sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Vale matou o Vale - desastre ambiental presumível.



O desastre socioambiental causado pela mineradora Samarco (Vale do Rio Doce e BHP Billiton) com o rompimento de suas barragens de rejeitos no município de Mariana, em Minas Gerais, é um dos maiores na história do país. A área afetada ultrapassa os 600 Km, chegando inclusive no Oceano Atlântico.

A lama é resultado de décadas de exploração mineradora da região, e além do poder destrutivo da avalanche e inundações de lama, há controvérsias sobre o nível de toxicidade desse material. A empresa, para ganhar tempo, afirma que a lama não é toxica, mas há inúmeras suspeitas e indícios de que há sim uma grande quantidade de metais pesados altamente tóxicos no material, que contaminariam toda essa enorme extensão atingida pela lama, contaminando o solo e inúmeras bacias hidrográficas, contaminando a população.

Centenas de pessoas estão desabrigadas e ao redor de 30 pessoas morreram por conta do desastre, incluindo idosos e crianças, sendo que a grande maioria segue desaparecida. Não havia nenhum sistema de alarme para evacuação da população caso um acidente ocorresse. Já os números de mortes de animais e da natureza que foi destruída é incalculável. Incontáveis animais domesticados como cachorros, gatos, galinhas, patos, cavalos, etc, morreram. As matas da região foram atingidas, matando assim grande parte da fauna e flora dessas áreas. O ecossistema aquático foi com certeza o mais afetado, causando a morte de milhões de peixes e de toda a vida das bacias hidrográficas atingidas, sendo por asfixia ou contaminação. A imagem da tartaruga morta é do Parque Estadual do Rio Doce, a maior área de Mata Atlântica de Minas Gerais e terceira maior área alagada do Brasil (depois da Amazônia e Pantanal), localizado a mais de 150 Km das barragens, o que demonstra o poder destrutivo e mortal do material liberado.

O ferro extraído dessas minas é transportado por minerodutos para os portos no litoral, utilizando uma quantidade absurda de água, ao mesmo tempo em que a população sofre com a falta d'água e é obrigada a economizar. O minério segue então para o exterior, o que deixa claro que o saque das riquezas naturais do Brasil continua a todo vapor, com pouco ou nenhum retorno para o país, e o meio ambiente não é sequer considerado como sujeito de direito. Tudo isso para beneficiar uns poucos, os acionistas das empresas em questão, que lavam as mãos e seguem anônimos, comprando e vendendo as ações das empresas conforme convém, sem consideração nenhuma com a ética, mas sim com o simples e frio lucro. Não há compensação possível para esse ecocídio, dinheiro nenhum vale as vidas de tantos seres vivos e da saúde da própria terra.

Segue o arquivo do Google Earth contendo a rota da lama e também com todas as barragens de rejeito do Brasil (https://dl.dropboxusercontent.com/u/7031753/desastre_samarco.kmz). A informação é uma de nossas maiores armas nesse momento. É imperativo refletirmos sobre esse modelo explorador e ganancioso que é imposto sobre as populações. Que esse desastre seja a gota d'água para sairmos desse mar de lama e pararmos essa máquina de destruição e morte.xx


A Tragédia de Mariana (MG) e a tentativa de acobertar os responsáveis

Desde que as primeiras imagens do rompimento das barragens em Mariana (MG) começaram a inundar a internet, uma verdadeira operação de guerra para transformar no imaginário nacional um gravíssimo episódio de inúmeras negligências que culminaram em destruição em massa e perdas de vidas em um mero desastre ambiental causado pela natureza.

Imediatamente, vários veículos de comunicação de massa insistiram que tremores de terra teriam ocorrido na região – tremores de baixa intensidade como os noticiados ocorrem em inúmeros pontos do território nacional e de forma corriqueira, mas foram usados nas primeiras 48h do rompimento das barragens como possível causa.

O fato é que a Vale (Antiga Vale do Rio Doce) é também uma gigante do mercado publicitário e justamente por isso seu nome foi convenientemente excluído da maior parte das matérias jornalísticas, que citavam especialmente a empresa Samarco, que é controlada diretamente pela Vale e pela anglo-australiana BHP.

Danos ambientais irreversíveis e perdas monstruosas na fauna e flora são marcas do setor da mineração. E o mar de lama que corre de Minas para o Espírito Santo está gerando milhares de afogamentos de animais domesticados e silvestres deixando um prejuízo ambiental incalculável e talvez irreparável.

Além disso, corre na Câmara dos Deputados, uma tentativa de criar um novo marco regulatório para o setor da mineração. Este Novo Código da Mineração está sendo tocado por deputados financiados pelo setor e que assumem o papel de representantes dos interesses das grandes empresas, que exigem em troca do robusto financiamento de suas campanhas eleitorais menos regulação ambiental e trabalhista e maior flexibilização das regras de segurança no que tange o entorno dessas atividades e possíveis atingidos.

Vide regra essas normas já não são todas aplicadas hoje. O próprio Relatório Anual de Sustentabilidade da Samarco aponta aumento sistemático de produção de minério de ferro sem nenhum reforço nas barragens, crescendo o volume de rejeitos depositados. Só agora a Samarco instalou sirenes para avisar a população de possíveis emergências, uma mesquinharia que custou pelo menos dezenas de vidas humanas.

A mineração é um dos setores mais predatórios do planeta e também um dos grandes financiadores de políticos para que seus interesses sejam defendidos no Congresso Nacional. Dois de seus principais aliados na Câmara, que cuidam dos interesses dessas empresas são o próprio Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o relator do novo código, Leonardo Quintão (PMDB - MG) que teve mais de 40% de sua campanha financiada pelo setor.

Havia até então um enorme interesse em acelerar a tramitação do documento que promete ser muitíssimo pior que o já terrível Novo Código Florestal. Resta saber agora se após a tragédia de Mariana (MG) esta cruzada pela ampliação da mineração e redução dos direitos pelos atingidos por esta atividade continuará com a mesma força de antes.

O mínimo que a sociedade espera é que esta tragédia obrigue o parlamento e o governo federal a serem mais criteriosos e exigentes na regulamentação da atividade de mineração no país, em razão de seu grande potencial de devastação do meio ambiente e de vidas humanas.

Nosso mandato atua também nesse tema e já apresentou vários requerimentos na Comissão Especial que discute o novo código da mineração, inclusive para visitar as áreas diretamente impactadas - pedido que não foi apreciado pela Comissão.

Também denunciamos, constantemente, a captura da Comissão pelo financiamento empresarial das grandes mineradoras. De acordo com documento do IBASE, em 2010, a Vale doou mais de R$ 29 mi para diversos partidos (http://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/27451-ibase-lanca-publicacao-quem-e-quem-no-codigo-da-mineracao/)

Desde 2010, nosso mandato denuncia os abusos e crimes cometidos pela Vale. Leia o pronunciamento feito na tribuna da Câmara sobre este tema: http://www.ivanvalente.com.br/em-defesa-da-luta-dos-atingidos-pela-vale/

"Como afirma o próprio movimento, a propaganda da Vale diz que a empresa é brasileira e que trabalha para promover o desenvolvimento sustentável do país. Mas as bonitas imagens omitem sua face oculta onde a Vale está presente. A exploração de minério e outras atividades da cadeia de siderurgia têm causado, por exemplo, sérios impactos sobre o meio ambiente e a vida das pessoas. As agressões vão da poluição das águas com produtos químicos, com intervenção direta na destruição de aquíferos e rebaixamento de lençóis freáticos, à produção de enormes volumes de resíduos e emissão de dióxido de carbono na atmosfera."

Não por acaso a Vale está no Hall da Vergonha do Public Eyes People`s, por ter sido eleita em 2012 como a pior empresa do mundo justamente em decorrência do seu histórico de negligências com direitos humanos e o meio ambiente. Um título que envergonha nosso país em mais este momento de perda e dor dos desabrigados e familiares das vítimas e desaparecidos da tragédia de Mariana (MG).

#SamarcoNaoFoiAcidente
#AVidaAcimaDoLucro

Mandato Ivan Valente - PSOL/SP

Foto: Christophe Simon (AFP)

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