quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

JOSÉ NOGUEIRA TAPETY


Homem anos à frente do seu tempo, político e comerciante oeirense, filho de Antônio Francisco Nogueira e Aurora Leite Nogueira, José era um assíduo defensor do respeito à dignidade humana. Ouvia nas ondas curtas do rádio, as notícias internacionais e os fatos econômicos tão diversos quanto os processos políticos que marcaram seu tempo. Sabia do que acontecia além do vale entre colinas no centro do Piauí. Atento ao novo mundo que se descortinava ante as tendências internacionais pela liberação feminina, falava do papel da mulher na sociedade como mãe e como orientadora das mudanças sociais que estavam por vir. Defensor da igualdade entre os gêneros, respeitava as decisões da esposa mais jovem, Salomé porque, segundo ele (dizia Salomé), a sabedoria feminina vai além do pensamento: “mulher pensa com o coração”.

Honrado, inteligentíssimo e culto, foi um grande incentivador do desenvolvimento urbano de Oeiras. Sensível, perspicaz, extremamente atento às necessidades humanas, ensinou aos filhos valores éticos e morais desde muito jovens. Altruísta, permitia e proporcionava tudo ao próximo sempre antes de a si mesmo. Assim o definia Zuleica, filha a quem chamava de artista desde a infância.

Socialista por convicção, recebeu, sob muitas críticas, a Coluna Prestes em sua passagem pelo Piauí. Defendia o respeito ao ser humano acima de tudo. Jamais aceitou apropriar-se de qualquer coisa pertencente a outrem ou aproveitar-se de qualquer situação de privação para auferir-se vantagem. Nos períodos de seca, guardava no cofre da loja, como garantia, tesouros das famílias dos sertanejos que, desesperados em busca de alimento, empenhavam o que tinham para não deixar a família passar fome. Surpreendiam-se ao retornar à Casa Tapety no fim da estiagem ao receber de volta suas joias de família mediante pagamento das dívidas. José dizia: “Não é correto ficar com suas joias! Eu não quero nada que não tenha sido resultado de meu esforço. Trabalhe e merecerá. Vá em paz. Venha buscar quando puder”, dizia aos clientes e amigos. Fazia questão da mesa farta, de maneira a proporcionar água fria do pote, alimento e acolhimento aos sertanejos que vinham à cidade nos dias de feira. Antes de qualquer interesse político, tratava a todos com carinho pelo respeito ao ser humano.

Diante de sua convicção sobre a ineficácia do sistema político que se configurava à época, também “portador das verdades futuras”*, escolheu não participar de situações políticas que o colocariam contra seus ideais revolucionários. Após a exitosa experiêcia de oito meses frente à Prefeitura onde conseguiu conretizar projetos importantes conforme seus anseios como cidadão, permitiu-se não se corromper pela sedução do ego e do poder. Sabedor, entretanto, de que alguém teria de assumir o comando político da região no Estado Novo, confiou a seu grande amigo Rochinha o apoio para esse fim, mantendo-se como pensador e articulador dos bastidores da política oeirense.

Negou-se por diversas vezes a assumir cargo executivo ou legislativo por indicação ou sem eleições diretas. Falava em democracia, igualdade de direitos, e se negava a aceitar dominação sobre quem quer que fosse. Sangue brasileiro, mistura de todas as raças, sabia respeitar as diferenças de cor, sexo e classe social. Compartilhava a mesa farta com os visitantes. Falava em egocentrismo como o maior problema da humanidade. Dizia que o simples é o certo. Embora escrevesse com perfeição e loquacidade, adquiriu o respeito dos amigos pela simplicidade com que lidava com o ser humano, natural com a natureza. Como a natureza.

Irmão cuidadoso, marido e pai amoroso, paciente e humilde, Zuleica e Salomé falavam dele com ternura e respeito.

Fumava. O cigarro o ajudava a pensar formas de promover desenvolvimento em Oeiras de maneira que o povo se libertasse do pelourinho e dos altares. Morreu ainda moço, vítima desse companheiro permanente aos 55, deixando viúva sua esposa apaixonada e guerreira, Salomé, para quem cantoralava “Fascinação” ao declarar amor incondicional e eterno.
*termo usado pelo seu irmão, Poeta Nogueira Tapety em seu Elogio do Belo.


Josevita Tapety Pontes