sexta-feira, 31 de março de 2017

Princípios do associativismo

O SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresasdefende que o associativismo se rege por um conjunto de princípios:
  • Princípio da Adesão Voluntária e Livre
As associações são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a usar os seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial, política, religiosa e de género”;
  • Princípio da Gestão Democrática pelos Sócios
As associações são organizações democráticas, controladas pelos seus sócios, que participam ativamente no estabelecimento das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e mulheres, eleitos como representantes, são responsáveis para com os sócios”.
  • Princípio da Participação Econômica dos Sócios
Os sócios contribuem de forma equitativa e controlam democraticamente as suas associações através da deliberação em assembleia-geral.
  • Princípio da Autonomia e Independência
“As associações são organizações autónomas de ajuda mútua, controlada pelos seus sócios”. Podem entrar “num acordo operacional com outras entidades, inclusive governamentais, ou recebendo capital de origem externa, devendo fazê-lo de forma a preservar o seu controlo democrático pelos sócios e manter a sua autonomia”.
  • Princípio da Educação, Formação e Informação
As associações devem proporcionar educação e formação aos sócios, dirigentes eleitos e administradores, de modo a contribuir efetivamente para o seu desenvolvimento”.
  • Princípio da Interação
As associações podem satisfazer as necessidades dos seus sócios mais eficazmente e fortalecer o movimento associativista, se trabalharem juntas, através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais.
  • Princípio do Interesse pela Comunidade
As associações trabalham pelo desenvolvimento sustentável das suas comunidades, municípios, regiões, estados e país através de políticas aprovadas pelos seus membros”.
Estes princípios são importantes não só, para as associações mas também, para a construção da sociedade. Estes contribuem para o desenvolvimento económico e social de uma sociedade cada vez mais solidária, democrática e com autonomia de gestão, como preconizado pelo Princípio do Interesse pela Comunidade.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Os mandamentos de Ifá



Para aqueles que penssam que a religião (candomblé, Umbanda, culto a Ifá, etc) não tem seus preceitos de conduta veja abaixo os Mandamentos de Ifá,  que vale para todos que cultuam o Orixá. No final do artigo contém um video com babalawo nigéria recitando um Oriki de Ori (nossa cabeça)
Muitos andam pela vida sem rumo e acaba indo buscar os conselhos de Ifá (Deus da adivinhação). Este era o caso dos ancestrais que buscaram cobrar de Ifá a promessa feita por Olodumare (Deus), que dava a eles uma vida longa.

Assim Ifá advertiu:
1 - não digam o que não sabem (èsúrú pode ser tanto uma conta sagrada como um nome de uma pessoa);
2 - não façam ritos que não saibam fazer (novamente avisa não troquem a conta sagrada pelo nome);
3 - não enganem as pessoas (trocando a pena de papagaio por morcego);
4 - não conduzam as pessoas a uma vida falsa (mostrando a folha de Iroko e dizendo que é folha de oriro);
5 - não queiram ser uma coisa que vocês não são (não queiram nadar se vocês não conhecem o rio);
6 - não sejam orgulhosos e egocêntricos;
7 - não busquem o conselho de Ifá com más intenções ou falsidade (Àkàlà é um título usado para Orumila);
8 - não rompam (não mudem) ou revelem os ritos sagrados, fazendo mal uso deles;
8 - não sujem os objetos sagrados com as impurezas dos Homens; busquem nos ritos sagrados somente coisas boas;
10- os templos devem ser lugares puros, onde a sujeira do caráter humano deve ser lavada;
11- não desrespeitem ou inferiorizem os que têm maior dificuldade de assimilar conhecimentos ou deficiências no caráter, ajude-os a mudar;
12- não desrespeitem os mais velhos, a sabedoria está com eles, a vida os fez aprender;
13- não desrespeitem as linhas de condutas morais;
14- nunca traiam a confiança de seu semelhante;
15- nunca revelem segredos que lhe são confiados; falar pouco e somente o necessário demonstra sabedoria;
16- respeitem os que possuem cargos de responsabilidade maior; o Babaláwo é um Pai, portanto, é devido grande respeito aos Pais.

Mas os ancestrais não cumprem as determinações de Deus, trazidas e mostradas por Òrúnmìlà. Deus usa os Orixás para advertir o Homem, mas não obtém sucesso. O Homem não ouve os conselhos. Mesmo assim, em erro, o Homem ainda acusa a Orunmila. Mais uma vez não reconhecendo seus próprios erros. O Homem tem esse hábito, o de culpar os outros pelas suas maneiras erradas.
Diante de tais atitudes, Deus fica desobrigado de cumprir Sua palavra com o Homem, permitindo então que o Homem morra idoso e venha a renascer jovem, para que uma nova caminhada de aprendizados se inicie, em outra vida, em outro lugar, e quem sabe assim, nessa nova etapa, o Homem aprenda os mandamentos de Ifá pondo fim a esse ciclo sofrido.
Assim se repetirão esses ciclos, até que o Homem aprenda a mudar, tornando-se um Egúngún Àgbà (Ancestral Ilustre) que recebe funções mais importantes no Òrun (no Além)!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Erro grosseiro??


Crescemos numa rua fechada e ninguém era “dono da rua”.


Passados 40 anos desde nossas festas na garagem e brincadeiras de rua, reencontramo-nos alguns no casamento de Duca. Decidimos mover esforços para um grande reencontro dos amigos da Rua Professor Edgar Altino. A alegria desse reencontro aconteceu alguns meses depois num encontro no Bar Real, próximo da nossa velha rua. Emocionados, revivemos momentos de alegria e descontração. Reavivamos o carinho da infância e adolescência. Desde a formação do grupo no facebook e no whatsapp, voltamos a participar bem de perto das vidas dos amigos da rua, compartilhar as emoções, estar perto embora longe.

Desde o primeiro encontro, sucederam-se alguns encontros inesquecíveis com a presença de boa parte da turma, inclusive alguns pais - a turma da velha guarda, grandes exemplos para todos nós. Ocorreu-me pensar no vínculo que mantém tantas pessoas que trilharam caminhos tão distintos coesas de maneira tão forte que, independente do estilo de vida e padrão social. Somos sim amigos para sempre.

A Edgar Altino surgiu num desses conjuntos residenciais feitos pelo Banco do Brasil, financiados pelo BNH na década de 60. Meus pais mudaram-se para lá em 1961. Ele engenheiro do DNOCS, em frente, Dr. Geraldo, engenheiro do DNER e Dr. Manoel, engenheiro da COMPESA. Mais adiante, Dr. Arnaldo, empresário, Dr. Hélio, Arquiteto, a maior família da Rua . . .Todos tinham a mesma faixa etária, vivendo o mesmo momento de construção da família e da vida, filhos com idades bem próximas, aproximadamente o mesmo padrão de vida... certamente isso tudo e o mangue no fim da rua que transformava aquele espaço num local sem movimento de carros certamente foram elementos determinantes para o desenvolvimento de nossa amizade.

Brincávamos todas as tardes depois das tarefas escolares e, na adolescência, a noite até o chamado dos nossos pais para dormir. Somos verdadeiramente abençoados e privilegiados. Tivemos a oportunidade de crescer juntos em comunidade harmoniosa onde o respeito sempre foi algo natural. às vezes penso que a maioria dos brasileiros do tempo da Educação Moral e Cívica e aulas de Religião no Colégio aprendemos com nossos pais que Ética, Caráter, Moral, respeito e Amor são uma corrente inseparável e indestrutível.

Somos do tempo em que o carrinho do sorvete, da pipoca, o moço do quebra-queixo e o do cavaco chinês passavam na porta de casa todas as tardes e as crianças todas esperávamos pela hora das guloseimas depois de terminado o dever de casa. Passamos pela fase do passeio no braço da babá para o banho de sol matinal, depois o passeio de carrinhos, os velocípedes, bicicletas, mais tarde o queimado, amarelinha, bola de gude até as tertúlias e festas de garagem.


Quando Xande ficou mais alto comprou uma rede e uma bola de vôlei. Nessa época, o queimado teve que passar para o fim da rua. Os postes paralelos ficavam entre a casa de Seu Braga e a casa de D Mocinha, do outro lado da rua.
Nossas mães sempre foram exemplo de integridade, carinho, amor, cuidados. Tínhamos o horário de fazer o dever de casa logo depois do almoço e éramos liberados para brincar na rua depois do lanche da tarde. Muitas vezes, quando a brincadeira da tarde era na casa de alguma vizinha, éramos presenteados com um bolo de chocolate, rabanadas, biscoitos e sucos na casa das amiguinhas. 

Brincávamos de bonecas, andávamos de bicicleta rua acima e rua abaixo. Os mais atrevidos fugíamos para a Praça de Casa Forte e até ao Colégio, buscar jambo, ou comprar chicletes ping-pong na barraquinha da esquina da Praça.
Refrigerantes, apenas nas festas de aniversário. Tomávamos suco de frutas e de vez em quando também recebíamos ki-suco com biscoitos. Tínhamos o clube do Chiclete, das bonecas e roupinhas de papel, os meninos também tinham suas brincadeiras. São amigos até hoje.

Quando meu pai fez o primeiro andar, depois da cheia de 1969, passamos a brincar também no sótão (a parte da casa que tinha telhado mas ainda não estava completamente construída. Ali era nossa casa de bonecas. Lá, eu e minha irmã construímos nosso esconderijo secreto.

As festas da garagem eram especialíssimas. Muitas paqueras que jamais haviam sido reveladas foram por fim descobertas no primeiro reencontro, mais de quarenta anos depois.

Relações de vizinhança que se fortaleceram com a convivência de mais de 20 anos até o momento em que a maioria foi levado pelo destino para outros lugares. Cada reencontro é uma alegria imensa. 



terça-feira, 7 de março de 2017

As quatro estações


Monica Vasconcelos



Todo sonho não realizado se torna uma frustração.  Baseada nessa crença, aos 55 anos, resolvi realizar o sonho de viver as quatro estações, era um desejo latente e antigo, mas a idade tornou ainda mais urgente sua realização. Viver cada estação, no meu mui humilde entendimento, significaria também vivenciar melhor essa etapa da vida de absoluta e difícil transição.

Sempre parti do princípio que, embora cada ser seja único e especial, o ser humano é basicamente o mesmo, somos iguais por mais diferentes que pareçamos. Para além do egocentrismo, tudo que deduzi sobre a vida, por mais que tenha observado os outros, acabou sendo baseado em mim mesma, simplesmente porque parto do pressuposto que, se mesmo a mim ainda desconheço, o que dizer dos outros?!

Penso que comecei a amadurecer quando percebi que tudo aquilo que me incomodava nos outros, era, via de regra, tudo aquilo que negava em mim mesma. “Trabalhar” melhor o meu “próprio ladinho dark”, aceitar todos os defeitos inerentes ao ser humano, e, a partir dessa aceitação, tentar manter na coleira invejas, rancores, desejos de vingança e todas essas mazelas dos seres ditos racionais, se não me tornou mais suportável para os outros_ e lastimo muito por isso; tornou a vida mais leve e amena para mim mesma_ e fico muito contente com isso.

Ajudou-me bastante nesse processo as conversas com o espelho e a escrita, ainda na infância, de sentimentos negativos, posteriormente rasgados como os papéis que os continham; e a leitura dos clássicos da literatura. Busquei nos livros muitas respostas. Aos 20 anos, encontrei em “A Queda” de Camus, alívio para muitas de minhas angústias. Todo sublinhado, marcado, repleto de rabiscos e observações “La Chute” foi minha “bíblia cética”. Juntamente com Fernando Pessoa e seu “Poema em Linha Reta”, Monsieur Camus, muita análise e terapia me ajudaram a atravessar a primeira transição verdadeiramente seria da vida: a entrada na realidade do jovem adulto. Que me perdoem os que falam das dificuldades da adolescência, às favas com elas, difícil mesmo foi ser adulto.

Difícil mesmo foi ser adulto? Oh, Oh... Eu escrevi isso? Já não tenho mais essa certeza... Difícil mesmo vai ser SER velho. Não existem mais as respostas idólatras dos livros da juventude... Resta-me eu mesma.

Continuo observando e tentando aprender com todos, mas perdi completamente o pudor de escrever na primeira pessoa. Sempre fui “meio diferente”, para usar a expressão que ouço desde infância, mesmo no convívio familiar. Nunca me preocupei com que os outros iriam, ou não dizer, mesmo por que sempre considerei essa “preocupação” a coisa mais verdadeiramente egocêntrica do convívio social_ por que p... alguém perderia tempo a falar de mim?! Bom, o tempo e a vida me ensinaram que pode não ser bem assim. Percebi o quanto fui incompetente na observação de mim mesma quando descobri que muitos dos meus amigos eram, ou acreditavam ser, quase PhD em mim!!! Estamos sempre a precisar de rever os tais conceitos...

Esse meu comportamento, inconscientemente incorrigível, se por um lado me isolou, por outro me protegeu do convívio social, às vezes emocionalmente exaustivo. Aprendi a transitar entre o social e o individual. A solidão nunca me assustou. De uma forma ou de outra, convivo com ela desde essa minha infância “diferente” às tentativas de busca de “alma gêmea” e outras balelas românticas que nos enfiaram na cabeça, ou que de alguma forma incorporamos. Desse convívio surgiu um casamento harmonioso. Amo estar só, e esse amor liberal me permite estar acompanhada, e quando assim me sinto, também deliciada fico.

E por que, então, se tenho tantos amigos especialistas em mim essa nova angústia para mais uma simples transição de fase da vida? Quiçá por perceber que assim como na juventude, ainda me falta essa tal crença de se achar importante o suficiente para ser percebida, menos ainda para virar “case” seja lá de quem for. Porque é ÓBVIO, que mesmo que eu o vista como a uma luva, nem o Poema em Linha Reta, nem nenhum outro foi escrito para mim. Poemas, mesmo quando escritos para musas, são a catarse do autor, o outro é o coadjuvante o instrumento. E não há nisso nenhuma crítica ou demérito.

Angústia? Oh, Oh... Eu escrevi isso? Já não tenho mais essa certeza...Das duas janelas do cafofo que aqui habito, vejo a neve começar a derreter nos Pirineus...Já lá se foram o verão, o outono e o inverno. Que estranha coincidência essa de só ter vontade de escrever quando as primeiras cores da primavera desabrocham aqui e acolá... Angústia? Mesmo? Por que? Ser jovem adulto, para mim foi muito custoso, por muito pouco não me matei...Hoje me sinto privilegiada por isso e por tudo que vivenciei depois. Que venha a velhice. Quiçá será ela, justamente a primavera, quando finalmente estarei pronta, qual florzinha espinhosa, para ser colhida pela Senhora Morte, em cujos braços, finalmente, me sentirei aconchegada.

Acho que continua ;-)

sexta-feira, 3 de março de 2017

O Mal da Calúnia e da Difamação


Confesso: há muitos anos carrego comigo uma culpa imensa que me dói na alma. O Restaurante era furtado diariamente.  Gang de garçons e, garçonetes, auxiliares e cozinheiros levavam comida, bebida, utensílios. Certo dia foi constatado, além de tudo isso, sumiço de dinheiro do caixa e o office boy foi indicado pelo comprador como suspeito. Era uma rapaz de 18 anos que precisava muito do emprego para estudar na cidade. Cícero era um bom menino, educado, honrado.

À época, movida pela pressão da situação inteira, aceitei a denúncia e despedi o rapaz. O olhar de revolta, frustração e indignação dele demonstrava que aquela era uma injustiça terrível. A inexperiência de 26 anos atrás me levou a cometer essa injustiça da qual não me perdoo e, todos os dias, em minhas orações peço perdão àquele espírito injustiçado por mim. Tenho – hoje – total consciência da dor que aquele jovem sentiu. 

O propósito das situações colocadas por Deus em nossas vidas é sempre desconhecido até que nos permitimos desprendermos de nossos egos imensos que devoram nossas consciências e nos admitimos inteiramente insuficientes na percepção da dor alheia. À medida em que olhamos nossas dificuldades e insuficiências de frente, tornamo-nos capazes de perceber o quanto estamos distantes da divinização e da santidade a que nos dispomos.  

As motivações egocêntricas e egoístas nos levam a cometer delitos imperdoáveis contra as outras pessoas, sempre com a convicção da razão e do direito: por que sempre pensamos no nosso umbigo, nossos problemas, nossas vidas. As vidas alheias -  espelho de nossas dificuldades – passam desapercebidas ou ignoradas e, com isso, desperdiçamos as oportunidades maravilhosas de aprimoramento espiritual, amadurecimento e crescimento enquanto seres humanos. Muitos adquirimos loquacidade, tenacidade, sagacidade e acúmulo intelectual, diversos processos mentais que levam nosso ego a crer nos direitos que nos convencemos de ter.
Ilusão! Cada sofrimento causado a outrem se reflete drasticamente e de maneira contundente em nosso destino, nossa felicidade. Todo mal causado a outrem se reflete em nossas vidas em mal semelhante ou de maior intensidade. Depende apenas de quantas vezes persistimos no equívoco. Quanto maior a certeza egocêntrica da impunidade pelo engano da desculpa da boa intenção, maior o equívoco. Quanto maior o mal causado, maior a consequência: seja nesta vida ou em vida posterior. Isso se reflete em todas as pessoas de nossa relação por que somos todos conectados em espírito em todos os reinos da natureza.

Recebi a paga daquela injustiça e pago o pecado há anos. Qualquer motivação dos meus algozes, embora torpe, espelha a injustiça que cometi. A pressão do momento, a inconsequência, fragilidade, o que for, não justificam a falta de sensibilidade: naquele momento eu estava ocupada em sobreviver aos transtornos causados por mim mesma ao assumir responsabilidades além da minha capacidade de suportar pressão social, emocional, física. 

Adoeci. Se a calúnia lançada contra mim foi capaz de me colocar em profunda depressão por tanto tempo, imagino o que aquele rapaz sente até hoje, sem a chance de receber meu pedido de perdão.

Há algo, porém, que redime a tudo em nível espiritual: o reconhecimento da culpa e a responsabilidade no pedido sincero de perdão. No campo da materialidade, o sistema de gestão da vida trata de colocar tudo dentro da normalidade e as farsas, cedo ou tarde, são desmascaradas.

Nada fica impune.
Tudo tem recompensa.

Josevita Tapety Pontes
03.03.2017