segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O grande desafio para a evolução


Ramon Samauma

O Ser Humano, tem um instrumento Divino que é a força mágica do pensamento. 
Ao direcionar a força do pensamento para o que é positivo, bom, belo, construtivo, o homem/mulher, pode mudar o status quo caótico e negativo para um status quo positivo e equilibrado.
Rogo a quem acreditar que enviemos uma força positiva de paz e luz Divina para a consciência de cada ser desta humanidade. Temos um país maravilhoso, abençoado com grandes riquezas naturais. 
Vamos nos unir em uma corrente de bons pensamentos para que homens e mulheres de valor, com integridade e cidadania verdadeiras possam liderar as transformações políticas, religiosas, sociais e ambientais que o nosso País precisa e que também é o seu destino, ser uma pátria próspera, pacífica e de cidadãos saudáveis. 
Pensamentos positivos que possam retirar do poder toda essa corrupção que circula através de políticos, deputados, senadores, ministros, governadores, que não tem a dignidade cidadã de representar os brasileiros. Que venham pessoas dignas, honradas, nobres, competentes que trabalhem pelo Brasil. 
Os cidadãos pagam altos impostos e pagam altos dividendos sociais e ambientais para enriquecer a poucos. 
A natureza vem sofrendo grandes degradações com a exploração das riquezas do país, cujos tesouros são depositados em poucas famílias e ainda fora do Brasil. Mas, com a força mágica do pensamento, podemos vibrar de forma positiva para que essa transformação aconteça. 
Tem muitas pessoas boas e nobres no país, que não estão na política e nos cargos de liderança porque atualmente esses cargos e posições estão tomados, em sua maioria, por pessoas corruptas e que não amam a nossa Pátria. 
Eu estou fazendo o mínimo ainda e quero fazer mais, enviando bons pensamentos e buscando edificar um país melhor. Luz, amizade, fraternidade, integridade, honestidade, trabalho honrado, criatividade, pesquisa de novas tecnologias sustentáveis, produção de alimentos, recuperação ambiental, uma constituinte consciente e transformadora... que tudo que é negativo para o país e seu povo se transforme em positivo. 
Ramon Samaúma

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Vale matou o Vale - desastre ambiental presumível.



O desastre socioambiental causado pela mineradora Samarco (Vale do Rio Doce e BHP Billiton) com o rompimento de suas barragens de rejeitos no município de Mariana, em Minas Gerais, é um dos maiores na história do país. A área afetada ultrapassa os 600 Km, chegando inclusive no Oceano Atlântico.

A lama é resultado de décadas de exploração mineradora da região, e além do poder destrutivo da avalanche e inundações de lama, há controvérsias sobre o nível de toxicidade desse material. A empresa, para ganhar tempo, afirma que a lama não é toxica, mas há inúmeras suspeitas e indícios de que há sim uma grande quantidade de metais pesados altamente tóxicos no material, que contaminariam toda essa enorme extensão atingida pela lama, contaminando o solo e inúmeras bacias hidrográficas, contaminando a população.

Centenas de pessoas estão desabrigadas e ao redor de 30 pessoas morreram por conta do desastre, incluindo idosos e crianças, sendo que a grande maioria segue desaparecida. Não havia nenhum sistema de alarme para evacuação da população caso um acidente ocorresse. Já os números de mortes de animais e da natureza que foi destruída é incalculável. Incontáveis animais domesticados como cachorros, gatos, galinhas, patos, cavalos, etc, morreram. As matas da região foram atingidas, matando assim grande parte da fauna e flora dessas áreas. O ecossistema aquático foi com certeza o mais afetado, causando a morte de milhões de peixes e de toda a vida das bacias hidrográficas atingidas, sendo por asfixia ou contaminação. A imagem da tartaruga morta é do Parque Estadual do Rio Doce, a maior área de Mata Atlântica de Minas Gerais e terceira maior área alagada do Brasil (depois da Amazônia e Pantanal), localizado a mais de 150 Km das barragens, o que demonstra o poder destrutivo e mortal do material liberado.

O ferro extraído dessas minas é transportado por minerodutos para os portos no litoral, utilizando uma quantidade absurda de água, ao mesmo tempo em que a população sofre com a falta d'água e é obrigada a economizar. O minério segue então para o exterior, o que deixa claro que o saque das riquezas naturais do Brasil continua a todo vapor, com pouco ou nenhum retorno para o país, e o meio ambiente não é sequer considerado como sujeito de direito. Tudo isso para beneficiar uns poucos, os acionistas das empresas em questão, que lavam as mãos e seguem anônimos, comprando e vendendo as ações das empresas conforme convém, sem consideração nenhuma com a ética, mas sim com o simples e frio lucro. Não há compensação possível para esse ecocídio, dinheiro nenhum vale as vidas de tantos seres vivos e da saúde da própria terra.

Segue o arquivo do Google Earth contendo a rota da lama e também com todas as barragens de rejeito do Brasil (https://dl.dropboxusercontent.com/u/7031753/desastre_samarco.kmz). A informação é uma de nossas maiores armas nesse momento. É imperativo refletirmos sobre esse modelo explorador e ganancioso que é imposto sobre as populações. Que esse desastre seja a gota d'água para sairmos desse mar de lama e pararmos essa máquina de destruição e morte.xx


A Tragédia de Mariana (MG) e a tentativa de acobertar os responsáveis

Desde que as primeiras imagens do rompimento das barragens em Mariana (MG) começaram a inundar a internet, uma verdadeira operação de guerra para transformar no imaginário nacional um gravíssimo episódio de inúmeras negligências que culminaram em destruição em massa e perdas de vidas em um mero desastre ambiental causado pela natureza.

Imediatamente, vários veículos de comunicação de massa insistiram que tremores de terra teriam ocorrido na região – tremores de baixa intensidade como os noticiados ocorrem em inúmeros pontos do território nacional e de forma corriqueira, mas foram usados nas primeiras 48h do rompimento das barragens como possível causa.

O fato é que a Vale (Antiga Vale do Rio Doce) é também uma gigante do mercado publicitário e justamente por isso seu nome foi convenientemente excluído da maior parte das matérias jornalísticas, que citavam especialmente a empresa Samarco, que é controlada diretamente pela Vale e pela anglo-australiana BHP.

Danos ambientais irreversíveis e perdas monstruosas na fauna e flora são marcas do setor da mineração. E o mar de lama que corre de Minas para o Espírito Santo está gerando milhares de afogamentos de animais domesticados e silvestres deixando um prejuízo ambiental incalculável e talvez irreparável.

Além disso, corre na Câmara dos Deputados, uma tentativa de criar um novo marco regulatório para o setor da mineração. Este Novo Código da Mineração está sendo tocado por deputados financiados pelo setor e que assumem o papel de representantes dos interesses das grandes empresas, que exigem em troca do robusto financiamento de suas campanhas eleitorais menos regulação ambiental e trabalhista e maior flexibilização das regras de segurança no que tange o entorno dessas atividades e possíveis atingidos.

Vide regra essas normas já não são todas aplicadas hoje. O próprio Relatório Anual de Sustentabilidade da Samarco aponta aumento sistemático de produção de minério de ferro sem nenhum reforço nas barragens, crescendo o volume de rejeitos depositados. Só agora a Samarco instalou sirenes para avisar a população de possíveis emergências, uma mesquinharia que custou pelo menos dezenas de vidas humanas.

A mineração é um dos setores mais predatórios do planeta e também um dos grandes financiadores de políticos para que seus interesses sejam defendidos no Congresso Nacional. Dois de seus principais aliados na Câmara, que cuidam dos interesses dessas empresas são o próprio Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o relator do novo código, Leonardo Quintão (PMDB - MG) que teve mais de 40% de sua campanha financiada pelo setor.

Havia até então um enorme interesse em acelerar a tramitação do documento que promete ser muitíssimo pior que o já terrível Novo Código Florestal. Resta saber agora se após a tragédia de Mariana (MG) esta cruzada pela ampliação da mineração e redução dos direitos pelos atingidos por esta atividade continuará com a mesma força de antes.

O mínimo que a sociedade espera é que esta tragédia obrigue o parlamento e o governo federal a serem mais criteriosos e exigentes na regulamentação da atividade de mineração no país, em razão de seu grande potencial de devastação do meio ambiente e de vidas humanas.

Nosso mandato atua também nesse tema e já apresentou vários requerimentos na Comissão Especial que discute o novo código da mineração, inclusive para visitar as áreas diretamente impactadas - pedido que não foi apreciado pela Comissão.

Também denunciamos, constantemente, a captura da Comissão pelo financiamento empresarial das grandes mineradoras. De acordo com documento do IBASE, em 2010, a Vale doou mais de R$ 29 mi para diversos partidos (http://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/27451-ibase-lanca-publicacao-quem-e-quem-no-codigo-da-mineracao/)

Desde 2010, nosso mandato denuncia os abusos e crimes cometidos pela Vale. Leia o pronunciamento feito na tribuna da Câmara sobre este tema: http://www.ivanvalente.com.br/em-defesa-da-luta-dos-atingidos-pela-vale/

"Como afirma o próprio movimento, a propaganda da Vale diz que a empresa é brasileira e que trabalha para promover o desenvolvimento sustentável do país. Mas as bonitas imagens omitem sua face oculta onde a Vale está presente. A exploração de minério e outras atividades da cadeia de siderurgia têm causado, por exemplo, sérios impactos sobre o meio ambiente e a vida das pessoas. As agressões vão da poluição das águas com produtos químicos, com intervenção direta na destruição de aquíferos e rebaixamento de lençóis freáticos, à produção de enormes volumes de resíduos e emissão de dióxido de carbono na atmosfera."

Não por acaso a Vale está no Hall da Vergonha do Public Eyes People`s, por ter sido eleita em 2012 como a pior empresa do mundo justamente em decorrência do seu histórico de negligências com direitos humanos e o meio ambiente. Um título que envergonha nosso país em mais este momento de perda e dor dos desabrigados e familiares das vítimas e desaparecidos da tragédia de Mariana (MG).

#SamarcoNaoFoiAcidente
#AVidaAcimaDoLucro

Mandato Ivan Valente - PSOL/SP

Foto: Christophe Simon (AFP)

DEUS EXISTE!




Difícil é expor com precisão as inúmeras experiências que tenho tido nos últimos dois anos, desde eu tive a permissão de transmitir Luz Positiva através da imposição da mão. Quando recebi meu primeiro Okiyome, tive certeza de ter encontrado o que vinha buscando a vida inteira. A experiência foi mais intensa que os poucos resultados obtidos com a meditação experimentada na Índia: a percepção de si fora do corpo.

Estudos sobre diversas religiões, filosofias, práticas de meditação... Tenho-me permitido experienciar inúmeras formas em diferentes culturas em busca de aprimoramento espiritual. Não podia imaginar que a humanidade já havia recebido de Deus tamanha permissão. Hinduístas, budistas, cristãos, muçulmanos (falta-me conhecer o alcorão), judeus, evangélicos (espíritas e cristãos), religiões de origem africana, xamãs ... meditação, terapias holísticas, canalizações espíritas e de mestres acesncionados... muita e diversificada leitura. Quando meu marido morreu, em agosto de 2013, estávamos estudando Leitura da Aura com Barbara Ann Brennan, uma física da Nasa que estudou por mais de 35 anos os campos energéticos do ser humano e, desde o lançamento de seu primeiro livro em 1989, mantém uma Universidade de formação de terapeutas na Florida, USA.

Francisco era espírita convicto. Embora a espiritualidade e a forma de perceber o mundo nos tenha unido, era o espiritismo grande elemento de divergência. Eu lhe dizia que não concordava com essas coisas de mediunidade da forma que o Espiritismo conduz, em que espíritos presos ao mundo físico acreditam ter o direito de continuar presos ao mundo tridimensional e “viver” através das vidas de outras pessoas a enviar mensagens na tentativa de nos dizer o que, como e quando fazer. Considero isso tudo invasivo. Por mais bem intencionados, não tem o direito de opinar sobre o livre arbítrio de outrem. Isso ia de encontro a tudo o que o próprio Evangelho Segundo o Espiritismo dizia em inúmeras mensagens deles mesmos, os espíritos instrutores.

Para mim o mundo espiritual e as demais dimensões jamais foram algo místico ou espantoso. Desde criança, percebi que as dimensões se entrelaçam. Às vezes até percebia muitas coisas que assisti nos filmes de ficção científica eram tão lógicos que esperava o tempo em que o universo adulto iria admitir o que víamos as crianças com clareza total. Que o mundo espiritual existia sempre foi inquestionável. Ou eu aceitava isso com o que convivia a vida inteira ou iria voluntariamente me trancar no manicômio para tratamento de choque.  Levei algumas surras por interagir com pessoas que apenas eu via até um tempo em que finalmente me foi esclarecido que elas tinham perdido o corpo físico e estavam por aqui desorientados, sem compreender exatamente o que estava se passando com elas.
 
Quando me foi permitido conhecer os novos ensinamentos permitidos à humanidade, eu já havia compreendido que a Luz transmite conhecimento, que natureza através de todos seus elementos são parte de todos nós, que a água transmite conhecimento e os sentidos extra físicos são muito mais sutis e influenciam nossas vidas de maneira muito mais contundente do que os cinco sentidos físicos que estamos habituados a perceber, reflexo da mente (organismo biológico ligado ao cérebro, portanto ao mundo físico).
Minha melhor experiência nos últimos dois anos vai além da percepção do mundo espiritual, ou ao fato de que a purificação espiritual conduz à saúde e à prosperidade.

Necessidade da expansão da consciência aprendi com a Semente da Mostarda (Osho ). Passei por inúmeros processos de adoecimento desde criança e sobrevivi a eles exatamente para poder dar este testemunho, acredito: o medo, a culpa são instrumentos de dominação do ser humano. Somos dominados pelo mundo físico através de apelos físicos, pelo mundo astral através de prisões emocionais, relacionadas à nossa mente – que constrói a realidade na qual vivemos.

Experienciamos alguma evolução. Somos aprisionados no mundo espiritual, através da culpa.

O EGO é nosso maior verdugo. É exatamente ele o culpado pela nossa dificuldade na percepção de DEUS. É através dele que somos manipulados, maltratados, aprisionados em situações de estres, medo, dor, angústia e insegurança. É ele que nos impede de perceber o verdadeiro mundo de Deus: o do sentimento. O mundo de Deus não contempla tempo nem espaço. Apenas sentimento.

As experiências com a imposição da mão conduziram-me à certeza de Deus, criador do universo, inteligência suprema de que todas as religiões falam mas que sempre mistificam para adaptar a Lei de Deus às suas necessidades culturais ou do poder a serviço do qual se colocam. Perceber o verdadeiro sentido da Fé Dirigida a Deus é nosso desafio. Fé Dirigida a Deus não é uma crença. É certeza.

A Lei de Rege o Universo é uma: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Tudo mais o que as religiões desenvolveram como preceitos são formas que o homem imperfeito encontrou, desvios de rota para, um dia, retomar o caminho ao mundo de Deus - criador supremo do universo.

Experiências de cura também me tem sido permitidas a todo instante. Inúmeras! Em mim e em outras pessoas a quem tive a coragem de oferecer Luz Positiva Verdadeira, no início, temerosa e mesmo em dúvida. Também ver as partículas douradas que emanam das mãos, perceber a presença de espíritos afins em sofrimento, ira e amor... sentir a dor e a emoção de espíritos que tem permissão de receber a Luz de Deus por que acessaram o sentimento de pedido de perdão e gratidão... perceber o amor e gratidão de muitos antepassados ou espíritos em sintonia durante a transmissão de
a Luz ... a presença de trabalhadores e guardiões dos locais de aprimoramento espiritual, acredito que essa percepção nos foi concedida para podermos dar esse testemunho. Não tenho o que questionar. Nada!

No primeiro momento fui tocada pelo imenso amor de Deus, que me permitiu sair do estado depressivo com a partida de meu amado para o mundo espiritual. Dois anos e três meses desde a sua partida, com o apoio dos queridos amigos que me acolheram com amor e carinho, sou outra pessoa. Tudo o que me foi dado conhecer sobre espiritualidade, fé, aprimoramento espiritual tornou-se muito pouco diante dos ensinamentos revelados. E mal comecei a caminhada.

Todas as certezas mentais são frágeis e se desfazem a cada informação que nos permitimos receber.

A única que permanece é a certeza de Deus e de que temos um plano a seguir, que não estamos sós nem sem rumo neste Universo sem fim e de que o amor sempre será mais forte que qualquer sentimento de vibração mais densa me fortalecem a cada momento, nova experiência, encontro. Compreendo que nos cabe apenas (J  como se fosse muito simples...) cumprir o mandado: auxiliar o despertar de outras pessoas e tudo nos será concedido e providenciado. Somos destinados à saúde, prosperidade, felicidade e ao amor.

Não há o que pedir. Tudo nos é concedido conforme nosso sentimento verdadeiro. Tudo o que alcançamos ( de bom ou ruim, bem ou mal ) é consequência do nosso sentimento mais profundo e verdadeiro. Nãoadianta tentar disfarçar o sentimento. Ele se propaga de imediato e não tem disfarce ou máscara que modifique a lei da ação e reação. Nada a esconder. Impossível!

Deus existe e é através de nosso sentimento que sintonizamos com Ele. Ou não! ( tal qual disse o Poeta).

Somos livres para assumir nossa conexão com a Inteligência Suprema que Rege o Universo. Simples assim!  Sem dúvida nenhuma, com coragem e firmeza. O não cumprimento da missão, diante de todos os esclarecimentos, isso sim, deve incorrer em erro gravíssimo. 

Passamos a vida em busca de nos aproximarmos de Deus.

A humanidade ainda tem algum tempo para despertar.


Maceió, 23 de Novembro de 2015.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

ENQUANTO A REVISÃO DO PLAN O DIRETOR DE MACEIÓ, 10 ANOS DEPOIS, TUDO IGUAL.

FORMALIZAÇÃO E TITULARIZAÇÃO IMOBILIÁRIA NA AMÉRICA LATINA

Josevita Tapety, 2010

               As relações entre mercado imobiliário formal e informal são indicadores diretos da elevação do nível de renda e qualidade de vida da população. A partir dessa definição, compreende-se que a informalidade é reflexo da produção urbana dentro do sistema capitalista e, como tal, carece de estudos intensos e aprofundados a fim de se utilizar este elemento como fator determinante na diminuição das diferenças sociais.

               " A informalidade não só é efeito, mas também causa da pobreza, na medida em que a população residente em áreas informais é capturada por muitos 'ciclos viciosos' que reiteram sua condição" Smolka.

               A proposta de regularização da propriedade informal, ao tempo em que oferece paliativos à situação que vai do desconforto à miséria, institucionaliza as diferenças sociais na medida em que define bairros de pobres, construídos em sistema compatível com a renda familiar e capacidade de endividamento  para receber dessa população que, por sua vez irá, nesses distritos específicos, desenvolver serviços compatíveis com a vizinhança e entorno, ora distantes dos centros urbanos que redundam em altos custos de transporte, manutenção, infra-estrutura e serviços, ora na formação de bolsões de miséria melhorada ou assistida dentro do contexto urbano regular.
               Através de programas governamentais  objetivando a diminuição dessas diferenças, os índices referenciados para a definição da situação da pobreza urbana  parecem ter-se alterado na última década. 

               "Definitivamente, o crescimento espetacular do crescimento da informalidade, tanto nas periferias, como no adensamento de áreas já 'consolidadas' em grandes cidades latino americanas ( cidades como São Paulo e Rio de Janeiro) nas últimas décadas - período de notável queda das taxas de crescimento populacional e diminuição da imigração e relativa estabilização da percentagem de pobres - parece assinalar outros fatores explicativos além do aumento absoluto e relativo entre pobres urbanos: a falta de programas habitacionais, a diminuição de investimentos públicos em equipamentos urbanos e serviços e o próprio vicio do planejamento urbano. Todos  fatores que, definitivamente, incidem diretamente na oferta do solo urbanizado". Smolka.

               Além da titularização da propriedade que atua como instrumento fomentador da diminuição das diferenças. O fator tributação define controladores de preços e investimentos e tem o poder de estimular o planejamento e investimento em qualidade de serviços, além de educar os cidadãos no sentido de compreender suas obrigações e direitos no que diz respeito aos gastos públicos. No sentido da formalização da propriedade, os tributos tem o poder de influir diretamente no valor do solo como também pode ser agente de otimização do uso deste pois, da mesma forma que os tributos chamam a atenção da sociedade para contribuição, chama à responsabilidade os gestores do bem público.

               Há que se considerar, além das políticas tributárias e padrões urbanísticos referenciados como  adequados e dentro das normas aceitáveis para habitação humana, a flexibilização de tais padrões ante os investimentos de cada agrupamento social em anos de ocupação de setores em que determinados grupos sociais produziram espaços de convivência, soluções econômicas de sobrevivência e assumiram os custos (físicos, emocionais e sociais) dessas ocupações irregulares mas legítimas, face a ineficiência do Estado no seus papel de gestor do solo urbano.

               Os padrões mínimos de serviços implantados versus padrões resultantes da ocupação irregular na produção do espaço urbano carecem de estudo criterioso. Serviços anteriormente sob responsabilidade do Estado (água e esgoto, energia elétrica, coleta de lixo), em muitos municípios, passaram por processo de privatização e, com isso, os padrões propostos foram também reduzidos a fim de atender à meta proposta e compatibilizar custos com os efeitos da privatização.

               As políticas e programas de habitação popular no Brasil e na maioria das cidades latino americanas tem resultado em importante redução do déficit habitacional. O sistema financeiro que atua como regulador dos recursos para construção da casa própria, passou a gerir também os investimentos e fiscalizá-los (como é o caso da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil no programa Minha Vida).  O crescimento de bairros regulares, inseridos no contexto urbano através de programas governamentais, entretanto, tem-se transformado em núcleos desestruturados que resultam em guetos sociais. Esses espaços, na hierarquia social, estão um nível acima dos bairros e favelas resultantes de invasões em morros e beiras de rio no que diz respeito à propriedade e titularização da terra, ao tempo que a distância dos centros de negócios impõe, entretanto, maior custo de vida. O fato é que, além da construção da casa popular, os investimentos em infra-estrutura não acompanham o volume de financiamento de unidades habitacionais e adensamento de certas áreas de periferia. Por sua vez, a formalização da propriedade ocorre de forma ainda mais lenta.

               É importante salientar que bairros irregulares não se constituem exclusivamente de pobres, conforme afirma Smolka, apesar da alta correlação entre pobreza urbana e assentamentos informais e, segundo Durand-Lasserve , o mapa da ilegalidade corresponder, grande parte, ao da pobreza. No Brasil, o crescimento da população favelada aumentou cinco vezes mais que o número de pobres nos últimos 20 anos. No Rio de Janeiro, segundo Abramo ( 2002), os investimentos em melhoria das favelas resultou numa valorização de 28% da propriedade. Chama a atenção ao fato de que investimentos em urbanização da terra rústica por agentes privados chega a valorizar o patrimônio em até 100%.

               Segundo Raquel Rolnik (1990), 2/3 da população de São Paulo reside em situações que violam os códigos atuais de uso do solo e edificação. Certo é que esses assentamentos acontecem como resultado da dificuldade de acesso à propriedade nas proximidades dos centros comerciais e de negócios e se mantêm ilegais dado à ineficiência de todas as tentativas de levantar os atuais índices através de programas governamentais.

               Invasões nos centros urbanos, bases de morro e encostas, tem custo de melhoria e implantação de infra-estrutura muito superior ao custo de estruturação urbana planejada.  Pesquisas indicam ainda (segundo Abramo, 1999) que o custo de mão de obra para construir nas favelas do Rio é ao menos 10% superior  à do mercado formal. Além do custo ao edificar, reedificar e urbanizar, havemos que considerar também a baixa qualidade resultante no  setor formalizado sem planejamento e sujeito à permissividade política.
               Conclui-se assim que investimentos em melhoria de assentamentos irregulares são mais caros, resultam em menos valorização do que investimentos em setores rústicos. Tais iniciativas, entretanto, contribuem para a melhoria geral da qualidade de vida da população e reverte algum investimento em favor das classes menos privilegiadas.

               Na medida em que investimentos em melhoria dos bairros propiciam a elevação do valor dos imóveis irregulares, incrementa-se a comercialização desses imóveis e consequente transferência da população para setores mais afastados e mais baratos. Os bairros recem urbanizados passam a abrigar população de maior poder aquisitivo ao tempo que a anteriormente residente se transfere para mais distante. A partir desse fato, mais informalidade é gerada e novos investimentos são requisitados continuamente. A economia informal se mantém, institucionaliza-se e gera novas situações de informalidade, seguindo inclusive uma "lei " própria do mercado baseada na necessidade de sobrevivência e subsistência.

               No Brasil, a ocupação supostamente programada, como é o caso das ocupações coordenadas pelo Movimento dos Sem Terra, invadem áreas de risco, limites de rodovias e beiras de rio. Formam aglomerados humanos em locais inadequados que, a curto prazo, constituirão aglomerados caóticos que, mesmo que passem por processos de formalização e titularização através de ações públicas.
               Decisões políticas se sobrepõe aos estudos técnicos e a geram institucionalização de desordem urbana. A permissividade política de interesse eleitoreiro gera, portanto, situações de difícil solução a posteriori.
               A discussão quanto à eficácia da regularização de assentamentos irregulares é tema que carece de atenção especial. A determinação do Plan de Accion del programa Cities without Slums ( 2001) que propos a melhoria da qualidade de vida para aproximadamente 1 milhão de moradias e 5 milhões de pessoas tem caráter humanitário além de político.  O investimento de 50% dos projetos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento em programas de diminuição da pobreza resultou em urbanização e melhoria de assentamentos irregulares. Cabe discutir, além dos investimentos em melhoria e recuperação de assentamentos irregulares, o resultado desses investimentos no momento em que geraram novas demandas. Parece claro que a oferta adequada de terra urbanizada a preços acessíveis seria a solução definitiva para atender a necessidade da população crescente e anularia a necessidade da posse ilegal. O diagnóstico dos organismos internacionais de financiamento das cidades indica o investimento em regularização fundiária como elemento fundamental na diminuição das diferenças e tem sido implementado com o objetivo de modificar as situações de injustiça social. Entretanto, compreende-se hoje que o efeito real desses programas não tem assegurado o efeito proposto mas, de fato, tem contribuído para a manutenção da informalidade e gera efeitos indesejados na medida em que mantém o ciclo de criação da informalidade e regularização com altos investimentos públicos.

               O estabelecimento de uma cultura fiscal, onde a carga tributária seja adequada à capacidade de pagamento, em que a evasão de impostos seja mínima, incluídos os imóveis informais ( mediante avaliação específica que contemple as diferenças físicas entre os vários bairros, setores e situações de infra-estrutura existentes ou em projeto) em cadastro devidamente atualizado permitirão a ampliação da arrecadação ao tempo que propiciará ações públicas que resultarão em benefícios e possível redução da informalidade. Ainda não se identificam sistemáticas de controle sobre os efeitos cíclicos desse procedimento.

               Além do incremento do IPTU e instituição de Contribuições de Melhoria, a adoção de Outorga Onerosa deveria recuperar parte dos investimentos a serem realizados pelo Poder Público para suprir as demandas geradas pelas altas densidades resultantes de novos empreendimentos. Curiosamente, o Estatuto da Cidade, no Brasil, veda a utilização dos recursos arrecadados com a Outorga em implantação de infra-estrutura, que seria a demanda mais diretamente ligada ao aumento da densidade. Parece-nos justo e conveniente que quaisquer mais valias resultantes do processo de ocupação do solo sejam revertidas em alguma contribuição social. A ação dos governos municipais, mediante a adoção de políticas tributárias eficazes e contundentes sobre o valor da terra urbanizada, apesar da ingerência política, é agente capaz de realizar as propostas admitidas como forma de melhoria da qualidade de vida da população em geral.


               As parcerias entre governos municipais, estaduais e federais poderão assegurar acesso às linhas de financiamento que, somadas às sistemáticas de participação social de fato e efetiva e a políticas fiscais patrimoniais rigorosas, poderão gerar o desejado pacto social pela diminuição da pobreza e consequente transformação das cidades em organismos mais justos e equânimes, contanto que sejam estabelecidas regras que neutralizem as regras do jogo imobiliário urbano capazes de propiciar equidade e sustentabilidade às cidades.


REFLEXOES QUANTO AO MECADO DO SOLO E A TITULARIZACAO DA TERRA NA AMERICA LATINA 

Josevita Tapety. 2008

O valor do solo urbano e a propriedade são fatores fundamentais na busca da diminuição das diferenças sociais.

A diminuição da pobreza é resultado da regularização da propriedade e conseqüente valorização desta através da titularização.

O preço da terra urbana se define através da oferta e da procura que determinam os valores de renda e investimentos no desenvolvimento e o planejamento da cidade.

A sistemática de estímulo da titularização, entretanto, enquanto necessariamente induzida a partir de estímulo governamental, carece de cautelosos estudos a fim de que atinja ao objetivos e não atuem de forma oposta e, ao invés de promover diminuição das diferenças, aumente o valor de venda da terra e potencialize as diferenças e o monopólio sobre o solo urbano.

O mercado de solo na América Latina se caracteriza pelo alto nível de informalidade, altos índices de segregação, preços altíssimos dos solos urbanizados e grande volume de vazios urbanos, resultado da especulação imobiliária. Enquanto por um lado há a dificuldade em se efetivar o desenvolvimento urbano de maneira planejada, consorcia-se a esta situação o baixo nível de investimentos na criação de novos solos urbanizados mediante o processo de expansão planejada.

Os valores determinados a investimentos em infra-estrutura são baixos conquanto a arrecadação em tributação destinada a re-investimentos é extremamente baixa. Os estudos mostram que os mecanismos de recuperação de mais-valia aplicados na maioria dos municípios latino americanos- são ineficientes e insuficientes.

Ocorre que a tributação imobiliária não contempla valores capazes de transformar substancialmente as redes de abastecimento, transporte e infra-estrutura em geral. Dessa forma, também a criação de novos distritos a partir das periferias urbanas e solo rural mais próximo dos Centros de negócios é insuficiente mediante os índices de crescimento populacional.

O valor do solo urbanizado e central é substancialmente superior ao valor do solo da periferia. As fórmulas propostas como incentivo à regularização da propriedade na America Latina, em geral, não atingem as metas propostas. Ao contrário, atua como fortalecedor de tais diferenças enquanto não cumpre a função de reverter os investimentos na melhoria dos serviços e valorização do solo urbano nas zonas periféricas. Constatado através dos exercícios realizados e compartilhados, verifica-se que o nível de informalidade é um dos principais elementos de empobrecimento da população de baixa renda que, além de ser fadada a viver distante dos serviços de qualidade (tal como equipamentos de saúde, educação e lazer), é levada a despender mais de duas vezes os valores utilizados pela população de maior renda tanto em transportes quanto todos os demais serviços.

A informalidade e precariedade das instalações mantidas nos centros urbanos e nas metrópoles Latino americana, institucionalizou-se e gerou bolsões de miséria que confrontam zonas de concentração de riqueza com possibilidade mínima de acesso à propriedade.

A situação da informalidade ( 32%, segundo a Organização da Nações Unidas – Habitat . 2003 e 43% nos países em desenvolvimento) é agente de desarticulação dos mercados imobiliários urbanos, beneficia os operadores clandestinos e sabota a arrecadação e conseqüentemente a toda a cidade. A ilusão da possibilidade de acesso a casa própria a baixo custo através da aquisição de lote informal leva a população de baixa renda a assumir altos custos de manutenção, transporte e abastecimento, de maneira que tal situação mantém essas famílias em situação precária. A ilusão de viver mais barato na periferia e na informalidade pelo fato de pagar menos impostos devido é substituída pelas altas despesas com transporte e demais serviços adquiridos a custos muito mais altos que os serviços formais e regulares.

O mercado do solo está diretamente relacionado com a dimensão da cidade e a expansão de suas fronteiras. A maximização dos ganhos no mercado de terras se utiliza da informalidade como estratégia na América Latina. Investimentos em terrenos de menos qualidade, dificuldade de acesso e má localização redundam em criação de solo urbano mais barato e maior lucratividade para os especuladores e agentes comerciais. Em contrapartida, os adquirentes assumem os custos de vida nessas localidades que se tornam mercado-alvo dos investidores.

O ciclo vicioso do loteamento clandestino que requer investimentos do poder público em locais inadequados, titularização e criação de serviços alimenta a criação de novos assentamentos informais e exacerba a situação de precariedade municipal que provoca uma ma aplicação de recursos que dificilmente serão recuperados pela cidade.

A criação e manutenção de informalidade são características comuns tanto às grandes quanto às pequenas cidades na América Latina. O aprofundamento das discussões quanto às regras de regularização da propriedade, à oferta de solo urbanizado e bem localizado tanto para pobres quanto para ricos, assim como a definição de estratégias através de pacto atingido a partir de ampla participação social será, portanto, o instrumento capaz de proporcionar equidade a todos os cidadã

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Campo Mental - Pensamento e Sintonia


por Guilhermina Batista Cruz - guilherminabcruz@bol.com.br

"O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente ao redor de nós, influenciando os nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós, gera nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura".
Léon Denis, em O Problema do Ser, do Destino e da Dor


Quando pensamos, expressamos sempre as idéias que aceitamos como reais para nós e que habitam nosso campo íntimo. Assim sendo, criamos em torno de nós um campo próprio de vibrações mentais, que vão identificar o teor de nossos pensamentos. Campo mental é onde situamos nossa consciência, dentro da faixa evolutiva onde nos encontramos. É nas horas de aflição que demonstramos onde o situamos e quais as forças e sentimentos que cativam os refolhos mais íntimos de nossa alma.

Vivendo em faixas vibratórias diversas, de acordo com a evolução espiritual que já  alcançamos, sintonizaremos nossos desejos e sentimentos de acordo com ela. Os pensamentos que emitimos e os que absorvemos fazem-nos respirar o clima psíquico com o qual nos rodeamos, criando o nosso  próprio céu ou inferno particulares. Nossa mente é assim como se fosse a cabine de comando de nosso Espírito, e nela refletimos nossos desejos, sentimentos e vontades.

E, de acordo com a faixa vibratória onde nos situarmos, os pensamentos que emitirmos poderão nos dar força, nos alimentar de otimismo e alegria ou nos deprimir e anular nossa vontade de viver. É através da mente, seja em que plano estivermos, que nos renovamos e crescemos para a compreensão maior da vida. Em momentos de grande sofrimento, nossas reações dependerão de onde conseguirmos situar nosso campo mental.

Se nossa consciência está muito presa à matéria e às emoções desregradas, poderemos ficar bastante desesperados se perdermos um ente amado pela morte ou pelo fim de um relacionamento. Geralmente, sofremos mais por causa de nossa atitude mental do que pelo problema em si. Falta-nos a identificação com os propósitos superiores para que possamos sair de nosso campo mental restrito e termos o domínio necessário para enfrentar os sofrimentos e reveses da vida com mais discernimento, calma e resignação.

Nossa mente está constantemente recebendo e emitindo vibrações, sejam boas ou más. Por meio delas é que nos ligamos a mentes encarnadas e desencarnadas que se situam na mesma faixa onde vibramos e tanto pode nos ajudar como nos prejudicar. Sabedores de que somos propensos ao recebimento de energias , positivas  ou negativas,   que conosco interagem, precisamos de muito cuidado quando nos ligarmos a uma idéia obsessiva, principalmente, se ela for de teor negativo.  Precisamos sair da faixa vibratória dos pensamentos negativos de rancor, egoísmo e desamor para com o próximo.

Quando expressamos um pensamento em que acreditamos, ele cria força e pode, inclusive, influenciar outras pessoas, se elas estiverem sintonizadas na faixa vibratória em que eles forem emitidos. Podemos também, do mesmo modo, sermos influenciados pelas "idéias" dos outros, e refleti-las através de correntes mentais para todos que estejam na mesma sintonia e vibrem com os mesmos propósitos. Daí a necessidade do "orai e vigiai".

Por projetarmos nossos desejos mais íntimos através do pensamento e nos rodearmos de mentes que conosco interagem, assimilando nossas idéias ou repelindo nosso modo de pensar, precisamos, em nossa atividade mental, de todo o cuidado e discernimento para escolhermos a quais objetivos nos ligaremos e que poderão fazer parte de nosso campo mental. Nossas mais simples atividades diárias poderão ensejar a ligação mental com mentes que transitem e estejam situadas na mesma faixa de vibração.

O teor de nossas conversas, o que lemos, assistimos na televisão, são atividades que podem induzir a ligação com mentes situadas numa determinada faixa de vibração e que poderão nos influenciar positiva ou negativamente. Pensar fixamente ou falar constantemente em algo desagradável pode projetar para outros e atrair para nós as mesmas coisas que criamos e podemos, então, ficar sujeitos a todas as conseqüências que essa influência recíproca pode provocar.

Então, como responsáveis pelos pensamentos que abrigamos em nosso íntimo e por nos ligarmos às mentes que vibram uníssonas com a nossa, precisamos vigiar nosso íntimo para adquirirmos um ambiente psíquico melhor e conseguir romper as barreiras que nos prendem a determinadas faixas vibratórias que impedem o nosso desenvolvimento espiritual. Nosso esforço é importante para construir, com o conteúdo de nossos pensamentos, um campo mental mais propício para o nosso ser.

Quando aceitamos uma idéia má como verdadeira em nosso íntimo, estaremos nos ligando, pelo processo de assimilação de idéias,  às mentes que transitam na mesma faixa vibratória e que podem reforçar com tão grande teor de negatividade essa idéia, que as conseqüências podem ser imprevisíveis para todos os  envolvidos. Uma má idéia só persiste em nós pela aceitação que fazemos dela em nosso íntimo e pelas ligações que estabelecemos com mentes sintonizadas na mesma faixa vibratória.

Precisamos exercitar a vontade para ultrapassarmos as circunstâncias negativas, já que a assimilação das idéias más é que nos fazem ficar presos a ela. Para situar nosso campo mental em níveis mais elevados, é fundamental procurarmos o conhecimento, pois só através da percepção real do que nos rodeia e que interfere em nossas ações, é que  desenvolveremos o raciocínio e o discernimento,  condições indispensáveis para situarmos nossa mente em outras faixas.

Vamos tentar modificar nosso campo mental, elevando o teor de nossos desejos, pensamentos e ações, para que possamos sair das pesadas faixas de vibração onde transitam mentes encarnadas e desencarnadas presas a pensamentos e ações infelizes que nos atrelam, obrigando-nos a caminhar por um bom tempo presos a idéias e atitudes que impedem  nosso crescimento espiritual.

Emmanuel, no Livro Caminho, Verdade e Vida, de Francisco Cândido Xavier, nos fala que Jesus apresentava o mais avançado recurso de domínio próprio. Segundo suas palavras: "Sua lição de domínio espiritual é profunda e imperecível. Revela a necessidade de sermos "nós mesmos", nos transes mais escrabosos da vida, de consciência tranqüila elevada à Divina Justiça e de coração fiel dirigido pela Divina Vontade.

Paz e Luz a todos. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Alimentos para reativar sua glândula pineal: Nutrição para o olho da mente

O olho da mente, cientificamente conhecido como a glândula pineal, é considerado a porta de entrada para os níveis mais elevados de consciência, no caso de você não estar ciente a glândula pineal é uma glândula endócrina em forma de uma pequena pinha no cérebro que produz e secreta o hormônio melatonina, acredita-se também que a glândula pineal seja responsável pela liberação de Dimetiltriptamina (DMT), a glândula pineal é o “princípio da sede da alma”, segundo Descartes, como você pode ver esta glândula tem muitas funções tanto física como metafisicamente, assim mantê-la funcionando em todo o seu potencial deve ser uma prioridade de todos os que procuram uma mente saudável.
À medida que envelhecemos a glândula pineal começa a se calcificar e tornar-se lenta, esta taxa varia consideravelmente por pessoa e estilo de vida, mas o consumo de quantidadesexcessivas de flúor é considerado um fator de risco, isto é em parte porque o fluoreto se acumula em quantidades extremamente altas na glândula pineal causando sua calcificação mais rapidamente, o flúor também pode diminuir a produção de melatonina, duas coisas que certamente não queremos que aconteça, a pesquisa mostrou que esta calcificação da glândula pineal tem uma forte correlação no desenvolvimento da doença de Alzheimer (Mercola 2011), uma dieta pobre carregada de conservantes, açúcar branco, refrigerantes, GMO, produtos químicos e pesticidas é um importante fator de risco para a calcificação e seu envelhecimento precoce também.
O que podemos fazer para combater o processo de envelhecimento e calcificação da glândula pineal ?
Devemos comer uma dieta livre de conservante / química , que seja rica em gorduras saudáveis​​, deve ser um acéfalo (trocadilho intencional), mas o que mais podemos fazer ?
Pineal gland in the brain, artwork

Cortar o uso do flúor

Enquanto você não corta-los completamente você pode reduzir drasticamente os níveis que consome, para fazer isso deve filtrar adequadamente à água da torneira antes de beber uma vez que muitas comunidades têm abastecimento de água que é adicionado flúor, para conseguir isso você precisa usar um filtro que retire o flúor (cuidado com o filtro por osmose reversa ele também retira todos os minerais da água “matando-a”), ou comprando água engarrafada que indica a não adição de flúor de água de nascentes, você também pode mudar para um creme dental sem flúor, muitos tipos de pasta dentais naturais podem ajudar na prevenção da cárie dentária, além de não intoxicá-lo com flúor.

Tome vinagre de maçã

Vinagre de maçã é rico em ácido málico tornando-se um grande tônico para desintoxicar o corpo todo incluindo a glândula pineal, o vinagre de maçã tem uma longa lista de benefícios e pode ajudar a tornar o corpo mais alcalino (isso é uma coisa muito boa), tente tomar uma colher de sopa 3 vezes ao dia ou experimente adicioná-lo no suco de limão com mel, sente-se, saboreie e colha os benefícios.

Coma alimentos ricos em iodo

Coma alimentos ricos em iodo como algas marinhas, outros alimentos como cranberry, feijão verde, couve, brócolis, folhas verdes escuras, banana, camarão e lagosta também são ricos em iodo, esta é uma lista muito curta, incompleta, você pode ajustá-la para atender às suas necessidades e estilo de vida, não só a função de apoio do iodo para a tireoide, mas também é importante para a glândula pineal, o iodo ajuda a remover o flúor do corpo que como discutido acima é muito tóxico, o iodo pode ser prejudicial em níveis super altos por isso se você optar por usar em forma de suplemento considere o uso de uma forma solúvel em água como Iosol, para evitar o risco de excesso ao consumi-lo.

Coma cacau cru

Cacau cru orgânico é rico em antioxidantes que combatem os radicais livres e mantêm o nosso cérebro saudável, isso também pode ajudar a estimular o olho da mente(pineal) ajudando a desintoxicá-la, além disso quem não gosta de chocolate ?

Coma óleo de coco

O óleo de coco(extra virgem prensado a frio) nutre todo o corpo até mesmo a pele e o cabelo, mas a sua maior vantagem é que ele nutre o cérebro e desintoxica a glândula pineal, o óleo de coco é rico em triglicérides de cadeia média que são convertidos em cetonas no fígado, foi comprovado que as cetonas restauram os neurônios e a função dos nervos no cérebro (Mercola 2013), esta é uma grande notícia para reverter os danos no cérebro e pode até mesmo fornecer um avanço na pesquisa da doença de Alzheimer.

Experimente estas ervas

Gotu Kola nutre todo o cérebro e a glândula pineal, brotos de alfafa e de Salsa ajudam a energizar a glândula pineal, todas estas ervas (e muitas outras) ajudam a estimular e desintoxicar a glândula pineal, tente adicionar o broto de a salsa e de alfafa generosamente quando cozinhar para um impulso extra do cérebro !

Pare de usar óculos de sol

Será que isso chamou a sua atenção ? Bem deixe-me explicar, a luz refletida pela retina estimula a glândula pineal, nossos olhos precisam ser expostos à luz solar indireta diariamente (a qualquer uma célula ganglionar fotossensível), se você for usar óculos de sol certifique-se de tira-los pelo menos por um curto intervalo de tempo diariamente, isso também nos fornece vitamina D que é muito importante para a saúde e equilibra o cérebro ajudando a combater a depressão.
Claro que existem várias outras maneiras maravilhosas para promover a saúde dos olhos da mente, como foi dito, isso não é de forma alguma uma lista completa, é sempre bom verificar com um médico fitoterapeuta, especialmente se você tiver algum problema de saúde se for tomar suplementos, agora vá em frente nutrir o olho da sua mente!
@Amie Moisés
Origem: wakingtimes

terça-feira, 14 de abril de 2015

EGO, O FALSO CENTRO


      "O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
      Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.
     Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.
      Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.
      Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma.
      Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer.
      Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.
      E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo.
      Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.
      O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
      O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
      O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade.
      Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.
      Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro...
      Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento.
      A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível.
      E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade.
      Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.
      O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.
      Você obtém dos outros a idéia de quem você é.  Não é uma experiência direta.
      É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.
      Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso -  é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é.
      Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.
      Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...
      Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.
      Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa.
      E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo.
      Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca -  e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
      Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido.
      Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
      Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu.
      Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.
      É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...
      O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?
      O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?  E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...
      E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.
      Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém.
      Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.
      As causas não estão fora de você.
      A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?'
      Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
      E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.
      Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...
      Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.
      E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...
      É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
      Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.
      Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.
      Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
      E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir."
                                                                                  OSHO, Além das Fronteiras da Mente.
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.

As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas



 As afirmações listadas abaixo foram extraídas da vida real. Algumas nas ruas do interior do Brasil, outras nas cidades grandes, outras em discursos de políticos. Percepções diversas, vindas de pessoas com histórias diferentes, mas com um direcionamento em comum: a disseminação do discurso anti-indígena com argumentos falsos

Texto e fotos por Lilian Brandt*, do AXA

Mentira nº 1: Quase não existe mais índio, daqui alguns anos não existirá mais nenhum
Uiwede – corrida com tora de buriti na TI Marãiwatsédé, MT
Uiwede – corrida com tora de buriti na TI Marãiwatsédé, MT
Se as pessoas não sabem muito sobre os indígenas na atualidade, sabem menos ainda sobre o passado destes povos. Mesmo os pesquisadores não encontram um consenso, e os números variam muito conforme os critérios utilizados.
A antropóloga e demógrafa Marta Maria Azevedo estima que, na época da chegada dos europeus, a população indígena no Brasil era de 3 milhões de pessoas. Eram mais de 1.000 povos diferentes, que durante séculos foram exterminados pelos conquistadores, seja por suas armas de fogo, seja pelas doenças que eles trouxeram. De acordo com antropóloga, em 1957 havia no Brasil apenas 70 mil indígenas. O crescimento desta população é observado somente a partir da década de 1980.
Em 1991, quando o IBGE passou a coletar dados sobre a população indígena brasileira, eles somavam 294 mil pessoas. Em 2000, o Censo revelou um crescimento da população indígena muito acima da expectativa, passando para 734 mil pessoas. Em 2010, a população indígena continuou crescendo, e o Censo mostrou que mais de 817 mil brasileiros se autodeclararam indígenas, representando 0,47% da população brasileira. Eles estão distribuídos em 305 etnias e falam 274 línguas.
Esse aumento populacional jamais seria possível se fossem considerados apenas fatores demográficos, como a natalidade e a mortalidade. Esses dados revelam o crescimento do número de pessoas que passaram a se reconhecer como indígenas e o “ressurgimento” de grupos indígenas. Isto se dá porque, antes, ser índio no Brasil significava ser atrasado, inferior, escravizado, catequizado, ser alvo de discriminação, de chacinas e até mesmo não ser considerado humano. Diversos povos foram obrigados a abrir mão de suas línguas e de sua cultura. Agora os povos indígenas voltam a afirmar sua identidade, talvez porque as circunstâncias estejam mais amigáveis. Ou talvez porque este grito não suporte mais ser calado.
Tratá-los simplesmente como “índios” esconde a imensa diversidade cultural e circunstâncias de vida tão distintas. Mas algo muito mais forte que as diferenças étnicas propicia a união destes povos: o fato de se sentirem diferentes de nós.
Temos no Brasil todos os tipos de extremos: índios que possuem seu território assegurado e índios que morrem lutando por seu território; índios brancos e índios negros; índios cristãos e índios pajés; índios isolados e índios urbanos.
Os povos indígenas isolados são aqueles que não estabeleceram contato permanente com a população nacional e com o Estado. As informações sobre eles são transmitidas por outros índios, por moradores da região e por pesquisadores. A Funai (Fundação Nacional do Índio) tem cerca de 107 registros da presença de índios isolados em toda a Amazônia Legal, dos quais 26 já foram confirmados e estão sendo monitorados, seja por imagens de satélite, sobrevoos ou expedições na região. Não se sabe, no entanto, a quantidade destes povos e indivíduos que vivem voluntariamente isolados.
Muitos já tiveram alguma experiência de contato não amistosa com garimpeiros, madeireiros, grileiros e traficantes próximos à fronteira. Também é provável que tenham tido ou mantenham contato com populações ribeirinhas, seringueiros e, principalmente, com algum outro povo indígena.
Os resultados do contato conosco são trágicos, a começar pelas doenças que transmitimos, para as quais eles não têm imunidade: sarampo, rubéola, caxumba, difteria, tétano, hepatite, gripe e outras. Conhecendo esta realidade, estes povos que vivem em situação de isolamento escolheram fugir. Isso não significa, no entanto, que eles não tenham notícias de nossa sociedade. Eles observam rastros, utilizam ferramentas e se relacionam com outros indígenas que contam as novidades do mundo do branco.
Em outros tempos, como muitos devem se lembrar, o órgão governamental indigenista, na época chamado SPI (Serviço de Proteção aos Índios), deixava presentes como espelhos, panelas e ferramentas para atrair os indígenas. Hoje a Funai busca garantir que eles tenham seu território assegurado para transitarem livremente. Mas as ameaças são muitas e cada vez mais seus territórios são menores.
Os indígenas que vivem em áreas urbanas somam 324 mil, ou seja, 36% do total da população indígena, um número que vem crescendo ano após ano (IBGE, 2010). Há dois motivos recorrentes para que esses índios vivam em áreas urbanas. Um deles é a migração dos territórios tradicionais em busca de melhores condições de vida na cidade. O outro é que os limites das cidades cada vez mais alcançam as fronteiras de seus territórios.
As pessoas continuam acreditando que a população indígena está sendo reduzida, mesmo que os números digam o contrário e que eles estejam mais presentes nos centros urbanos. A desinformação tem uma consequência: fingimos que os índios estão deixando de existir e gradualmente não pensamos mais na situação deles. Assim fica mais fácil justificar nenhum respeito a seus direitos e à sua própria vida.

Mentira nº 2: Os índios estão perdendo sua cultura

Crianças Tapirapé, TI Urubu Branco, MT
Crianças Tapirapé, TI Urubu Branco, MT
Esta afirmação resume uma série de outras ideias muito difundidas: “índio que usa celular não é mais índio”, e suas variáveis televisão, computador, calça jeans, tênis, rede de pesca, barco a motor, caminhonete, trator e etc.
De modo geral, cultura é o conjunto de manifestações que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a língua, a moral, os costumes, os comportamentos e todos os hábitos e aptidões adquiridos por pessoas que fazem parte de uma sociedade específica.
Sendo composta por diversos elementos, a cultura está em constante transformação, se inter-relacionando de diferentes formas com o ambiente, as circunstâncias, outras culturas e consigo mesma. Logo, a cultura não é algo que se perde, é algo que se transforma constantemente.
É certo, no entanto, que não temos uma relação de troca cultural justa com os indígenas. Nossa sociedade se caracteriza por termos uma cultura dominadora e impositiva. O impacto do nosso modo de vida reflete diretamente na vida dos indígenas, de forma que hoje já não há a mesma fartura e biodiversidade que se tinha em 1500. O rio está contaminado por agrotóxicos, a floresta foi derrubada e a quantidade de peixe e de caça foi drasticamente reduzida.
Neste sentido, a incorporação de elementos de outra cultura é também uma estratégia de resistência. O uso de equipamentos de pesca dos “brancos”, por exemplo, pode ser um modo de resistência cultural, num entendimento de que pescar é mais importante para a identidade indígena do que se manter preso a técnicas tradicionais e não chegar com o peixe em casa.
Uma das maneiras de se fortalecer a tradição é inovar a partir de uma forte referência tradicional. Um grupo de jovens Guarani Kaiowá nos dá um bom exemplo de resistência cultural. O grupo de rap Brô MC’s é formado por duas duplas de irmãos, e daí o nome “brô”, do inglês “brother”. Suas rimas misturam português e guarani e denunciam o desmatamento ilegal, o esquecimento e a perseguição que seu povo sofre por pressão do agronegócio. (Curta o som aqui)
Outras vezes, objetos não-indígenas podem ser inseridos na cultura indígena com um significado e uso completamente diferentes do nosso, como garrafas plásticas cuidadosamente cortadas e limadas para fazerem colares, à semelhança do que fazem há centenas de anos com as lascas de caramujos. E outras vezes, por fim, eles podem incorporar determinado elemento de outra cultura e nem por isso serem “menos índios”, assim como comer sushi não nos torna japoneses, tomar chimarrão não nos torna gaúchos e tomar banhos diários não nos torna índios.
Nos assusta a velocidade com que alguns indígenas incorporam elementos da nossa cultura no seu modo de vida. Mas sabemos que as trocas entre povos sempre existiram. Se nos chama a atenção ver um indígena ao celular, é porque não sabemos que o adorno que ele utiliza em rituais de sua tradição há séculos podem ter sido confeccionados por um outro povo e utilizados como moeda de troca. E por que não?
Com que velocidade os Karajá incorporaram elementos da cultura Tapirapé, e vice-versa? Com que velocidade os brasileiros incorporam elementos da cultura norte-americana? Não existe meios de medir precisamente as causas e os efeitos destas trocas culturais.
Nossa sociedade não aceita que este sujeito tão diferente de nós possa utilizar as mesmas tecnologias e bens de consumo que utilizamos. Assim, ao mesmo tempo que vemos os indígenas como inferiores por não terem desenvolvido as tecnologias que nos saltam aos olhos, não aceitamos que ele desfrute das facilidades da vida contemporânea. Como se tudo o que temos hoje fosse resultado apenas do trabalho de homens brancos e para usufruto exclusivo de homens brancos. Como se o progresso tecnológico e econômico não tivesse sido impulsionado também pela tomada de territórios e riquezas que pertenciam a esses índios.
Mas para que índio quer tecnologia? Tenho visto indígenas vendendo artesanatos através do Facebook, trocando e-mails com lojas que revendem suas produções, promovendo abaixo-assinados para terem seus direitos respeitados, se comunicando com parentes que ficaram na aldeia enquanto ele saiu para estudar na cidade e namorando, como a gente.
O uso da fotografia e, especialmente, a produção de vídeos, tem se destacado entre os povos indígenas com a função de registrar a realidade, de encenar mitos e histórias, de criar estórias e de mostrar para outros povos (indígenas ou não) um pouco de sua cultura. As produções audiovisuais também têm sido usadas como uma ferramenta de denúncia ao ataque de seus direitos.
Outro equipamento que tem sido bastante útil é o GPS, que pode ser uma ferramenta de vigilância e atuação conjunta com os órgãos responsáveis pelo combate do garimpo, de madeireiras e de outras atividades ilícitas.

Mentira nº 3: Estão inventando índios, agora todo mundo pode ser índio

Moça Xavante com seu porquinho na TI Marãiatasédé, MT
Moça Xavante com seu porquinho na TI Marãiatasédé, MT
Se a pessoa se reconhece como indígena e se identifica com um grupo de pessoas que também se reconhecem como indígenas e a consideram indígena, então ela é. Não existe nenhum reconhecimento da Funai, nenhum julgamento de um não-indígena e nenhum critério imposto por nossa sociedade que possa ser maior do que o seu sentimento e o sentimento da coletividade a qual ela pertença.
Ela pode se considerar indígena por uma questão genética e/ou cultural, mas não cabe a nós e nem ao governo atribuir identidade a outra pessoa. A autodeclaração é defendida também pela Convenção nº 169 sobre Povos Indígenas e Tribais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2000.
Por isso, não tem fundamento a ideia de que “sendo assim, todos os brasileiros seriam indígenas, já que correm em nossas veias sangue indígena, daquela bisavó que foi pega no laço”. Este discurso não viria de um indígena. Se o cidadão diz isso querendo reduzir o direito de ser índio na atualidade, é evidente que está se identificando muito mais com o bisavô estuprador do que com a bisavó violentada.
Repare que a televisão, por exemplo, se esforça em caricaturar os indígenas. Quando a TV mostra aquele “indiozão” bonito da Amazônia, forte, guerreiro, caçador, todo enfeitado de penas e muito bem pintado, o povo acha bonito de ver e até acha que não existe mesmo racismo contra indígena. Mas quando a TV diz que aquele é um índio, discretamente nega outras possibilidades de índios.
Nega que existam índios sem penas e sem pinturas, com jeans e celular. Nega aqueles que não têm mais arara em seu território e por isso não usam cocar. Nega aqueles que têm cabelo crespo porque os negros escravizados fugiram para sua aldeia e foram bem recebidos como parceiros de resistência. Nega aqueles que vivem nas cidades porque seus territórios foram invadidos, aqueles que vão para Brasília protestar, etc.
Os índios são como são. Se nossa sociedade tem dúvida se um indivíduo é índio, esta dúvida não encontra recíproca por parte dele. Quem é índio sabe que é, porque tem a vivência do seu povo e sente na pele o racismo.
Nossa sociedade acredita que existe uma escala de quem é mais ou menos índio: “vive em maloca? Tem cabelo liso? Sabe pescar? Usa celular? É rico?”. Mas não é assim que funciona, não existe uma tabelinha para a gente definir quem é e quem não é, quem é mais e quem é menos. Essa crença evidencia o desejo oculto de querer que tenham menos índios, pois alguns já estão “aculturados” e “integrados”.
A Convenção nº 169 da OIT garante a autodeterminação dos povos e o direito de que cada população indígena ou tribal possa escolher seus próprios caminhos para o futuro. Esse princípio consta ainda na Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
O entendimento de que os indígenas seriam assimilados até deixarem de existir já foi superado na legislação, mas ainda precisa ser superado na sociedade.

Mentira nº 4: O Brasil é um país miscigenado, aqui não tem racismo

Meninas Karajá da Aldeia JK, TI Parque do Araguaia, TO
Meninas Karajá da Aldeia JK, TI Parque do Araguaia, TO
Racismo, assim como machismo, é algo sutil. Às vezes ele aparece escancarado, quando um sujeito chama um negro de “macaco”, quando uma mulher é estuprada, quando se constata um salário menor para mulheres e negros do que para homens brancos para fazerem exatamente o mesmo trabalho. Esse racismo escancarado é muitas vezes (mas nem sempre) condenado pela sociedade.
Mas nem tudo é preto no branco, racismo ou não-racismo. Há infinitas combinações de cores, há infinitas formas de demonstrar e de esconder o racismo e ainda assim julgar-se superior.
Com indígenas é pior, porque a diferença não está só na cor da pele, no tipo de cabelo e na classe social. Além de tudo isso, a diferença é cultural e muitas vezes até linguística. Os indígenas são os brasileiros mais ímpares e diferentes que compartilham o mesmo território que nós.
O racismo pode aparecer em momentos leves, entre amigos. As pessoas naturalizaram de uma tal forma o racismo contra indígenas, que não percebem que jamais poderiam usar aquelas mesmas palavras para se referir a qualquer outro grupo de pessoas. Nossa sociedade tem sido muito conivente com o racismo contra indígenas, a despeito do que diz nossa legislação.
Conforme a Constituição Federal e a Lei nº 7.716/89, serão punidos os crimes de discriminação ou preconceito contra raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, sendo o crime de racismo inafiançável e imprescritível. No entanto, diariamente os indígenas são discriminados e são raros os casos de denúncia e condenação.
As redes sociais, por exemplo, estão repletas de conteúdo racista. Em abril de 2014, a Justiça Federal condenou um jornalista amapaense por cinco mensagens que utilizavam expressões de desprezo se referindo aos índios Guarani Kaiowá. De acordo com a decisão, o jornalista prestaria serviços comunitários na Casa de Apoio à Saúde Indígena do Amapá (Casai) e pagaria seis salários mínimos ao Conselho de Caciques de Oiapoque e à Associação dos Indígenas de Wajãpi. A proposta é que, prestando serviços comunitários na Casai, o jornalista conviva com indígenas e, conhecendo a realidade, passe a respeitá-los. Tomara que sim. (Saiba mais)
Na esfera política os discursos de ódio estão cada vez mais escancarados. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Deputado Federal Luís Carlos Heinze (PP-RS), diversas vezes desqualificou publicamente quilombolas, índios, gays e lésbicas (saiba mais). As urnas mostraram que a população o apoia: em 2014, Heinze foi reeleito pela 5ª vez, como Deputado Federal do Rio Grande do Sul, sendo o deputado mais votado do estado.
Os discursos racistas atingem diretamente os indígenas. O relatório Conflitos no Campo Brasil 2013, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), mostra que, das 1.266 ocorrências relacionadas ao conjunto dos conflitos no campo no Brasil, 205 estão relacionadas a indígenas, totalizando 16%. A maior parte destes casos refere-se a conflitos por terra ou retomada de territórios, somando 154 ocorrências.
violência-geral
Os povos indígenas são os mais afetados pela violência no Brasil. Ainda segundo o relatório Conflitos no Campo Brasil, em 2013, das 829 vítimas de assassinatos, ameaças de morte, intimidações, tentativas de assassinato e outras, 238 eram indígenas. Das 34 mortes por assassinato, 15 eram de indígenas. Eram também indígenas 10 das 15 vítimas de tentativas de assassinato, e 33 das 241 pessoas ameaçadas de morte.
É triste constatar que as mortes de indígenas no campo, as quais se caracterizam como um verdadeiro genocídio, encontram uma referência no discurso de figuras públicas e lideranças políticas, quase sempre motivadas por interesses econômicos.
O racismo (assim como o machismo) habita o imaginário social, paira sobre a sociedade como um todo, e, consequentemente, sobre cada indivíduo. Como toda ideia, ele é vivo, autônomo e se faz transparecer em ações e ideologias.
Um dos modos que o racismo age é pela generalização, quando se nota algo negativo de um indivíduo e se transfere essa questão ofensiva para o povo todo. Utilizando um exemplo bem comum em cidades pequenas que convivem com indígenas, imagine que alguém veja na rua um homem bêbado. Se o homem não é indígena, comenta-se “este homem está bêbado”, mas se ele for indígena o comentário é “os índios estão sempre bêbados”.
A sociedade é racista, e mesmo que você não se considere racista, às vezes ele pode escapar discretamente. Vigie seus atos, pensamentos, sentimentos e se permita ver.

Mentira nº 5: Os índios têm muitos privilégios

Xavante, Aldeia Pimentel Barbosa, TI Pimentel Barbosa, MT (Foto: Maíra Ribeiro)
Xavante, Aldeia Pimentel Barbosa, TI Pimentel Barbosa, MT (Foto: Maíra Ribeiro)
Se estivéssemos aqui falando de privilégios como desfrutar de uma vida em meio à natureza, estaria tudo bem. Mas não, infelizmente este discurso vem acompanhado da crença de que “índio recebe um salário do governo a partir do momento que nasce”.
Pior do que ter tantas pessoas acreditando nisso, é a surpresa que expressam quando descobrem que não. “Não? Mas então, do que vivem?”. Parece impossível acreditar que trabalham e que batalham pelo seu sustento. Ao contrário do que tantos brasileiros acreditam, não existe muita vantagem em ser indígena hoje em dia. Existe sim, muita coragem.
Em relação à saúde, a diferença é que os indígenas são atendidos pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), que é parte do mesmo SUS que atende aos não-indígenas. Na teoria, essa distinção permite um olhar diferenciado dos profissionais de saúde, considerando questões culturais e atuando em consonância com as práticas de saúde tradicionais indígenas. Na prática, como os nossos postos de saúde, alguns funcionam bem, outros não. Faltam equipamentos, às vezes não têm remédios, faltam profissionais especializados, etc. Falta percorrer um longo caminho.
Na área da educação por muitos anos os indígenas estiveram expostos à imposição de nossos valores e negação de sua identidade e cultura. Hoje o Ministério da Educação é responsável por desenvolver uma educação diferenciada, intercultural e bilíngue, dando espaço aos processos de aprendizagem e aos conhecimentos indígenas. Além disso, os indígenas podem elaborar seus próprios currículos e rotinas escolares com gestão indígena. De acordo com o Ministério da Educação, a maioria dos professores ainda são não-indígenas, totalizando 7.968, enquanto professores indígenas somam 7.321. Na prática, como no ensino público para não-indígenas, com exceção de alguns casos de sucesso, faltam materiais didáticos específicos, alimentação (sendo que poucas vezes esta é de fato diferenciada), infra-estrutura etc.
Quanto aos benefícios sociais, indígenas são considerados pelo INSS “segurados especiais” para fins de acesso ao salário maternidade, aposentadoria por idade, auxílio doença, auxílio acidente, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio reclusão.
Segurados especiais são os trabalhadores rurais que produzem em regime de economia familiar, sem utilização de mão de obra assalariada. Além dos indígenas, são considerados segurados especiais os agricultores, os seringueiros e os pescadores artesanais. Os indígenas precisam comprovar que sua subsistência advém do extrativismo, do plantio ou de outra atividade vinculada à terra e aos recursos naturais. Ou seja, os indígenas acessam estes benefícios não por serem indígenas, mas sim por viverem de atividades rurais, pois se forem assalariados, deixam de ser segurados especiais.
E, por fim, os indígenas possuem o direito de usufruir de seu território. As Terras Indígenas não
são dos indígenas, são propriedade da União, terras públicas que pertencem a toda a nação brasileira, cedidas aos índios em regime de posse permanente e usufruto exclusivo. Ou seja, eles não têm a propriedade das terras: ganham o direito de nelas residir e fazer uso das riquezas do solo e das águas para a atual e as futuras gerações viverem.

Mentira nº 6: Os índios são tutelados, por isso índio não vai preso e não pode comprar bebida alcoólica

Xavante, TI Marãiwatsédé
Xavante, TI Marãiwatsédé
Essa história é antiga e tem um fundo de verdade. Desde o período colonial até o século passado, o Estado sempre considerou que os indígenas deveriam ser integrados, ou seja, deveriam negar suas identidades em nome de sua inserção à nação brasileira.
Esta concepção foi perpetuada por séculos e virou “tutela” no Código Civil de 1916 (artigo 6º), que enquadrou os índios na categoria de relativamente incapazes, condição semelhante à dos órfãos menores de idade no século XIX.
O Estatuto do Índio (Lei n. 6.001/73) endossou o regime de tutela, depois de separar categorias de índios em “isolados”, em “vias de integração” e “integrados”, estabelecendo que o regime tutelar se aplicaria aos índios ainda não integrados.
O Estado tutor é aquele que decide pelos índios e os mantém sob controle. Em nome desta “tutela”, o Estado brasileiro promoveu um verdadeiro genocídio. A Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes cometidos pelo governo ou agentes da ditadura militar, estima que somente a construção de estradas na Amazônia, no governo do general Médici (1969-1973), matou em torno de 8 mil índios (saiba mais).
Na região do Araguaia, o povo Xavante de Marãiwatsédé entregou um relatório de 71 páginas à Comissão Nacional da Verdade. Entre os crimes, estão a invasão do território com a condescendência de autoridades, empresários e poderes locais e nacionais (saiba mais).
A legislação só tomou um rumo diferente em 1988, com a atual Constituição Federal Brasileira. Nossa Constituição reconheceu e introduziu os direitos permanentes dos índios, abandonando a ideia de que eles seriam assimilados à nossa sociedade e endossando a ideia de que os índios são sujeitos presentes e capazes de permanecer no futuro. Ela reconheceu ainda o direito dos indígenas às suas terras e à cidadania plena. Esse avanço na legislação indigenista foi uma conquista do movimento indígena.
O Novo Código Civil Brasileiro (2002), em seu Art. 4º, diz que “a capacidade dos índios será regulada por legislação especial”. Como essa tal lei não existe, alguns podem acreditar que se trata do antigo Estatuto do Índio, e daí se cai em contradição, já que o referido Estatuto trata o índio como semi-incapaz.
O Estatuto do Índio e suas ideias retrógradas nunca foram oficialmente revogados, mas muitos especialistas acreditam que a Constituição Brasileira, como nossa lei máxima, por si só já o revoga em relação à tutela. Porém, muitos juristas, legisladores e a população brasileira ainda remetem ao Estatuto do Índio para embasar decisões e discursos, valendo-se da contradição das leis e provocando insegurança jurídica para os povos indígenas.
Por isso, no entendimento da Funai e de diversos especialistas, indígenas são tão cidadãos quanto nós, e podem sim comprar bebidas alcoólicas fora das Terras Indígenas. Aliás, o comerciante que não vendesse estaria cometendo um crime ao discriminar o indígena, além de uma prática abusiva prevista no inciso IX do art. 39 do Código de Defesa do Consumidor.
Algumas instâncias governamentais encontram amparo legal no Estatuto do Índio para proibir a venda de bebidas alcoólicas para indígenas. O Artigo 58 desse Estatuto estabelece que constitui crime “propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados”.
Em relação à criminalização, o Estatuto do Índio diz que a pena deve ser atenuada, e “se possível, em regime especial de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos da habitação do condenado” (Art. 56).
A tutela em nada tem a ver com a não-responsabilização do indivíduo por um crime que praticou. Tem a ver com um julgamento diferenciado caso a questão se relacione à sua prática cultural e à necessidade de um intérprete em seu interrogatório, caso o indígena não tenha completo domínio da língua portuguesa.
Em relação aos delitos, a lei para os indígenas é a mesma que a nossa. Índios podem ser e são presos quando roubam, quando praticam atos de violência, cometem assassinatos e por todos os motivos que os não-indígenas são presos. São presos também injustamente, para serem calados e oprimidos, para não serem cumpridos seus direitos como no caso do Cacique Babau, que luta pelo seu território e sofre continuamente perseguição das autoridades (saiba mais).

Mentira nº 7: Tem muita terra para pouco índio

Vista aérea da Aldeia Santa Isabel, TI Parque do Araguaia
Vista aérea da Aldeia Santa Isabel, TI Parque do Araguaia
Em 1978, o Estatuto do Índio ordenou ao Estado brasileiro a demarcação de todas as terras indígenas até dezembro de 1978. Depois de dez anos, a Constituição Brasileira reconheceu aos índios os “direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (Art. 231), e estabeleceu o prazo de cinco anos para a demarcação de todas as Terras Indígenas.
Quando a Constituição traz o termo “direitos originários”, ela revela que este direito vem desde sempre, antecedendo à própria Constituição. As demarcações são apenas reconhecimento desse direito pré-existente. A noção de território não constitui apenas uma relação de ocupação ou exploração, mas o fundamento da existência do povo, pois somente em seu território é possível a prática plena de sua cultura.
No entanto, até hoje o Estado se recusa a cumprir sua obrigação e a cada dia crescem mais os interesses econômicos sobre estas terras tradicionais. Não bastasse isso, muitas Terras Indígenas são cada vez mais diretamente ou indiretamente afetadas por grandes empreendimentos, monoculturas com uso abusivo de agrotóxicos, mineradoras etc.
Enquanto os agentes destes grandes poderes econômicos tentam barrar todos os processos de demarcações, também dizem que é preciso modificar o procedimento de demarcação. O Decreto 1.775/1996 detalha todo o procedimento, havendo um grupo técnico especializado, coordenado por antropólogo, com a finalidade de realizar estudos complementares de natureza etno-histórica, sociológica, jurídica, cartográfica, ambiental e o levantamento fundiário necessários à delimitação. Após passar por autorização da Funai, é aberto um prazo para contestações e somente depois é feita a demarcação.
Os ocupantes não-indígenas são indenizados tanto pelas benfeitorias quanto pelos títulos de propriedade de boa fé. Além disso, os ocupantes não-índios que atendem ao perfil da reforma agrária são reassentados, a cargo do Incra.
As Terras Indígenas são inalienáveis e indisponíveis, ou seja, os indígenas não podem efetuar nenhum negócio jurídico que acarrete a transferência da titularidade de direitos sobre estas terras, e nem mesmo permitir o beneficiamento de não-indígenas com a exploração dos recursos naturais, pois o usufruto é exclusivos dos indígenas.
O discurso anti-indígena tem como principal argumento que as Terras Indígenas ocupam 13% do território nacional. Mas os brasileiros não se dão conta da imensa área que os latifúndios ocupam. O Brasil tem uma área de mais de 851 milhões de hectares. Destes, mais de 318 milhões são ocupados por grandes propriedades, totalizando 37% do território nacional.
A tabela abaixo mostra a quantidade de propriedades, a soma da área que estas propriedades ocupam e a porcentagem que esta área representa sobre o território nacional. Para compreender melhor, consideramos que “minifúndio” é o imóvel de área inferior a um módulo fiscal (Decreto nº 84.685/1980), “pequena propriedade” é o imóvel rural com área entre 1 e 4 módulos fiscais (Lei nº 8.629/1993) e “média propriedade” é o imóvel rural com área superior a 4 módulos fiscais e até 15 módulos fiscais (Lei nº 8.629/1993).
Não há definição legal para “grande propriedade”, a qual, no entanto, passou a ser tida na prática das políticas agrárias como o imóvel rural com área superior a 15 módulos fiscais.
Módulo fiscal é uma unidade de medida corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável (Lei nº 6.746/1979). A depender do município, um módulo fiscal varia de 5 a 110 hectares.
Proponho agora um exercício de imaginação. Consideremos que estes 130 mil proprietários vivam em suas grandes terras com suas famílias, e imaginemos que cada lar tenha em média 3,3 moradores, a mesma média dos lares brasileiros de acordo com o Censo Demográfico 2010.
Vamos desconsiderar que, ainda segundo o Incra, 69 mil das grandes propriedades, que equivalem a mais de 228 milhões hectares (40% da área das grandes propriedades) são improdutivas. A maior parte destas pessoas possuem outras fontes de renda, não produzem seus alimentos e não possuem laços ancestrais com a terra. Muitas vezes os proprietários não são pessoas, e sim empresas. Mas, por hora, deixemos estas questões de lado e nos voltemos aos números, tratando igualmente a área indígena e a de grandes proprietários.
Os indígenas, por sua vez, ocupam uma área de 106 milhões de hectares, sendo mais de 567 mil pessoas, conforme a tabela abaixo:
Ou seja, os indígenas estão em um território quase 3 vezes menor que o território das grandes propriedades, apesar de ser quase 4 vezes mais populoso. E repare que não estão sendo contados aqui os indígenas que vivem nas cidades, somente os que vivem em Terras Indígenas. Seria preciso multiplicar em 37 vezes o número de proprietários no latifúndio para ele se equivaler à área por pessoa em Terra Indígena. Portanto, nota-se: temos no Brasil muita terra para poucos proprietários.
A maior parte das terras indígenas está na Amazônia Legal, onde vive cerca de 55% da população indígena no Brasil. Nas demais regiões do país, principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, além do estado do Mato Grosso do Sul, os povos indígenas conseguiram manter a posse em áreas geralmente diminutas e esparsas, espremidos entre cidades e fazendas, sem as condições mínimas necessárias para manter seu modo de vida. É justamente nessas regiões que se verifica atualmente a maior ocorrência de conflitos fundiários e disputas pela terra.
O que está em jogo não é aquele pé de fruta que o avô plantou e onde ele amarra sua rede. Não importa que ali estejam enterrados os seus antepassados, que ali seja a morada de seus espíritos e do mundo sagrado. O “desenvolvimento” vem como um trator atropelando tudo com suas hidrelétricas, mineradoras, gados, sojas e milhos transgênicos. Os índios amam o seu território. E muitos morrem porque os não-índios amam o dinheiro.

Mentira nº 8: Os índios são preguiçosos e não gostam de trabalhar

Mulher Xavante na TI Marãiwatsédé, MT
Mulher Xavante na TI Marãiwatsédé, MT
Cá entre nós, poucas pessoas verdadeiramente gostam muito de trabalhar. A maioria trabalha porque precisa do dinheiro para pagar as contas, para comprar comida, para comprar o celular e para comprar sempre e cada vez mais tudo que possa surgir. Essa é a lógica das sociedades capitalistas: ter cada vez mais, acumular e nunca estar satisfeito com o que tem.
A lógica indígena, tradicionalmente, não se interessa em acumular, e sim em desfrutar. Portanto, se antes do sol chegar ao alto do céu, o homem já pescou peixe para a família toda se alimentar naquele dia, ele pode voltar para casa e descansar, pois sua obrigação já foi cumprida.
Mas espera aí… caçar, pescar, plantar, colher, manejar, construir sua casa, fazer seu barco e fazer tudo mais que uma vida auto-subsistente necessita não parece nada fácil. Imagine então que para realizar cada uma destas tarefas é preciso muitas outras. Para fazer o barco, por exemplo, é preciso entrar no mato, encontrar uma árvore de uma espécie específica que esteja num bom tamanho e formato, derrubar a árvore, tirar da floresta, cortar e moldar a madeira, queimar de um modo específico com uma lenha específica, moldar novamente como o avô ensinou, queimar de novo, e pronto, finalmente ele tem o barco para pescar, resumidamente. Quem se habilita?
Durante séculos os indígenas estiveram domesticando diversas espécies de plantas que hoje consumimos, como o milho, um dos grãos mais produzidos no mundo, e a mandioca, que os brasileiros tanto gostam. Estas plantas e tantas outras, como feijões, abóboras, carás e tomates, não eram encontradas na natureza como hoje as conhecemos. São o resultado de muito trabalho indígena.
Superando esse preconceito, vamos considerar que os indígenas também têm o direito de querer comprar coisas que compramos, e, portanto, precisam de dinheiro. Algumas etnias estão buscando meios de vida que integrem sua cultura a essa nova necessidade.
É o caso do povo Paumari, que vive no sudoeste do Amazonas e está sendo pioneiro no manejo de pirarucu. Há 5 anos eles fazem o manejo de 23 lagos, e no final de setembro de 2014 realizaram a pesca de 3.523 kg de pirarucu legalizados pelo Ibama. A iniciativa é apoiada pelo projeto Raízes do Purus, realizado pela OPAN – Operação Amazônia Nativa com o patrocínio da Petrobras (saiba mais).
Outro exemplo de geração de renda aliado à sustentabilidade e à cultura vem da etnia Kisêdjê, que habita a Terra Indígena Wawi, anexa ao Parque Indígena do Xingu. Desde 2011 a comunidade participa de um projeto para produção e comercialização de óleo de pequi. Em 2013 foram produzidos 170 litros do óleo na mini usina contruída na aldeia Ngohwêrê. O projeto conta com o apoio técnico do ISA – Instituto Socioambiental e financeiro e organizacional do Instituto Bacuri e do Grupo Rezek (saiba mais).

Mentira nº 9: Nossa sociedade é mais avançada, não temos nada para aprender com os índios

Dutra prepara raiz medicinal. TI Marãiwatsédé, MT
Dutra prepara raiz medicinal. TI Marãiwatsédé, MT
Todo mundo sabe que a cultura brasileira tem influência indígena. Com eles aprendemos diversas palavras, o respeito à natureza e o hábito de tomar banho todos os dias, certo? No entanto, para cada elogio existe um contraponto: “índio que fala português não é mais índio”, “antes índio era inocente, agora índio só pensa em dinheiro” e a pior frase de todas: “índio fede”.
Essa mentira é muito comum: “índio fede”. Não, o que fede é o preconceito. Índio tem cheiro de óleo de tucum, de urucum e jenipapo, tem cheiro de fogo feito em casa, de peixe assado, de suor de quem trabalha, de banho de rio, de sabonete e de perfume comprado em shopping.
Enchemos o peito para dizer que o Brasil é um país lindo, rico em minérios, com uma biodiversidade impressionante e com muita fartura de água. Mas seguimos exaurindo os nossos recursos naturais perseguindo um desejo de crescimento que parece nunca ter fim, como se os recursos naturais fossem infinitos. Mas saibam, recursos naturais chegam ao fim.
Estamos sacrificando nossa diversidade biológica e cultural para enriquecer ainda mais quem já é rico. E os índios, que são o símbolo maior de uma vida sustentável, que são os grandes conhecedores da biodiversidade brasileira, tão pouco conhecida pelos cientistas, estão sendo desprezados.
Enquanto se desmata incessantemente a Amazônia e o Cerrado, desaparecem espécies de plantas que poderiam ser utilizadas para tratar inúmeras doenças, conhecidas ou não. Enquanto se pratica o genocídio e se mantém os indígenas como reféns do “progresso”, infinitas possibilidades de conhecimento vão desaparecendo e os brasileiros não se dão conta.
Mas fora do Brasil, há quem esteja bem atento às nossas riquezas. Em 2013, quatro coreanos foram presos em Canarana (MT) por biopirataria no Parque Indígena do Xingu. Eles fizeram um acordo com os Kamaiurá, do Alto Xingu, e pagaram para obter 10 quilos de raízes e plantas usadas pelos índios para fins cosméticos. Os coreanos viviam nos Estados Unidos e um deles trabalhava para uma empresa de cosméticos. O acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais, sua proteção e a repartição de benefícios associados é regido pela Medida Provisória nº 2186/16, de 23 de agosto 2001 (saiba mais).
E não se trata apenas de conhecimentos da natureza, mas até mesmo de uma nova estrutura econômica e social, de um novo jeito de fazer política, de tomar decisões, de olhar para nós mesmos, para nossos semelhantes e para aqueles que são diferentes. Ninguém quer ouvir as contribuições que o pensamento indígena pode trazer.
O racismo é uma voz que sussurra ao ouvido dizendo que os índios são mais “atrasados” que a gente. Como se o “desenvolvimento” fosse uma linha única para toda a humanidade, como se nossa sociedade fosse um exemplo a ser seguido. Já que nós gostamos tanto de olhar para nosso umbigo, vejamos também o que o nosso “desenvolvimento” tem gerado: produção de lixo, contaminação e esgotamento de água, desigualdade social, violência e por aí vai…

Mentira nº 10: Os índios atrasam o desenvolvimento do País

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Povo Karajá na festa do Hetohoky na Aldeia Santa Isabel, TI Parque do Araguaia
Mesmo que no mundo todo cada vez mais aumente a preocupação ambiental, o Brasil continua com a mesma ideologia que balança no centro de nossa bandeira, nossa palavra de ordem é o progresso.
Um progresso desesperado, que não pode dar o tempo para fazer o estudo de impacto ambiental, que não pode analisar as possibilidades de redução de danos, um progresso que chega custe o que custar, e que agora, mais do que nunca, quer explorar os recursos das Terras Indígenas.
O principal aspecto a ser considerado é que os grandes donos do poder econômico (os setores bancário, armamentista, minerário, farmacêutico, da construção civil, do agronegócio etc.) possuem interesse em divulgar uma imagem negativa dos indígenas. As grandes corporações tomaram conta da arena política e querem a qualquer custo convencer a nação de que “é preciso crescer e os índios atrasam o desenvolvimento do País”. Na lógica deles é mais importante plantar soja para a China do que preservar as nascentes brasileiras.
O cenário que se apresenta hoje aos povos indígenas é pior do que o do índio que avistou Cabral em 1500. A partir de 2015, teremos o Congresso mais conservador desde 1964, e especialmente, mais anti-indígena. Foram eleitos 273 deputados federais e senadores considerados ruralistas, o que representa um aumento de 33% em relação à legislatura atual, que conta com 205 ruralistas. Várias investidas avarentas da bancada ruralista ganharão força, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, a PEC 237, o Projeto de Lei (PL) 1.610, o PL 227/2012 e a Portaria 303, de iniciativa da Advocacia Geral da União (AGU).
Estas iniciativas tratam de temas como demarcação de Terras Indígenas, posse indireta de Terras Indígenas a produtores rurais na forma de concessão e exploração e aproveitamento de recursos naturais em Terras Indígenas (minérios, recursos hídricos, florestais, etc.), independe de consulta às comunidades afetadas. Além de irem contra a legislação vigente e preceitos universais, elas são cruelmente orquestradas para que se perpetue no país o ódio aos indígenas (saiba mais).
Mas se engana quem pensa que os indígenas assistem a isso calados. Os últimos anos foram anos de luta. Em maio de 2014, povos indígenas de todo o país reuniram-se em Brasília para a Mobilização Nacional Indígena, com atos e manifestações contra os ataques aos seus direitos garantidos pela Constituição Federal (saiba mais). E seguem lutando diariamente.
Os indígenas têm o direito de viverem em seus territórios. Já temos no país muitas terras para a criação de gado e o plantio de monoculturas, concentrada nas mãos de poucas pessoas. Desenvolvimento é bom, mas de qualquer jeito, não. Não podemos admitir um desenvolvimento que desrespeite leis, culturas e provoque mais desigualdade social.
Os indígenas devem poder escolher se desejam se beneficiar do desenvolvimento e de que forma, ou se preferem nem se envolver. Mas eles não podem continuar sendo desrespeitados em nome do interesse econômico.
Não precisamos de um crescimento desrespeitoso, realizado sem estudos de impacto ambiental, social e cultural. Tampouco necessitamos da malícia de políticos e da mídia. Precisamos sim tirar a venda dos olhos e enxergar o índio realmente, pois são mentiras e preconceitos que atrasam a evolução humana.
O desenvolvimento deve ser bom para todos. A paz entre os povos, já prevista em nossa Constituição Federal, deve ir além da diplomacia e incluir os que vivem em solo pátrio.
Tenhamos amor!
*Lilian Brandt é antropóloga e colaboradora da AXA.