuidar de plantas envasadas em vez de plantar florestas.

Vemos o eclipse do intelectual público na mídia em geral pelo sabichão que substitui extravagâncias por ponderação, e o concomitante declínio do ensaio em revistas de interesse geral. E temos a ascensão de uma cultura cada vez mais visual, especialmente entre os jovens - uma forma menos favorável à expressão de ideias.
Mas esses fatores, que começaram há décadas, foram mais provavelmente arautos do advento de um mundo pós-ideia que suas causas principais.
Vivemos na muito alardeada Era da Informação. Por cortesia da internet, temos a impressão de ter acesso imediato a tudo que alguém poderia querer saber. Certamente somos mais bem informados em história, ao menos quantitativamente. Há trilhões e trilhões de bytes circulando no éter - tudo para ser colhido e ser objeto de pensamento.

E é precisamente essa a questão. No passado, nós colhíamos informações não só para saber coisas. Isso era apenas o começo. Nós também colhíamos informações para convertê-las em alguma coisa maior que fatos e, em última análise, mais útil - em ideias que explicavam as informações. Buscávamos não só apreender o mundo, mas realmente compreendê-lo, que é a função primordial das ideias. Grandes ideias explicam o mundo e nos explicam uns aos outros.

Karl Marx chamou a atenção para a relação entre os meios de produção e nossos sistemas sociais e políticos. Sigmund Freud nos ensinou a explorar nossas mentes como meio para compreender nossas emoções e comportamentos. Einstein reescreveu a física. Mais recentemente, Marshall McLuhan teorizou sobre a natureza da comunicação moderna e seu efeito na vida moderna. Essas ideias permitiram que nos desprendêssemos de nossa existência e tentássemos responder as grandes e atemorizantes questões de nossas vidas.

Mas se a informação foi um dia um alimento de ideias, na última década ela se tornou sua concorrente. Estamos como o agricultor que possui trigo demais para fabricar farinha. Somos inundados por tanta informação que não teríamos tempo para processá-la mesmo que o quiséssemos, e a maioria de nós não quer.
A coleta em si é cansativa: o que cada um de nossos amigos está fazendo neste particular momento, e no momento seguinte, e no seguinte; com quem Jennifer Aniston está saindo agora; qual video se tornará viral no YouTube neste momento; o que a princesa Letizia ou Kate Middleton estão usando hoje. Aliás, estamos vivendo dentro da nuvem de uma Lei de Gresham informática onde informações triviais expulsam informações significativas, mas trata-se também uma lei de Gresham nocional em que as informações, triviais ou não, expulsam ideias.
Preferimos conhecer a pensar porque o conhecer tem mais valor imediato.
Ele nos mantém "por dentro", nos mantém conectados com nossos amigos e nossa tribo. As ideias são tão etéreas, tão pouco práticas, trabalho demais para recompensa de menos. Poucos falam ideias. Todos falam informação, geralmente informação pessoal. Onde é que você vai? O que está fazendo? Quem você anda vendo? Estas são as grandes questões de hoje.

Não é por acaso, com certeza, que o mundo pós-ideia brotou com o mundo das redes de relacionamento social. Apesar de haver sites e blogs dedicados a ideias, Twitter, Facebook, Myspace, etc ., os sites mais populares na web, são basicamente bolsas de informações destinadas a alimentar a fome insaciável de informação, embora essa dificilmente seja do tipo de informação que gera ideias. Ela é, em grande parte, inútil exceto na medida em que faz o possuidor da informação se sentir, bem... informado. Evidentemente, pode-se argumentar que esses sites não são diferentes do que a conversa era para gerações anteriores, e a conversa raramente criava grandes ideias, e se estaria certo.

Mas a analogia não é perfeita. Em primeiro lugar, os sites de relacionamento social são a principal forma de comunicação entre jovens, e estão suplantando os meios impressos, que é onde as ideias eram tipicamente gestadas. Depois, os sites de relacionamento social criam hábitos mentais que são inimigos do tipo de discurso deliberado que dá origem a ideias. Em lugar de teorias, hipóteses e argumentos importantes, obtemos tuítes instantâneos de 140 caracteres sobre comer um sanduíche ou assistir um programa de TV.
Universo intelectual. Embora as redes sociais possam alargar o círculo pessoal de alguém e até apresentá-lo a estranhos, isso não é mesma coisa que alargar o universo intelectual pessoal. Aliás, a tagarelice das redes sociais tende a encolher o universo da pessoa a ela mesma e seus amigos, enquanto pensamentos organizados em palavras, seja online seja na página impressa, alargam o foco pessoal.

Parafraseando o ditado famoso, geralmente atribuído ao jogador de beisebol americano "Yogi" Berra, de que não dá para pensar e rebater ao mesmo tempo, também não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar - que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas - é uma forma de distração e anti-pensamento.
As implicações para uma sociedade que não pensa grande são enormes. As ideias não são meros brinquedos intelectuais. Elas têm consequências práticas.
Um artista amigo lamentou recentemente que sentia o mundo da arte à deriva, pois não havia mais grandes críticos como Harold Rosenberg e Clement Greenberg para oferecer teorias da arte que poderiam fazer a arte frutificar e se revigorar. Outro amigo desenvolveu um argumento parecido sobre política. Embora os partidos debatam sobre quanto cortar no orçamento, ele gostaria de saber onde estão os John Rawises e Robert Nozicks que poderiam elevar o nível de nossa política.

Abundância de dados. O mesmo seguramente poderia ser dito da economia, onde John Maynard Keynes continua sendo o centro do debate quase 80 anos depois de propor sua teoria de injeção de estímulos pelo governo. Isso não significa que os sucessores de Rosenberg, Rawls e Keynes não existam, apenas que, se existirem, eles provavelmente não ganharão tração numa cultura que tem tão pouco uso para ideias, especialmente as grandes, excitantes e perigosas, e isso é verdade quer as ideias venham de acadêmicos ou de outros que não fazem parte de organizações de elite e desafiam a sabedoria convencional. Todos os pensadores são vítimas da abundância de informação, e as ideias dos pensadores de hoje também são vítimas dessa abundância.

Mas é especialmente verdade para grandes pensadores nas ciências sociais como o psicólogo cognitivo Steven Pinker, que teorizou sobre tudo - da origem da linguagem ao papel da genética na natureza humana -, ou o biólogo Richard Dawkins, que teve ideias grandes e controvertidas sobre tudo - do egoísmo a Deus -, ou o psicólogo Jonathan Haidt, que analisou sistemas morais diferentes e extraiu conclusões fascinantes sobre a relação - de moralidade a crenças políticas.

Mas como eles são cientistas e empíricos e não generalistas nas humanidades, o lugar a partir do qual as ideias eram costumeiramente popularizadas, eles sofrem um duplo golpe: não só o golpe contra as ideias em geral, mas o golpe contra a ciência, que é tipicamente considerada na mídia, na melhor hipótese, como mistificadora, na pior, como incompreensível. Uma geração atrás, esses homens teriam chegado a revistas populares e às telas da televisão. Agora, eles são expelidos pelo eflúvio informacional.

Alguém certamente dirá que as grandes ideias migraram para o mercado, mas há uma enorme diferença entre invenções com fins lucrativos e pensamentos intelectualmente desafiadores. Empresários têm muitas ideias, e alguns, como Steve Jobs, da Apple, trouxeram algumas ideias brilhantes no sentido "inovador" da palavra.

Mas, embora essas ideias possam mudar a maneira como vivemos, elas raramente transformam a maneira como pensamos. Elas são materiais, não nocionais. São os pensadores que estão em falta, e a situação provavelmente não vai mudar tão cedo.

Nós nos tornamos narcisistas da informação, tão desinteressados por qualquer coisa fora de nós e de nossos círculos de amizade ou por qualquer petisco que não possamos partilhar com esses amigos que se um Marx ou um Nietzsche surgisse subitamente trombeteando suas ideias, ninguém lhe daria a menor atenção, certamente não a mídia em geral, que aprendeu a servir ao nosso narcisismo.
O que o futuro pressagia é cada vez mais informação - Everests dela. Não haverá nada que não conheçamos. Mas não haverá ninguém pensando nisso. Pense nisso.

/ TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É BOLSISTA SÊNIOR NO ANNENBERG NORMAN LEAR CENTER DA UNIVERSIDADE DO SUL DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE "WALT DISNEY: THE TRIUMPH OF THE AMERICAN IMAGINATION"

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O mito Lula precisa morrer se o Brasil contemporâneo quiser nascer. Ou: #DesencarnaLula!

As palavras fazem sentido. Essa é uma das mais antigas batalhas deste escriba. Têm aquele sentido estanque, do dicionário, elucidado por sinônimos ou perífrases. E têm o sentido que lhes conferem as circunstâncias, o contexto. Luiz Inácio Apedeuta da Silva, a face mais visível da doença que toma conta da política brasileira, esteve ontem em Minas. E, mais uma vez, nos deu a oportunidade de ler as palavras pelo sentido que elas têm e interpretá-las pelos silêncios que enunciam. Voltou a negar que possa ser o candidato em 2014. E se pergunta então: “Por que um ex-presidente da República, que já havia anunciado que não seria candidato, nega que pretenda se candidatar se não for  com o objetivo de que sua candidatura seja debatida como realidade plausível?” Vale dizer: as palavras de Lula devem ser lidas pelo avesso. Ele afirma o que nega; nega o que afirma.
Foi adiante: “Dilma só não será candidata se não quiser”. A oração subordinada adverbial condicional — “se não quiser” — traz uma hipótese com a qual ninguém contava até outro dia, muito menos os petistas, especialmente quando a mandatária não concluiu ainda o seu oitavo mês de governo. Então está dado que existe a possibilidade de Dilma não querer. É Lula quem sustenta isso. Em política, “querer” ou “não querer” depende mais da vontade de terceiros do que da própria. O Babalorixá, ele próprio, faz de tudo, já está claro a esta altura, para que ela não queira. Ou não se moveria no tabuleiro da política com tanta saliência.
Não estamos diante daquela situação em que a criatura se volta contra o criador, como o monstrengo criado por Doutor Victor Frankenstein. De certo modo, é o contrário: Lula padece de uma inveja patológica da sua criatura. Considera-se o dono de Dilma de Rousseff. E está profundamente insatisfeito com os rumos que as coisas estão tomando. A imagem da faxina, ainda que uma expressão usada pela imprensa, colou. Só se limpa o que está sujo. E a sujeira foi, sim, a herança maldita que caiu no colo da sucessora. É evidente que ela era da turma. E figura de proa. Tanto é que foi escolhida para conduzir o navio — ou, ao menos, para representar esse papel. Mas a dinâmica da política não depende, reitero, só de vontades. A sujeira começou a aparecer. E os “descontentes” só não estão na rua porque os nossos esquerdopatas transformaram sindicatos, ONGs, movimentos sociais e entidades de classe em sucursais do partido. O PT está hoje mais presente na sociedade do que o Baath no auge do poder de Saddam Hussein. Os tolos dirão: “Mas foi pela via democrática”. O aparelhamento é sempre uma afronta à democracia, jamais a sua expressão.
É inaceitável que um ex-presidente da República se coloque, de peito aberto, como uma espécie de articulador informal do governo, seu intérprete mais avalizado, seu condestável. E é o que Lula está fazendo, tentando empurrar Dilma para fora do tabuleiro, embora reafirme, claro, seu apoio à sucessora.
Ele é popular? E daí?
Eu estou pouco me lixando se o Apedeuta é ou não popular. Aliás, falar mal de impopulares é coisa que qualquer covarde pode fazer. Lula é, sim, o nome da “doença” da política brasileira — e vamos, então, ampliar a briga, porque aí o barulho fica bom —,  assim como Getúlio Vargas já foi um dia e, em muitos aspectos, ainda é. As pessoas têm os seus valores, e eu também. Não nutro a menor simpatia por um líder fascistóide, que prendeu, torturou e matou nas masmorras. “Ah, mas ele fundou o Brasil moderno!” Que Brasil moderno? O Getúlio do Estado Novo compôs com todas as forças reacionárias com a qual a dita Revolução de 30 prometia acabar — de fato, em certo sentido, Lula mimetiza Getúlio… Não leio a sua carta de suicídio sem atentar para o seu lado patético, sua literatice chula, seus contrastes vigaristas entre os “bons” e os “maus”, sua irresponsabilidade fundamental. Não se deve especular, por pudor, sobre a razão dos suicidas — desde que o sujeito não decida “sair da vida para entrar na história”. Arghhh… Politicamente, e é de política que falo, teria sido bem mais corajoso enfrentar seus acusadores. Era grande a chance de que terminasse deposto e na cadeia.
Essas almas “intensas”, “amorosas”, ” passionais”, “carismáticas” deseducam o povo e conduzem os países, com freqüência, ao desastre. Muito bem: Getúlio era fruto de um tempo que produziu varias formas do fascismo mundo afora — e aqui também, portanto. Mas os outros países exorcizaram seus fascistas. Nós amamos os nossos. Ou melhor: “eles” (porque não sou da turma) amam os deles. É claro que a “moral revolucionária” das esquerdas, muito especialmente dos comunistas, colaborou para isso. Luiz Carlos Prestes saiu da cadeia, onde tinha sido barbaramente torturado pela polícia de Getúlio — sua mulher, Olga, tinha sido deportada grávida para a Alemanha, onde foi morta — para subir no palanque do ditador contra “as forças do imperialismo”. Olga estava longe de ser a heroína pintada pelo chavista (e agora biógrafo de Lula) Fernando Morais. Mas isso não livra a cara de Getúlio.
Eu não opero com uma balança em que a canalhice é posta num prato, e as conquistas, noutro, em busca de um equilíbrio. Findo o estado novo, o lugar de Getúlio era a cadeia, não tentando voltar ao poder, aí pela via democrática, com o apoio dos comunas, que odiavam a democracia… Que circo nojento!  Por que falo de Getúlio? Porque estepaiz ainda vive à mercê desses redentores — e Lula ocupou esse papel, à custa de uma máquina de mentiras e de manipulação da informação de fazer inveja ao DIP getulista. Não! Não tenho absolutamente nada de pessoal contra o Babalorixá. Até me policio um pouquinho para não me deixar tocar minimamente por  sua inegável simpatia pessoal — quando não está sobre um palanque, possuído pelo ogro eleitoral. É a sua figura política que é nefasta, que deseduca, que desinforma, que dá sobrevida ao que há de mais atrasado na política .
O mito Lula precisa morrer — não o Lula! Que tenha tataranetos, mas sem passaporte diplomático! — se um Brasil minimamente afinado com a contemporaneidade quer nascer. O homem está mobilizando o seu partido e outros da base aliada contra um movimento — ainda incipiente, que é mais da sociedade do que de Dilma, é óbvio — contra a corrupção! Esse Shrek do Mal está tentando nos convencer de que  a sem-vergonhice é um preço que o Brasil precisa pagar para avançar. E não é! Uma coisa é admitir que o malfeito existe, é parte da política e precisa ser extirpado. Outra, distinta, é encará-lo como virtude.
No momento em que ministros atolados em lambanças perdem seus cargos, o que faz o “pai do povo”? Sai por aí estimulando, na prática, o debate sobre a sucessão de Dilma, que está no poder há menos de oito meses. Em defesa do que mesmo? De quais princípios? Se isso não é uma forma de chantagem política, é o quê?
O Brasil avança, sim! Avança apesar da corrupção e do permanente assalto ao dinheiro público. Avança pela força dos brasileiros que trabalham, apesar dos vagabundos que vivem do esforço alheio; avança pela capacidade empreendedora dos seus empresários, apesar daqueles que vivem do compadrio e dos favores do estado; avança pela força — e eles existem — dos políticos honestos, apesar da escória que entra na vida pública para se arrumar.
E é isto que precisamos ter muito claro: OS DEFEITOS DA VIDA PÚBLICA BRASILEIRA DEFEITOS SÃO, E NÃO VIRTUDES! Por mais que pareça absurdo a muitos, O BRASIL AVANÇA APESAR DE LULA, NÃO POR CAUSA DELE.
Ele havia prometido “desencarnar”, vocês se lembram. Mais uma vez, não cumpriu uma promessa. É chegada a hora de fazer uma campanha pública: #DesencarnaLula!
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Jovens não têm futuro a não ser que quebrem o sistema", diz Francisco de Oliveira

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
No capitalismo, o ócio é o usufruto de um tempo conquistado na relação entre trabalhadores e empregadores. Sem trabalho, não existe ócio. Portanto, nos países capitalistas avançados que convivem com altas taxas de desemprego, os jovens "não têm futuro, a não ser que quebrem o sistema".

Esse foi o raciocínio exposto na noite de terça-feira no Rio pelo sociólogo Francisco de Oliveira, professor emérito de USP, convidado a fazer uma abordagem marxista do "elogio à preguiça" no ciclo de conferências organizado pelo filósofo Adauto Novaes --e que ocorre também em São Paulo e Belo Horizonte.

"A reprodução do sistema vai levando a formas cada vez mais sofisticadas de uso do trabalho que desmontam as velhas estruturas", disse Oliveira, 77.

Citou um exemplo europeu: "A Espanha, um sucesso formidável depois que entrou na União Europeia, agora tem 25% da força de trabalho desempregada, a maioria jovens. O tipo de emprego que o capitalismo industrial criou durante 50 anos, dos anos 1930 aos 80, desapareceu. O sistema tem mais capacidade de produzir esses jovens desempregáveis do que antes."

Segundo Oliveira, o Brasil não está imune a essa tendência maximizada pela revolução digital, "que economiza trabalho e multiplica sua potência por dez, 20 vezes". Ele comparou a euforia econômica recente no país a um orgasmo de velho.
"O Brasil está em êxtase porque o salário mínimo cresceu, o emprego formal cresceu. Esse êxtase é quase como um orgasmo de velho. São os indicadores de 1956. Já ingressamos em todos os problemas e contradições do capitalismo desenvolvido, embora nossa taxa de miséria seja altíssima."

Disse que há um descolamento entre a produção e a escola e deu como exemplo as listas de candidatos a concursos públicos, cheias de universitários: "Somos a sociedade da cópia. A não ser que reinvente a roda, você vai copiar a forma do capitalismo mais desenvolvido, e essa desemprega".

Em sua palestra, Oliveira contrastou o elogio à preguiça "um tanto romântico" da tradição clássica com as "contradições" modernas. Lembrou que, na Grécia antiga, o ócio criativo que "produziu as obras fundamentais da cultura ocidental" era sustentado pelo trabalho escravo.

"Todo ócio repousa sempre no fato de que alguém trabalha para você. Outro ponto é que o ócio, lido como a capacidade de usufruir do próprio tempo, só se sustenta se houver uma força de trabalho capaz de produzir as condições materiais para sustentá-lo."
Dessa forma, um desempregado à procura de emprego não usufrui do ócio, mas apenas os trabalhadores organizados que conseguem "instaurar a preguiça" numa relação em que o tempo é "constantemente vigiado".

"O capitalista quer igualar tempo de trabalho e tempo de produção. Os trabalhadores tratam de desigualá-los para sobreviver melhor", explicou o sociólogo.

Para Oliveira, a cultura brasileira ainda está impregnada do olhar antigo sobre o ócio. "Não valorizamos o trabalho, mas o talento, como se Pelé fosse uma força da natureza. Como se pudesse ter havido um Machado de Assis se ele não tivesse trabalhado dia e noite nas redações de jornais."

O sociólogo disse ainda que o próprio Karl Marx tinha preconceitos próprios aos "cavalheiros do século 19" ao tratar dos trabalhadores: "Ele tinha desprezo pelo desempregado, o lumpemproletariado, bagaço de cana já moída. Marx não é teórico do trabalho, mas do capital e da mercadoria".

No entanto, brincou, o autor de "O Capital" era um "preguiçoso arrematado" em outro sentido, o daqueles que não vendem seu trabalho e exercem atividades no interior do sistema que vão contra ele. "Marx nunca teve emprego de carteira assinada."

Sistemas funcionais na agricultura do futuro




São amplamente conhecidos pelos agricultores modernos os principais aspectos relativos às técnicas e procedimentos criados pelo homem no sentido de se obter índices de produtividade agrícola compatíveis com suas expectativas. Da mesma forma, seria injusto dizer que a humanidade não conseguiu modificar os potenciais produtivos de espécies cultivadas, assim como um aumento expressivo das expectativas produtivas para o setor. Mesmo em áreas de agricultura tradicional, é evidente a utilização de modernas técnicas de manejo dos recursos envolvidos no processo produtivo como um todo. No entanto, mesmo diante de tantas inovações é também evidente a necessidade, cada vez maior, da intervenção de métodos mais aprimorados pela ciência, no sentido de conter o avanço paralelo do ataque cada vez mais intenso de agentes patogênicos que interferem nos índices de produtividade das lavouras cultivadas com interesse econômico.

Essas intervenções, invariavelmente, consistem em despesas crescentes e isso tem causado cada vez mais a perda da lucratividade das culturas exploradas pelo setor, ocorrendo de forma mais intensa a cada período, com exceção das localidades ambientalmente isoladas e que ainda conseguem manter expectativas de rendimento agrícola positivo – fato cada vez mais raro nas últimas décadas.

Conceito

O conceito básico do “Sistema Funcional de Cultivo Agrícola” tem como principal objetivo evitar a interferência de agentes externos na busca e manutenção de índices de colheita satisfatórios, ao mesmo tempo em que permite ao agricultor o seu aperfeiçoamento pessoal na observação constante do ambiente que o cerca, dentro de uma visão amplificada dos fatores que interferem em seu patrimônio vegetal. Tais procedirnentos, com absoluta certeza, permitem que os produtores estejam sempre um passo adiante das interferências naturais que possam diminuir seus índices produtivos, bem como lhes fornecem meios concretos de agir no sentido de corrigir, adequada e preventivamente, o processo evolutivo ambiental, de forma a minimizar o aumento de custos de manejo – inevitáveis nos sistemas modernos atualmente aplicados à agricultura.

 

Modernidade versus tradicionalismo

As técnicas modernas de produção agrícola, indiscutivelmeute, propiciam, num primeiro momento, um incremento significativo na produtividade das lavouras. Sobretudo quando uma cultura é introduzida numa nova localidade, constatam-se expressivos índices de rendimento nas culturas exploradas pelo homem, quando comparados aos lucros originais esperados. No entando, a partir de determinado momento, tem inicio um processo silencioso, porém contínuo, de interação ambiental que, também invariavelmente, leva os produtores a utilizar recursos externos voltados para a manutenção dos índices produtivos originais. Salvo em localidades específicas, esse é um fenômeno Já aceito como inevitável, pois o comprometimento dos produtores com a atividade faz com que deterrninadas medidas, ditas corretivas, sejam adotadas, sob pena de serem perdidos todos os investimentos anteriormente destinados à atividade. O conceito do Sistema Funcional de Agricultura tem como principal objetivo permitir aos agricultores a adoção de medidas concretas e eficazes no sentido de evitar os custos adicionais de adaptação ambiental de seus cultivos. Da mesma forma, esse sistema permite a utilização de modificações ambientais constantes e contínuas, de modo a retardar – e mesmo evitar – o estabelecimento de agentes patogênicos nocivos à atividade produtiva.

Ambiente dinâmico versus ambiente estático

O maior erro conceitual da agricultura moderna está relacionado com a desconsideração dos aspectos dinâmicos ambientais. Isto faz com que os produtores, crentes de que as soluções tecnológicas possam resolver todos os problemas que possam vir a existir em suas lavouras, deixem de analisar de forma permanente a evolução das alterações ambientais causadas pelo desenvolvimento de sua atividade. E como os processos ocorrem simultaneamente, existe sempre a possibilidade de que o desenvolvimento de condições ambientais favoráveis aos agentes patogênicos se instalem em sua lavoura, o que irá, certamente, levar a custos adicionais destinados à correção dos problemas que poderão surgir, naturalmente, em sua atividade. Esta é, em suma, a maior causa da perda de rendimento da agricultura moderna.

Agricultura Migratória versus Rotação de Culturas

No Brasil, é antiga a técnica da Rotação de Culturas. No entanto, ela é praticada de forma totalmente ingênua e limitada, uma vez que são, invariavelmente, eleitas duas ou três alternativas para o “descanso” das áreas, como se isso fosse suficiente. Da mesma forma, nessa técnica, parte-se do princípio de que os agentes patogênicos do meio ambiente são tão ingênuos quanto os agricultores. Isto, mais uma vez, gera custos corretivos crescentes, o que leva à diminuição dos índices de rendimento. E – como não poderia deixar de ser dito – tal fato é algo amplamente favorável às empresas que desenvolvem, produzem e comercializam os insumos necessários para as correções específicas para cada caso. A Agricultura Migratória, no entanto, engloba princípios mais amplos e profundos, o que, seguramente, irá evitar os custos adicionais de manejo e manutenção da rentabilidade agrícola como um todo.

Culturas permanentes

No caso de culturas permanentes, a diversificação de técnicas é ainda maior, visto que tem por objetivo a manutenção de lavouras ou pomares pelo maior tempo possível dentro de uma propriedade rural. Da mesma forma, isso se faz com o uso de procedimentos amplos e que considerem diversos fatores preliminares a cada ação efetiva. Salvo em localidades onde as condições ambientais sejam amplamente favoráveis às culturas perenes, essas ações devem ser cada vez mais intensas, de modo a permitir a manutenção dessas culturas na localidade sem custos adicionais significativos.

Dinamismo ambiental

Assuntos ambientais são hoje muito abordados pelos mais diversos segmentos da sociedade. Existe, na atualidade, um entendimento consolidado acerca de grande número de interações entre os diversos componentes do meio ambiente. No entanto, quando se trata de sistemas produtivos em agricultura, o que se nota é que, invariavelmente, o assunto é abordado de forma estática e – com absoluta certeza – essa é a principal fonte dos problemas de produtividade. Isto porque, na medida em que o assunto é visualizado de forma parcial, é notável a falta de foco na análise dos agentes causadores da diminuição progressiva dos índices de produtividade das lavouras – que reduzem, de forma signiticativa, os rendimentos finais da atividade agrícola como um todo – a não ser que sejam adotadas as já citadas medidas corretivas.

O fator solo

Na agricultura moderna, o solo deixou de ser um fator limitante. Devido a técnicas inovadoras desenvolvidas pela ciência dos solos, nos dias atuais o papel desempenhado por esse componente produtivo se limita apenas em ser uma base de sustentação das plantas de cultivo. Em algumas ocasiões – e para determinados tipos de lavoura – os agricultores, simplesmente, dispensam o uso do solo e, ao mesmo tempo, lançam mão de outros elementos, tais como a água, substratos pré-elaborados e outros elementos, naturais e artificiais. Tudo isso é válido, porém existem consequências da adoção desses procedimentos tecnológicos nos processos produtivos. E, invariavelmente, essas consequências se manifestam a partir de um determinado período quando, muitas vezes, é tarde para que sejam adotadas medidas corretivas com o objetivo de recuperação das plantas atingidas e debilitadas.

Matéria orgânica versus elementos químicos

Na correção e adaptação dos soIos para a exploração agrícola, são, atualmente, utilizadas metodologias desenvolvidas para fins específicos. Na maioria dos casos, alguns fatores preponderantes deixam de ser normalmente considerados e, como não poderia deixar de ser, os índices de produtividade das lavouras sempre tendem a diminuir – especialmente em regiões de clima tropical. As condições físico-químicas dos solos destinados aos processos produtivos apresentam comportamento dinâmico no decorrer do tempo, e quando se desconsidera esse fator, as consequências, sabidamente nocivas ao sistema produtivo como um todo, podem facilmente ser previstas.

Mineralização versus eutrofização

Os processos biológicos dos solos estão sempre relacionados com a temperatura ambiente. Nesse sentido, é evidente que a temperatura está intimamente relacionada com as condições climáticas de cada localidade. Seguindo o mesmo raciocínio, é fácil concluir que a imensa maioria dos solos brasileiros se encontra sob condições tropicais. Como consequência da interação entre a temperatura ambiente e o nível de desenvolvimento da microfauna e microflora dos solos, pode-se, da mesma forma, prever o comportamento dos solos em função das localidades onde esses solos estão situados. Ao mesmo tempo, outros fatores relacionados com a origem dos solos atuam no sentido de determinar seu comportamento ao longo do tempo, ou seja, não é difícil de se prever como um determinado solo deverá apresentar-se quando destinado ao uso agrícola. Assim, devido às elevadas temperaturas enfrentadas pelos solos situados em regiões de clima tropical, os processos biológicos aos quais estão submetidos são muitas vezes mais intensos do que aqueles constatados em solos sob clima subtropical ou temperado. Nesse sentido, a degradação dos solos tropicais é algo que sempre se pode esperar, sob a forma de mineralização natural dos componentes orgânicos do sistema. Ao contrário, é também natural a expectativa de enriquecimento orgânico dos solos situados em regiões de clima sub-tropical ou temperado devido às baixas temperaturas ambientais durante as estações frias do ano. Tais fenômenos, associados às chuvas abundantes e frequentes, normalmente esperadas para as estações quentes do ano, fazem com que seja também natural a expectativa de empobrecimento contínuo dos solos localizados em condições tropicais – tanto nos aspectos físicoquímicos, quanto no que diz respeito à presença de microfauna e microflora nesses solos. E, como não poderia deixar de ser, esses fatores interferem de forma negativa e progressiva na produtividade das áreas agrícolas localizadas em regiões tropicais – salvo quando são adotados procedimentos específicos de reposição da parcela de matéria orgânica ativa desses solos.

 

Agricultura orgânica

Existe hoje uma corrente fortemente ligada à Agricultura Orgânica no segmento agrícola. Essa é uma tendência que abrange, praticamente, todas as sociedades mundiais. Porém, quando utilizada de forma errônea, os resultados podem ser negativos, visto que elevados teores de nitratos, nitritos e outros compostos orgânicos são nocivos à saúde humana e ao sistema produtivo como um todo. Normalmente, os compostos ricos em nitratos são associados ao uso de fertilizantes químicos. Mas, em determinadas condições, pode também haver excesso de nitratos em culturas exploradas sob condições de cultivo orgânico – muito embora em dosagens sempre menores do que aquelas observadas na forma de manejo que lança mão de fertilizantes químicos altamente concentrados. Por outro lado, a corrente de pensamento que atua hoje junto ao segmento da agricultura orgânica possui uma forte tendência política, contrária a tudo o que venha a ser estabelecido de forma convencional. O ideal é a busca de um ponto de equilíbrio, onde não se causem danos ambientais – quando se busca obter produtividade na agricultura –lançando-se mão de procedimentos nocivos ao ambiente, às culturas exploradas com interesse econômico e à saúde humana e dos animais. Existe, também, muito interesse financeiro na exploração do mercado de produtos orgânicos como um todo, na medida em que é evidente o paradoxo entre menores investimentos versus maiores preços finais ao consumidor – mesmo diante de inquestionáveis índices de produtividade satisfatórios nessas atividades. Por esses motivos, é prudente que as pessoas ajam com muita cautela antes de aderir a correntes com forte conteúdo ideológico quanto os opostos ora constatados para o setor.

Reciclagem

Outra tendência amplamente observada nos dias de hoje é a reciclagem de resíduos orgânicos. O que, aparentemente, apresenta-se como uma solução, pode também ser visto como uma forma de concentração de agentes contaminantes, uma vez que o lixo urbano é, na sua imensa maioria, proveniente de resíduos de produtos obtidos através de métodos convencionais, ou seja, que utilizam, em larga escala, produtos nocivos e de origem química questionados pelas correntes ideológicas contrárias. Assim sendo, esse é um segmento que necessita de muito cuidado, sobretudo quando o produto final, devidamente reciclado, é destinado ao consumo humano e à restauração ambiental. Existem formas alternativas de utilização desses resíduos processados, de maneira a minimizar os impactos provenientes da reciclagem.

Mercado versus produto

Nos dias atuais, com o estabelecimento de princípios econômicos neoliberais (mesmo que de forma velada, em algumas sociedades menos esclarecidas como a nossa), o “Mercado” assume importância expressiva. Nessas condições, é normal a constante busca, por parte dos agricultores, de uma adequação a esse fator. Isto, invariavelmente, atua como agravante em termos de qualidade final e preço dos produtos, na medida em que os esforços direcionados no sentido da adaptação às exigências do mercado, levam a custos mais elevados, principalmente pelo fato de que o sistema como um todo funciona na contramão da lógica. Na realidade, o caminho deve sempre ser outro, com a busca de condições ótimas para que se obtenha um “produto” de qualidade espontaneamente satisfatória. Isto somente ocorre quando outros princípios norteiam os investimentos no setor agrícola.

Visão crítica e soluções específicas

Conforme já citado anteriormente acerca do nível de conhecimento de nossa sociedade a respeito dos fatores que interferem na produtividade da agricultura, é também evidente a falta de integração desse conhecimento para que se possa obter índices constantes e satisfatórios para o setor. Isto porque, invariavelmente, existe uma lacuna entre o conhecimento e sua difusão para os segmentos específicos como um todo, principalmente após o modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade brasileira a partir do início de sua modernização. Dessa forma, e devido ao fato de que a política adotada no Brasil para o segmento agropecuário obedece a interesses difusos, não tem sido interessante unir as duas pontas, pois isso iria contra esses interesses. Ou seja, o conhecimento existe, porém não se encontra disponibilizado em sua plenitude para os diversos segmentos da sociedade – ao menos até o presente momento. O que mais carece ao nosso sistema produtivo é a articulação necessária e fundamental para que os índices produtivos sejam devidamente atingidos e mantidos no decorrer do tempo nas atividades agrícolas propriamente ditas.

Tecnologias sugeridas

Em termos de medidas técnicas, pode ser relacionada uma ampla gama de soluções – todas elas previamente analisadas diante de cada situação. De forma geral, essas medidas podem ser aplicadas na maioria dos empreendimentos agrícolas brasileiros, com grandes chances de sucesso duradouro para o produtor rural.
Neves Terriani Laera
Engenheiro Agrônomo
Créditos ➞ o presente post é composto pelo artigo «Sistemas Funcionais na Agricultura do Futuro», da autoria de Neves Terriani Laera, engenheiro agrônomoapresentado na Revista do CREA-RJ, nº 87, abril/maio de 2011, publicação oficial do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro, enviada a seus afiliados.
Para maiores informações ➞ Portal CREA, em: www.crea-rj.org.br
e-mail: portal@crea-rj.org.br
Imagens ➞ Revista do CREA, nº 87;  http://www.brasilautogestionario.org

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AMAZONIA


... Entre tantos berros de usura, o boi pasta
famintos famigerados víveres.
abnegado fruto da existência, alheio a tudo
Serás condecorado mas destituído da: lei da natureza.
Fora acorrentado por ela
que ainda assim o mantém forte, homem,
fruto, de abnegação
esculpido e industrializado
Terás que avançar e ganhar terra
pensando em tudo o que nela vive
E quando isso acontecer
essas terras da floresta virgem
responderá ‘a humanidade
se capaz de prosseguir em sua totalidade
pelas águas dos rios que embalam canções
Eles se olham noite adentro
procuram por uma saída
a vila, o pirarucu, o lago do silêncio, as onças
reunidos lutam, ouvem, mastigam e dormem, todos
( noturno não se engana )
enfrentam destemidos por uma crença insolúvel.

Denise Velasco. Trecho de texto inspirado na vida de Chico Mendes.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"249" - Emily Dickinson


(Recebido de Adriano Nunes)

Noites Loucas — Noites Loucas!
Estivesse eu contigo
Noites Loucas seriam
Nosso luxuoso abrigo!

Para Coração em porto —
Ventos — são coisas fúteis —
Bússolas — dispensáveis —
Portulanos — inúteis!

Navegando em pleno Éden —
Ah, o Mar!
Quem dera — esta Noite — em Ti
Ancorar!

(Tradução: Paulo Henriques Britto)

249

Wild Nights — Wild Nights!
Were I with thee
Wild Nights should be
Our luxury!

Futile — the Winds —
To a Heart in port —
Done with the Compass —
Done with the Chart!

Rowing in Eden —
Ah, the Sea!
Might I but moor — Tonight —
In Thee!