sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A economia do fim do mundo


por Dal Marcondes*, da Envolverde

Movimentar a economia por meio do consumo foi uma decisão tomada após a Segunda Guerra Mundial, e serviu apenas para acelerar o uso e a degradação dos recursos naturais e econômicos do planeta.

Os Estados Unidos emergiram da Segunda Guerra Mundial como a única grande economia que não teve sua indústria arrasada por bombas. Um parque produtivo superdimensionado pela guerra, uma economia global em frangalhos e milhares de soldados voltando para casa. O que fazer para não voltar à situação de recessão anterior à guerra, quando hordas de desempregados vagavam em busca de trabalho e comida? A ideia, aparentemente genial, veio de um consultor norte-americano especializado em varejo, Victor Lebow, que viu na aceleração do ciclo de produção e consumo a saída para o impasse: “nossa economia enormemente produtiva (…) requer que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais (…) que busquemos a nossa satisfação espiritual ou do nosso ego no consumo (…) nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente”. E isto foi feito, a ponto de 99% dos produtos vendidos pelo comércio nos Estados Unidos já terem sido abandonados no fundo de armários ou gavetas, ou simplesmente descartados em apenas seis meses.
A economia do consumo substituiu a “economia do abastecimento”, na qual as pessoas compravam aquilo que precisavam e a ideia central era vender mais, para mais pessoas. Nossos avós compravam coisas duráveis para poderem se dedicar a outras atividades e não terem de retornar sempre às compras para repor coisas cuja obsolescência foi planejada em um laboratório. “Da mesma forma que se planejou a sociedade de consumo, é preciso planejar que tipo de economia vai desconstruir essa armadilha onde nos metemos”, explica o economista Ladislau Dowbor. Há diagnósticos realizados e metas estabelecidas sobre o que há de errado com o modelo econômico atual, que mantém cerca de um terço da humanidade sem acesso a direitos universais como educação, água e saneamento, alimentos e habitação, entre outros. No entanto, há uma crônica falta de planejamento sobre como mudar a produção e o consumo em direção a uma economia de baixo impacto ambiental e dentro das metas nacional e global de redução de emissões de carbono.

Não há dúvida que a economia deu grandes saltos nestes 50 anos, com o desenvolvimento de tecnologias e materiais extremamente avançados. No entanto, as curvas de crescimento da população, do Produto Interno Bruto, da extinção de espécies, do uso de combustíveis fósseis, da redução de florestas e da sobrepesca mostram que os níveis de exploração do planeta e os impactos causados pelas atividades humanas vêm crescendo de forma exponencial nos últimos 50 anos (ver gráfico 1). E isto está acontecendo apesar do aumento da eficiência no uso de materiais e energia no mesmo período. Os carros dirigidos por nossos avós continham mais materiais (eram mais pesados) e consumiam mais combustível do que qualquer outro nas ruas de hoje. Porém, o volume de combustível utilizado hoje pela humanidade é centenas de vezes maior do que 50 anos atrás. “A ecoeficiência na produção tem caminhado a passos largos, mas o modelo de economia baseado no ciclo de aceleração do consumo e descarte apenas aumenta o impacto sobre os ecossistemas e não reduz as desigualdades sociais”, explica Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP).

Nos anos 1950, a diferença de salários entre um operário da General Motors e seu presidente era cerca de 50 vezes. Hoje, em grande parte das empresas globais essa diferença entre chão de fábrica e alta direção pode atingir quase mil vezes. Para modificar este quadro é necessário o planejamento do uso dos recursos naturais e energéticos de forma a definir onde se quer chegar. “Algumas pessoas diriam que isto é socialismo”, diz Luiz Pinguelli Rosa, cientista e diretor da Coppe, órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos mais respeitados centros de pesquisa em engenharia da América Latina. Pinguelli Rosa explica que a área de energia precisa de um planejamento com décadas de antecedência para evitar apagões. “Os investimentos são altos e os projetos demoram para entrar em operação”. Por isto, planejar é fundamental, mas o mesmo não acontece com outras áreas da economia. “Muita coisa é deixada para a vontade do mercado”, diz o pesquisador. O mercado, no entanto, não tem uma visão de futuro, apenas busca soluções para manter sua diretriz de crescimento em um planeta com recursos naturais finitos. “Essa filosofia de crescer por crescer só tem um paralelo na natureza, o câncer”, explica Ladislau Dowbor.

A desigualdade na distribuição dos benefícios entre a humanidade é gritante. Os 20% mais ricos se apropriam de 82,7% da renda. Os dois terços mais pobres têm acesso a apenas 6% da renda, e esta disparidade vem crescendo. Em 1960, a renda apropriada pelos 20% mais ricos era 70 vezes maior do que a renda dos 20% mais pobres. Em 1989, essa diferença havia subido para 140 vezes. Para Dowbor, este é o problema central a ser atacado, e fazer a economia crescer não passa nem perto de solucionar o problema ético da injustiça e dos dramas de bilhões de pessoas. “Não haverá tranquilidade no planeta enquanto a economia for organizada em função de um terço da população mundial”, afirma.

Um dado importante, levantado por Ricardo Young, empresário e ex-presidente do Instituto Ethos, organização que atua em responsabilidade socioambiental empresarial, é que já há mudanças em curso na economia. “Porém, não são uniformes”, alerta. Para ele muitas empresas e governos estão não apenas preocupados, mas atuando para reverter o quadro de degradação econômica e ambiental. “É o caso do Brasil, que está conseguindo ampliar a renda nas classes mais baixas e, também, vem exercendo uma liderança global em temas  ambientais, como as metas que o governo assumiu em relação às mudanças climáticas”, explica. Young alerta que é preciso saber identificar os movimentos na sociedade, que buscam uma nova organização da economia, mais criativa, com menor impacto ambiental e maior benefício social. E esta tendência não está sendo identificada apenas por militantes sociais ou economistas otimistas. Um estudo publicado pela revista inglesa The Economist concluiu que a ascensão das mulheres na sociedade nos últimos dez anos contribuiu mais para o crescimento global da economia do que o desenvolvimento da China. Essa percepção levou a agência Goldman Sachs a indicar que diversas regiões do mundo poderiam aumentar seu PIB se reduzissem as desigualdades nas taxas de emprego de homens e mulheres. O Brasil poderia se beneficiar ainda mais desse movimento de equilíbrio entre os gêneros no trabalho. Desde os anos 1970, essa inclusão vem avançando. Naquela época, as mulheres representavam 20% dos trabalhadores do país, passando para 44% no final da primeira década do Século 21. Registre-se ainda que 35% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

O Brasil atualmente vive uma grande oportunidade para planejar seu desenvolvimento com base em questões bastante objetivas, como os investimentos superiores a R$ 500 bilhões que estão em andamento em todo o país por conta dos grandes eventos esportivos dos próximos anos, as Olimpíadas do Rio de Janeiro, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol. Entretanto, é preciso integrar os esforços e mostrar uma certa lógica na direção dos benefícios desejados, como melhorar a mobilidade nas cidades e redirecionar esforços para uma sociedade que esteja estruturada em uma economia menos baseada em consumo e exportação de commodities, e mais focada em desenvolver vetores como cultura, turismo, biociência, educação e conhecimento. No entanto, o país tem adotado nos últimos anos a mesma ortodoxia econômica com que o mundo tenta enfrentar a sucessão de crises que assola o planeta desde 2008, estimulando o aumento do consumo sem exigir contrapartidas da indústria ou do sistema financeiro. “O momento é especial para uma troca de gentilezas, o governo estimula o consumo, mas deveria exigir mais eficiência no uso de energia e matérias-primas”, explica o também economista Ignacy Sachs, que preconiza a necessidade de planejamento para adequar o modelo econômico à realidade do Século 21. Nas relações com o mundo, entre 1998 e 2008 as exportações brasileiras de commodities passaram de 20% para 35% do comércio exterior. Se, por um lado, isso elevou as reservas internacionais do país, por outro barateou as importações e desestimulou a indústria local, além do impacto sobre áreas naturais para a ampliação na produção dessas commodities.

Segundo o diretor-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, o consumo global chegou a nove toneladas anuais de matérias-primas por pessoa na Terra, e isso para os atuais sete bilhões de habitantes. Em um planeta com nove bilhões de pessoas, o consumo per capita não poderá ficar acima de cinco ou seis toneladas por habitante. Outra questão importante é o consumo de energia por habitante, que, segundo o Departamento para Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), deveria ser limitado a 70 gigajaules por ano. Trocando em miúdos, isto significa que um europeu médio teria de cortar pela metade seu consumo de energia, enquanto um norte-americano poderia utilizar apenas 25% do que gasta atualmente. Já um indiano poderia multiplicar por quatro os 15 gigajaules que utiliza. O Brasil está no meio termo, com cerca de 50 gigajaules por ano por pessoa. Contudo, há que se levar em conta a desigualdade e o desequilíbrio no uso dessa energia.

O mundo vive atualmente uma confluência de crises, onde o desequilíbrio financeiro, ambiental e social oferece oportunidades para a construção de novos pontos de apoio. E a Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontecerá em junho do ano que vem, pode ser um ponto de partida importante para esta estratégia. O jornalista e ambientalista Aron Belinky, que atua na articulação de demandas da sociedade civil para o evento, explica que empresas e organizações sociais estão mais avançadas do que governos na busca de soluções. “Temos de entender que a questão não é ambiental, como alguns acreditam, mas de modelo de desenvolvimento e de governança global”, explica. Para ele, os governos devem assumir compromissos para planejar uma saída dessa encruzilhada, que olhe para o futuro e entenda que há limites que precisam ser encarados e respeitados. Porém, lembra que isto não significa a estagnação, mas sim um modelo de desenvolvimento focado em valores éticos e criativos, onde as pessoas possam ter acesso aos seus direitos universais nesta e em todas as gerações futuras. (Envolverde)

Gráfico 1 – Todos os indicadores de crescimento e consumo estão fora da escala.
grafico1 A economia do fim do mundo
Gráfico 2 – Em 50 anos o consumo de todas as fontes de energia cresceu.
grafico2 A economia do fim do mundo
* Dal Marcondes é jornalista e já foi editor de economia e finanças de diversos meios de comunicação.
(Envolverde)

domingo, 25 de dezembro de 2011

A Carta do Cacique Seattle, em 1855


Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."
 Mensagem recebida hoje de Luiz Antonio Carvalho via facebook. _/\_

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Utopia, não! Persistência.

Política do Bem entrevista Marina Silva

  Ela acredita e persiste. Muito. Desde a infância difícil no Acre até todas as suas conquistas políticas, a vida de Marina Silva, 53 anos, foi pautada pela superação. De candidata coadjuvante no início das eleições presidenciais de 2010 a fenômeno de quase 20 milhões de votos, Marina Silva ganhou ainda mais destaque nos últimos tempos. A ascensão verde de Marina impressiona. O perfil frágil se limita as suas características físicas porque, ao abrir a boca, ela convence. Conhecida internacionalmente por sua luta a favor do desenvolvimento sustentável, Marina está longe de integrar o grupo convencional da política brasileira. “Hoje não se discutem mais ideias e sim o poder pelo poder. Há uma polarização desgastada na política brasileira”, argumenta ela. “Não temos que ser oposição e nem situação. Temos que ter posições”, completa.

Por ser essa fortaleza de fibra e coragem, Marina vai angariando admiradores e companheiros para sua nova causa: a reinvenção dos padrões atuais, através do chamado Movimento Por Uma Nova Política. O projeto, lançado esse ano, tem como representantes membros que se dizem cansados dos moldes praticados em Brasília. Pesquisas mostram que hoje os partidos políticos estão em baixa. Os jovens, principalmente, já não se sentem representados da forma como acreditam que deveriam. O tradicionalismo político – desgastado por escândalos de corrupção, disputas partidárias, incoerência e inconstância – está abrindo aos poucos espaço para movimentos alternativos. Em um país onde seis ministros do governo caíram em menos de um ano por escândalos de corrupção, movimentos que clamam por mais ética, transparência e participação da população ganham força e cada vez mais aliados.

Segundo Marina, o Movimento Por uma Nova  Política ainda está no estágio de convocação e debate. “A pretensão não é criar partidos políticos e sim discutir com densidade algumas propostas”, avalia.
O que fica claro ao conversar com a ex-senadora e ministra do Meio Ambiente é que ela representa o ineditismo que faltava no cenário político brasileiro. Muitos não a compreendem e criticam sua plataforma política por acreditarem que é limitada e pobre, porque foca em propostas de sustentabilidade. Mas não há dúvida de que Marina deve ser considerada o respiro de ar puro na política do país. O Movimento Por uma Nova Política, bem como a postura de Marina Silva, estão com certeza um passo a frente do nosso tempo. Talvez ela seja avançada demais para o Brasil de hoje, talvez Marina não governe, mas com certeza ela deixará uma marca.

Marina é aquela figura que faz a diferença, que traz o novo, que move os sonhos. 

Ao ser questionada se pretende se candidatar para a presidência em 2014, Marina respirou fundo e respondeu: “Eu não sei. E quando falo que não sei, eu sinceramente não sei”. Ao entender mais sobre o Movimento Por uma Nova Política, é mais fácil compreender a resposta vaga e incerta de Marina. A proposta do movimento não está calcada em fórmulas, por isso, tudo ainda está no campo da construção e exploração. Por enquanto, a nova política é uma filosofia embrionária, que tem tudo para dar certo. O mais importante ela já fez: resgatou o otimismo que se perdeu.

É bonito ver como Marina Silva é firme e ao mesmo tempo tão idealista. É raro ver alguém há tanto tempo na política e com tanta motivação. Figuras assim estão em extinção na política brasileira e foi por isso que ela conseguiu um quadro tão positivo nas eleições de 2010. Uma figura política que depois de 16 anos no Senado Federal e algumas mudanças de partido conseguiu se manter de pé, íntegra, e ética é digna de palmas. Mais um motivo para admirar Marina: quando perguntada sobre momentos marcantes de sua trajetória política, ela respondeu: “Eu considero importante nunca ter me deixado aprisionar pela ideia de poder pelo poder”.

Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, nasceu e morreu em Xapuri, no Acre, assassinado aos 44 anos. Foi um seringueiro, sindicalista e ativista ambiental. Sua atividade política tinha como principal objetivo a preservação da Floresta Amazônica e lhe deu projeção mundial.



O cartaz reproduzido acima é das eleições de 1986. Chico Mendes foi candidato a deputado estadual pelo PT do Acre, ao lado de Marina Silva para deputada federal constituinte, José Marques de Sousa , o Matias, para o Senado e Hélio Pimenta para Governador. Nenhum deles foi eleito.

Chico Mendes começou seu aprendizado do ofício de seringueiro ainda criança, acompanhando o pai em incursões pela mata. Só aprendeu a ler aos 19 anos. Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia.

A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.

Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com suas lutas.

Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a duros interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.

Chico Mendes foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região. Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.

Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue se eleger.

Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.

Liderou o 1º. Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional.

A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazônica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.

Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID. Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos.

Na ocasião, Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prêmios internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente.

Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação da UDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.

Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes , que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de perder a vida e que necessita de garantias.

No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes.

Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.

Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito, na porta dos fundos de sua casa, quando saía de casa para tomar banho.

Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia, e buscou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção. Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou dois filhos, Sandino e Elenira, na época com dois e quatro anos de idade, respectivamente. Em 1992 foi reconhecida através de exames de DNA uma terceira filha.

Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas se juntaram para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiam providências e, através de articulação nacional e internacional, pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido.

Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e 8 meses de prisão.

 


Entre nós
( Mauricio RH, Marina Silva )

E chega novamente aquela expectativa própria dessa época, em que se misturam uma correria de fim de ano com uma típica calmaria pela chegada de um novo ano.

Correria que invade a alma, junto com o turbilhão de coisas que recaem sobre as pessoas. Problemas pendentes, não resolvidos, chegam a dezembro com um prazo final.

Questões não respondidas reaparecem e insistem em nos acompanhar após as festas. E todo o trabalho realizado no decorrer do ano também se apresenta como interrogação, a buscar validação, chancela, avaliação criteriosa... temos que fechar as contas.

A calmaria vem com a confortante promessa de que tudo poderá mudar para melhor no ano que chega. Sonhos não realizados comparecem na esperançosa bandeja dos compromissos futuros: mais tempo para viver a vida, em lugar de ser vivido por ela. Mudar antes de ser mudado. Renunciar mais às certezas que ensoberbecem a alma, antes de ser estagnado por elas.

O que se fez e o que não se fez, muitas vezes, vira fardo nessa época tão intensa. Alívio e aflição, já que o ano termina e chegamos lá, e um pouco de chateação pelas coisas que ficam para trás sem, de fato, ficarem. Abraços não dados agora apertam o coração, e partimos a nos acotovelar em shoppings e em mercados para lá encontrar os presentes que dirão a amigos e parentes que, na verdade, os amamos e os queremos por perto.

Pensamos também nas pessoas que perdemos, nos amados que se foram e não poderemos mais abraçar. Que saudade de nosso grande Chico Mendes, que foi arrancado de nós há 23 anos, e da partida precoce de André Urani.

Na espécie de tsunami emocional que costuma acometer as pessoas nas festas de fim de ano, há algo que, lá, meio soterrado por preocupações e ansiedades e pelo consumismo desenfreado no qual se transformou o Natal, pode dar sentido às coisas e ser o fio condutor a nos levar de uma etapa a outra, fechando as contas com o ano que passa e abrindo o livro para o que vem.

Para mim, é o que dá sentido às festas. Vem com a saudação do anjo a Maria, como lemos no Evangelho de Lucas: "Alegra-te". É que chega a boa-nova, de grande alegria.

Como diz Hannah Arendt, "esta fé e esta esperança no mundo talvez nunca tenha sido expressa de modo tão sucinto e glorioso como nas breves palavras com as quais os Evangelhos anunciam a 'boa-nova': 'Nasceu uma criança entre nós'". É a alegria da fé em nossa eterna capacidade de começar.

Que o espaço entre pensar e agir, findar e começar, brincar e trabalhar, e outras coisas que só se realizam entre nós e os mundos que nos habitam, possa ser sempre ocupado pela criança que nasce e renasce em cada um de nós.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sono das Águas


Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água.
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Ma nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Amor é . . .


Uma pessoa enferma necessita de sexo, uma pessoa saudável ama, e amor é uma coisa totalmente diferente. E quando duas pessoas saudáveis se encontram, a saúde é multiplicada. Assim eles podem ser de ajuda um ao outro para o supremo. Eles podem ir juntos para o supremo, auxiliando um ao outro. Porém, a necessidade desaparece. Não é mais uma necessidade, não é mais uma dependência.

No Ocidente isso está acontecendo demais porque alguma coisa muito básica está sendo mal entendida. As pessoas acham que os relacionamentos são para quando elas estão felizes, quando estão bem. Quando algo dá errado - mesmo um problema físico - então porque se incomodar? Encontre outra mulher, ou outro homem! Isso me parece muito desumano. Se essa atitude permanecer, o amor não pode crescer. Então o que quer que você chame de amor não é nada senão sexo, porque amor significa que você se importa com a pessoa na saúde, na doença. Você cuida da pessoa. Quando a pessoa está amando - e às vezes a pessoa não está amando - assim também você tem cuidado. Você cuida da pessoa e você aceita todos os verões e invernos. Você aceita tudo que está na pessoa. Ela está saudável, ela está enferma, ela está envelhecendo, ela está jovem, ela está zangada, ela está furiosa - tudo é possível.

Osho.When The Shoe Fits

É preciso ter em mente estas três coisas: o amor de nível inferior é o sexo -- este é físico -- e o refinamento maior do amor é a compaixão. O sexo encontra-se abaixo do amor, a compaixão está acima dele; o amor fica exatamente no meio.

Bem pouca gente sabe o que é o amor. Noventa e nove por cento das pessoas, infelizmente, pensa que sexualidade é amor -- não é. A sexualidade é por demais animal; certamente, ela contém o potencial para transformar-se em amor, mas ainda não é amor, apenas potencial...

Se você se tornar consciente e alerta, meditativo, então o sexo poderá ser transformado em amor. E se a sua atitude meditativa tornar-se total, absoluta, o amor poderá ser transformado em compaixão. O sexo é a semente, o amor é a flor, compaixão é a fragrância.

Buda definiu a compaixão como sendo "amor mais meditação". Quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando o seu amor não é apenas uma necessidade, quando o seu amor é um compartilhar, quando seu amor não é de um pedinte, mas de um imperador, quando o seu amor não está pedindo nada em troca, mas está pronto para dar apenas -- dar só pela total alegria de dar --, então, acrescente a meditação a ele, e a pura fragrância é exalada. Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado.

Osho Zen, Zest, Zip, Zap and Zing Chapter 3

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Demasiado tarde?

Sex, 16 de Dezembro de 2011 11:06


Em artigo na Folha de São Paulo, Marina Silva avalia os pontos positivos e negativos da COP-17, realizada em Durban, e lamenta que a sociedade continue refém de uma política que se isola da vida.
logodurban




















O resultado da COP-17, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática, finalizada na semana passada em Durban, África do Sul, tem sido comemorado e lamentado.
A comemoração se baseia numa decisão que é, de fato, uma promessa. A de que até 2020 todos os países terão suas metas de redução das emissões de gases-estufa capaz de manter a elevação da temperatura do planeta na faixa de segurança dos 2°C até o final o século.
A lamentação vem do fato de que os países ignoraram a realidade e os alertas da ciência, que mostram que já sofremos com as mudanças climáticas. E, assim, nenhuma decisão concreta foi tomada para ampliar os tímidos esforços de redução das emissões, que seguirão crescendo até 2020. Vamos ficar quase uma década à espera de uma promessa!
Nesse limbo, a sociedade continua refém de uma política que se isola da vida: empobrecida, burocratizada e sem estadistas. Verdadeiros líderes são os que se apresentam nas crises, que se dispõem a ajudar a sociedade a fazer o que precisa ser feito, em nome do bem comum e dos mais nobres valores humanitários. E uma política sem estadistas interessa a quem não quer mudanças.
Quantos presidentes ou chefes de Estado estiveram em Durban? Quantos dão importância ao tema em suas agendas? Infelizmente, a discussão da crise climática perde para assuntos menores. O exílio da ciência, a domesticação dos políticos e a burocratização das negociações são a melhor forma para se perpetuar a mediocridade no âmbito multilateral.
A COP-17 representa esse retrocesso. Decidiram postergar as ações, as responsabilidades, e continuar condenando os mais pobres e vulneráveis a pagar a maior parte da conta, com suas vidas e esperanças. Em vez de agir, os países debaterão por quase uma década. Serão anos preciosos investidos em discussões nas quais interesses econômicos continuarão influenciando, impondo ganhos marginais ao processo.
Retrocesso ainda com o recuo dos compromissos dos países ricos, com o abandono do Protocolo de Kyoto por parte do Canadá, do Japão e da Rússia. E os EUA ganham quase uma década a mais de inação.
As próximas COPs, se continuarem apenas com negociadores e diplomatas, por mais comprometidos que sejam, correm o risco de ser ainda mais pobres política e cientificamente. Cria-se a condição para blindar os que não querem ser expostos ou constrangidos.
Como bem questionou Viriato Soromenho-Marques, da Universidade de Lisboa: "Como foi possível que a sociedade tecnológica e cientificamente mais avançada que o planeta já conheceu corra o risco de chegar demasiado tarde àquela incerta encruzilhada que separa a estrada da crise daquela outra que conduz ao colapso?".

sábado, 10 de dezembro de 2011

Aperto no Aviáo e no Coraçáo


Cada dia me convenço mais que viajar náo é coisa prá quem quer.......é  prá quem pode.

E poder - nesse caso -náo é só questáo de dinheiro.... é também de preparo fìsico e mental prá suportar todo o estresse que acompanha cada viagem.  Viajar prá descansar náo existe .....quem quiser descansar que fique em casa! 

Até chegar ao destino e desfrutar de seus prazeres sáo tantas as preocupaçóes que quem náo for um teimoso e apaixonado pelas viagens, acaba desistindo de programar a próxima. Começa com o peso das malas, cada vez mais restringido, atrasos e overbookings, medo que a mala náo apareça na esteira e que o cara da imigraçáo náo vá com a sua cara, aeroportos desconfortáveis, corredores intermináveis, sapatos que fazem calos, enfim...  contratempos que podem acontecer de uma só vez ou todos ao mesmo tempo.

Cada viagem que faço é diferente da outra, uma nova emoçáo, mesmo que o itinerário seja repetido. Já tive a viagem da mala roubada, a do passaporte errado, a do passeio de camburáo, a do depoimento na Polícia Federal, a dos 1000 metros rasos no aeroporto, e até a viagem no aviáo errado, mas tudo bem, como sou  persistente e adoro viajar, ainda náo desisti de nenhuma.....até agora os fins sempre justificaram os meios.

Essa foi a viagem do aperto. Começando com o aperto mais fácil de explicar, mas náo de justificar....o aperto do aviáo. JAMAIS viajei num aviáo táo apertado, tanto pelos lados como pela frente. TInha uma poltrona de 0,40 x 0,40m, ou seja, a maravilha de 0,16m2 por passageiro. Tive ainda a má idéia de colocar a bolsa no cháo logo que sentei, e só pude pegar alguma coisa depois que o passageiro do lado se levantou, pois era impossível ter acesso a ela sem topar com a cabeça na poltrona da frente ou ter que pedir ao cara do lado que levantasse a perna. Sentei e encaixei na poltrona, sem mexer até o aviáo aterrisar.

Pensei: se tivesse crescido um pouquinho mais ou ganho uns quilinhos na viagem, náo teria cabido...me conformei. Sem poder me mexer e sem sono, resolvi ler o livro da Danuza, que espertamente já tinha deixado fora da bolsa. Duas realidades diferentes mesmo que o assunto fosse viagens.  Na minha - só aperto e nenhum glamour- na dela, cenários idílicos de Paris e dicas de viagem que só me davam raiva, porque nem tudo é táo simples assim, Danuza.

 A começar pelos sapatos....para livrar peso e volume das malas escolhi viajar com um sapato de salto alto, que adoro, mas que depois de 7 horas passa a ser um instrumento de tortura, qdo os pés incham. Mas um dia chego lá ...náo prometo ir de tênis, mas uma sapatilha com um saltinho de 1 dedo pode ser....Outra dica impossível da Danuza....viajar pela Emirates.  Prá quem tem que fazer o trecho Recife- Lisboa o jeito é mesmo se apertar na TAP.

Chega a hora da surpresa boa... náo ter que descer as escadas do aviáo que sempre para a quilômetros de distância do aeroporto. Nas inúmeras vezes que fiz escala em Lisboa, sempre me perguntava quais seriam os
privilegiados que teriam direito ao mimo de desembarcar num daqueles fingers e dessa  vez fomos nós!  Obaaa!

Pra compensar o luxo, nos tocou andar por corredores intermináveis. Assim mesmo, diminuiu um poco  minha antipatia
por esse aeroporto...uma vez, para tentar escapar de uma fila enorme na hora de fazer controle de passaportes resolvi me meter na fila para países de lingua portuguesa, que parecia menor.  Péssima idéia, a fila náo andava e só tinha um atendente mal humorado prá atender a todos os ex-colonos africanos e brasileiros na pátria máe. Náo recomendo...

Caminhei sem pressa- afinal tinha 5 horas de espera para a minha próxima conexáo com Madrid. O próximo desafio seria encontrar um lugar confortável para poder esticar um pouco as pernas, e quem sabe dar algum cochilo depois de uma noite mal dormida.  Encontrei um  bar em frente ao portáo de embarque,com umas poltronas vermelhas maravilhosas que levariam a Danuza ao delírio.  Entre um café e outro, e longe do aperto do aviáo, lembrei do outro aperto que sentia, o do coraçáo.

Viajo de coraçáo apertado quando deixo prá trás meus seres queridos e absolutamente imprescindíveis como pais, irmáos e amigos. Sinto um aperto no coraçáo por deixar prá trás também minha terra querida.

Esse sentimento que me acompanha sempre quando a viagem é de volta, dessa vez foi ainda mais realçado por uma profunda indignaçáo ao  ver minha terra táo decadente. Cheguei ansiosa para ver os táo propalados efeitos de uma economia punjante, dos grandes avanços sociais e das melhorias nas infra-estruturas e acabei me deparando com outra realidade.
Me conformaria se tivesse visto que os investimentos tinham ido para a periferia, e que o nível de vida dos mais necessidados tinha realmente melhorado, mas o que vi foi muito lixo, esgotos a céu aberto, e  mendigos pelas ruas. A mediocridade e a corrupçáo estáo produzindo efeitos a olhos vistos. É chocante ver o atraso e a decadência  das instituiçóes encarregadas de zelar pelo bem estar e melhoria da populaçáo e mais triste ainda presenciar o anestesiamento de uma cidadania acomodada que náo reivindica e nem protesta.  Tudo no Brasil está caríssimo, e me pergunto que país é esse que cobra tanto em impostos e náo devolve nada??Revolta ver um contribuinte que só paga e náo recebe nada em troca. Posso citar milhóes de exemplos que vivenciei e me pergunto se minha vista foi obnublada por aspectos pontuais ou meu eterno otimismo no meu país virou algo anacrônico e impossível?

Voltando ao Recife, cheguei com a expectativa de ver a capital de um estado que se gaba de seu crescimento e de suas oportunidades de emprego, dos megas investimentos e me deparo com uma cidade feia, caótica,suja e abandonada. Continuo a ver buracos e calçadas destruídas que têm a minha idade, engarrafamentos constantes, canteiros e jardins absolutamente descuidados. Vi muros imundos e terrenos baldios que mais parecem mini lixóes, mesmo em bairros ditos como nobres.  Negócios desordenados funcionando em calçadas, impedindo a livre circulaçáo dos pedestres. Acessibilidade? Nem pensar... 

Vi um viaduto recém construído na Estrada da Batalha, que quando acaba náo é nivelado com o nível da rua que se encontra, falta acabamento e sinalizaçáo. Falha na gestáo, na fiscalizaçáo ou na mentalidade???

Vi uma Av. Recife com os mesmos buracos de quando eu ia para a faculdade, há quase 30 anos atrás. Predios abandonados e destruídos que mais parecem ter saído de uma guerra como o antigo centro de distibuiçáo do Bompreço, e o da  loja Esplêndidos. Náo há uma cultura de manutençáo e limpeza nem da coisa púbica nem da privada.  A prática nos indica que tudo o que é construído novo dentro de 10 anos será lixo.  Basta ver o predio da Casa de Carolina, onde arquitetos e empresas reformaram com tanto esforço e hoje náo passa de uma ruína.

Seguindo pela Av. Recife, me deparei com o prédio da Justiça Federal que está sendo comido pelo mato e pelo mofo na fachada. Melhor nem falar da triste visáo que dá ver o estado da Faculdade de Medicina e Hospital das Clínicas.

Sigo pela BR 101, e vejo os morros de Casa Amarela mais inchados de favelas, e sinto vontade de chorar quando vejo um serviço de manutençáo de estradas medindo buraquinhos de 0,50 x 0,80 recém tapados com uma capinha de asfalto que náo aguentaráo 2 chuvas mas que custaráo o preço de uma estrada nova ao contribuinte.... mas náo me detenho mais nessa maravilhosa estrada federal, pois ninguém merece ouvir falar do tempo que demorei para sair de Abreu e Lima, outro modelo de desenvolvimento urbano.

Volto à Casa Forte e me deparo com ruas ainda descalçadas. Numa delas, havia uma festa armada pela prefeitura, com direito a comes e bebes, maracatu e discurso do prefeito para propagar que em breve seria pavimentada.  Segundo a propaganda, era coisa do orçamento participativo, onde só eles participam!  E ainda temos que dar graças a Deus à essa mediocridade??? Em Boa Viagem, precisei entrar numa  paralela à Domingos Ferreira, a poucos metros do Aero Clube e encontro um verdadeiro caos urbano , esgoto corrente, gente desocupada nas ruas  e muito lixo.  e náo precisa nem ser numa favela, pois no Encanta Moça, onde está sendo construído o Shopping Rio Mar, têm ruas alagadas por esgotos perenes.  

Meus pensamentos voltam-se para Madrid, onde chego para mais uma baldeaçáo. Saio do aeroporto rumo à Estaçáo de Trens de Atocha num ônibus novo e confortável  colocado à disposiçáo  dos passageiros pela prefeitura, por um custo irrisório de 2 euros. Sáo 20 minutos de viagem, numa autopista impecável, sem sujeira, buracos nem canteiros de mato invadindo a estrada, que desemboca no centro de Madrid.  Me emociono com a beleza da decoraçáo natalina nas ruas, principalmente na Porta de Alcalá, e vejo uma cidade vibrante com milhóes de pessoas nas ruas passeando e desfrutando da sua cidade. Sem buracos, sem lixo e sem assaltos, mesmo numa das maiores crises da sua história. 

Impossível náo se perguntar...onde está o nosso problema??? Será que a Danuza tem alguma dica???  Tudo é táo simples...


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Natal

Estou preparando a minha árvore de Natal. Quero que ela seja viva, mas não quero que seja exterior. Eu a quero dentro de mim. Tenho medo das exterioridades. Elas nos condenam. Ando pensando que o silêncio do interior é mais convincente que o argumento da palavra.

Quero que minha árvore seja feita de silêncios. Silêncios que façam intuir felicidade, contentamento, sorrisos sinceros.

Neste Natal não quero mandar cartões. Tenho medo de frases prontas. Elas representam obrigação sendo cumprida. Prefiro a gratuidade do gesto, o improviso do texto, o erro de grafia e o acerto do sentimento. A vida é mais bonita no improviso, no encontro inesperado, quando os olhares se cruzam e se encontram.

Quero que minha árvore seja feita de realidades. Neste Natal quero descansar de meus inúmeros planos. Quero a simplicidade que me faça voltar às minhas origens. Não quero muitas luzes. Quero apenas o direito de encontrar o caminho do presépio para que eu não perca o menino Jesus de vista. Tenho medo de que as árvores muito iluminadas me façam esquecer o dono da festa.

Não quero Papai Noel por perto. Aliás acho essa figura totalmente dispensável! Pode ficar no Pólo Norte desfrutando do seu inverno. Suas roupas vermelhas e suas barbas longas não combinam com o calor que enfrentamos nessa época do ano. Prefiro a presença dos pastores com seus presentes sinceros.

Papai Noel faz muito barulho quando chega. Ele acorda o menino Jesus, o faz chorar assustado. Os pastores não. Eles chegam silenciosos. São discretos e não incomodam...
Os presentes que trazem nos recordam a divindade do menino que nasceu. São presentes que nos reúnem em torno de uma felicidade única. O ouro que brilha, o incenso que perfuma o ambiente e a mirra com suas composições miraculosas.

O papai Noel chega derrubando tudo. Suas renas indisciplinadas dispersam as crianças, reiram a paz dos adultos. Os brinquedos tão espalhafatosos retiram a tranquilidade da noite que deveria ser silenciosa e feliz. O grande problema é que não sabemos que a felicidade mais fecunda é aquela que acontece no silêncio.

É por isso que neste Natal eu não quero muita coisa. Quero apenas o direito de recolher o pequenino menino na manjedoura... Quero acolhê-lo nos braços, cantar-lhe canções de ninar, afagar-lhe os cabelos, apertar-lhe as bochechas, trocar-lhe as fraldas para que não tenha assaduras e dizer nos seus ouvidos que ele é a razão que me faz acreditar que a noite poderá ser verdadeiramente feliz.

Neste Natal eu não quero muito. Quero apenas dividir com Maria os cuidados com o pequeno menino. Quero cuidar dele por ela. Enquanto eu cuido dele, ela pode descansar um pouquinho ao lado de José. Ando desfrutando nos últimos dias o desejo mais intenso de que a vida vença a morte.

Talvez seja por isso que ando desejando uma árvore invisível. O único jeito que temos de vencer a morte é descobrindo a vida nos pequenos espaços. Assim vamos fazendo a substituição. Onde existe o desespero da morte eu coloco o sorriso da vida.
 Bibi Freitas
Abri meu facebook hoje com esta mensagem linda de Sam, meu amigo querido, Anand Sampurno. A Bibi, que o escreveu, colocou em palavras todas as emções que invadem meu coração a cada final de ano. Grata, Bibi e Sam!! Namastê.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A caixa já está cheia, Seu Dito!



Onde construíram o Banco do Brasil , ficava a casa de Tia Calu. Era lá onde passava minhas férias de julho e dezembro. Passava o resto do ano a sonhar com aqueles momentos. Tio Vicente era um homem íntegro, de postura séria e ao mesmo tempo, doce, simpático, fraterno. Enquanto a casas esteve lá, o via, no final da tarde, branco, sem camisa, calças folgadas, a observar o movimento da rua. D. Zelinda voltava da loja, Ditim fechava a farmácia, Ritinha, Teté,  desciam da feira... Todos os primos e tios estavam na cidade e era lá o ponto de encontro. Ninguém se atrevia a vir a Oeiras e deixar de passar por lá. Eram os melhores dias da minha infância e adolescência. Criada distante,  sonhava um dia fazer parte daquele contexto.
Mas não era ainda de mim que pretendia contar , e sim da lembrança que me ocorreu há pouco: o poço, a bomba e a caixa d’água da casa de Tia Calu. Todas as casas da cidade tinham seu poço, a bomba, a caixa e um serviçal que puxava água no final da tarde e pela manhã. Acordava com os passos de Seu Dito, no corredor que levava ao quintal e, através dele, à bomba.  A água da caixa, cedinho, era sempre gelada. Preferia o banho à tarde, quando a água já estava morna, depois de um dia de sol quente.  Da cozinha ficava a escutar os movimentos da manivela, o sim da água a cair em jorros, no inicio percebia a queda do jorro d’água pouca, subindo aos poucos, a cada braçada, até vazar pelo ladrão. O cano que ficava no topo, mostrava que a caixa estava cheia. Seu Dito gostava de dar umas bombadas a mais para deixar “esborrar”.  E ele bombeava e olhava para o cano, no alto, e gostava de ver a água escapar, em pedaços. A expressão de sua face me parecia um riso aliviado. Como se aqueles pedaços d’água saíssem de seus olhos. Gotas de lágrimas a limpar as dores da solidão.
Talvez seja assim com a gente.
Às vezes as dores doem tanto, como aquelas bombeadas, no peito...
Transbordam pelos olhos em lágrimas... Vazam . . .aliviam em forma de sorriso.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Rescatar la dimensión chamánica

Leonardo Boff

02/12/2011
La categoría sostenibilidad, tomada en su sentido amplio y no reducida solo al desarrollo, abarca toda acción enfocada a mantener a los seres en la existencia, porque tienen derecho a coexistir con nosotros, y solo a partir de esta convivencia utilizamos, con sobriedad y respeto, una parte de ellos para atender nuestras necesidades, preservándolos también para las generaciones futuras. En este concepto cabe también el universo. Hoy sabemos por la nueva cosmología que estamos hechos de polvo de estrellas y nos sostiene y pasa por nosotros la misteriosa Energía de Fondo que alimenta todo y que se desdobla en las cuatro fuerzas –la gravitatoria, la electromagnética, la nuclear fuerte y la débil– que, actuando siempre juntas, nos mantienen así como somos.

Como seres conscientes e inteligentes tenemos nuestro lugar y nuestra función dentro del proceso cosmogénico. Si no somos el centro de todo, seguramente somos una de esas puntas avanzadas por las cuales el universo se vuelve sobre sí mismo, es decir, se vuelve consciente. El principio antrópico débil nos permite decir que, para ser lo que somos, todas las energías y procesos de la evolución se organizaron de forma tan articulada y sutil que hicieron posible nuestra aparición. En caso contrario, yo no estaría ahora escribiendo aquí.

A través de nosotros, el universo y la Tierra se ven y se contemplan a sí mismos. La capacidad de ver surgió hace 600 millones de años. Hasta entonces la Tierra era ciega. El cielo profundo y estrellado, las cataratas de Iguaçu, donde me encuentro ahora, el verdor de las selvas de aquí al lado, no se podían ver. A través de nuestra vista, la Tierra y el universo pueden ver toda esta indescriptible belleza.

Los pueblos originarios, de los andinos a los samis del ártico, se sentían unidos al universo, como hermanos y hermanas de las estrellas, formando una gran familia cósmica. Nosotros hemos perdido ese sentimiento de pertenencia mutua. Ellos sentían que las fuerzas cósmicas equilibraban el curso de todos los seres y actuaban en su interior. Vivir en consonancia con estas energías fundamentales era llevar una vida sostenible y llena de sentido.

Sabemos por la física cuántica que la conciencia y el mundo material están conectados y que la manera que un científico escoge para hacer su observación afecta al objeto observado. Observador y objeto observado se encuentran indisolublemente ligados. De ahí que la inclusión de la conciencia en las teorías científicas y en la propia realidad del cosmos es un dato ya asimilado por gran parte de la comunidad científica. Formamos, efectivamente, un todo complejo y diversificado.

Son conocidas las figuras de los chamanes, tan presentes en el mundo antiguo y que hoy están volviendo con renovado vigor, como lo ha mostrado el físico cuántico P. Drouot en su libro El chamán, el físico y el místico (Vergara 2001) que tuve el honor de prologar. El chamán vive un estado de conciencia singular que lo hace entrar en contacto íntimo con las energías cósmicas. Entiende la llamada de las montañas, de los lagos, de los bosques y selvas, de los animales y de los seres humanos. Sabe conducir tales energías para fines curativos y para  armonizarlas con el todo.

En el interior de cada uno de nosotros existe escondida la dimensión chamánica. Esa energía chamánica nos hace quedar en silencio ante la grandeza del mar, vibrar con la mirada de otra persona, estremecernos ante un recién nacido. Necesitamos liberar esta dimensión chamánica en nosotros para entrar en sintonía con todo lo que nos rodea y sentirnos en paz.

Nuestro deseo de viajar con las naves espaciales por el espacio cósmico ¿no será tal vez el deseo arquetípico de buscar nuestros orígenes estelares y el ímpetu de regresar al lugar de nuestro nacimiento? Varios astronautas expresaron ideas semejantes. Esta incontenible búsqueda nuestra de equilibrio con todo el universo y de sentirnos parte del universo pertenece a la noción inteligible de la sostenibilidad.

La sostenibilidad lleva consigo la valoración de este capital humano y espiritual cuyo efecto es producirnos respeto y sentido de sacralidad ante todas las realidades, valores estos que alimentan la ecología profunda y que nos ayudan a respetar y a vivir en sintonía con la Madre Tierra. Hoy se hace urgente esta actitud para moderar la fuerza destructiva que en las últimas décadas se ha apoderado de nosotros.