sábado, 10 de dezembro de 2011

Aperto no Aviáo e no Coraçáo


Cada dia me convenço mais que viajar náo é coisa prá quem quer.......é  prá quem pode.

E poder - nesse caso -náo é só questáo de dinheiro.... é também de preparo fìsico e mental prá suportar todo o estresse que acompanha cada viagem.  Viajar prá descansar náo existe .....quem quiser descansar que fique em casa! 

Até chegar ao destino e desfrutar de seus prazeres sáo tantas as preocupaçóes que quem náo for um teimoso e apaixonado pelas viagens, acaba desistindo de programar a próxima. Começa com o peso das malas, cada vez mais restringido, atrasos e overbookings, medo que a mala náo apareça na esteira e que o cara da imigraçáo náo vá com a sua cara, aeroportos desconfortáveis, corredores intermináveis, sapatos que fazem calos, enfim...  contratempos que podem acontecer de uma só vez ou todos ao mesmo tempo.

Cada viagem que faço é diferente da outra, uma nova emoçáo, mesmo que o itinerário seja repetido. Já tive a viagem da mala roubada, a do passaporte errado, a do passeio de camburáo, a do depoimento na Polícia Federal, a dos 1000 metros rasos no aeroporto, e até a viagem no aviáo errado, mas tudo bem, como sou  persistente e adoro viajar, ainda náo desisti de nenhuma.....até agora os fins sempre justificaram os meios.

Essa foi a viagem do aperto. Começando com o aperto mais fácil de explicar, mas náo de justificar....o aperto do aviáo. JAMAIS viajei num aviáo táo apertado, tanto pelos lados como pela frente. TInha uma poltrona de 0,40 x 0,40m, ou seja, a maravilha de 0,16m2 por passageiro. Tive ainda a má idéia de colocar a bolsa no cháo logo que sentei, e só pude pegar alguma coisa depois que o passageiro do lado se levantou, pois era impossível ter acesso a ela sem topar com a cabeça na poltrona da frente ou ter que pedir ao cara do lado que levantasse a perna. Sentei e encaixei na poltrona, sem mexer até o aviáo aterrisar.

Pensei: se tivesse crescido um pouquinho mais ou ganho uns quilinhos na viagem, náo teria cabido...me conformei. Sem poder me mexer e sem sono, resolvi ler o livro da Danuza, que espertamente já tinha deixado fora da bolsa. Duas realidades diferentes mesmo que o assunto fosse viagens.  Na minha - só aperto e nenhum glamour- na dela, cenários idílicos de Paris e dicas de viagem que só me davam raiva, porque nem tudo é táo simples assim, Danuza.

 A começar pelos sapatos....para livrar peso e volume das malas escolhi viajar com um sapato de salto alto, que adoro, mas que depois de 7 horas passa a ser um instrumento de tortura, qdo os pés incham. Mas um dia chego lá ...náo prometo ir de tênis, mas uma sapatilha com um saltinho de 1 dedo pode ser....Outra dica impossível da Danuza....viajar pela Emirates.  Prá quem tem que fazer o trecho Recife- Lisboa o jeito é mesmo se apertar na TAP.

Chega a hora da surpresa boa... náo ter que descer as escadas do aviáo que sempre para a quilômetros de distância do aeroporto. Nas inúmeras vezes que fiz escala em Lisboa, sempre me perguntava quais seriam os
privilegiados que teriam direito ao mimo de desembarcar num daqueles fingers e dessa  vez fomos nós!  Obaaa!

Pra compensar o luxo, nos tocou andar por corredores intermináveis. Assim mesmo, diminuiu um poco  minha antipatia
por esse aeroporto...uma vez, para tentar escapar de uma fila enorme na hora de fazer controle de passaportes resolvi me meter na fila para países de lingua portuguesa, que parecia menor.  Péssima idéia, a fila náo andava e só tinha um atendente mal humorado prá atender a todos os ex-colonos africanos e brasileiros na pátria máe. Náo recomendo...

Caminhei sem pressa- afinal tinha 5 horas de espera para a minha próxima conexáo com Madrid. O próximo desafio seria encontrar um lugar confortável para poder esticar um pouco as pernas, e quem sabe dar algum cochilo depois de uma noite mal dormida.  Encontrei um  bar em frente ao portáo de embarque,com umas poltronas vermelhas maravilhosas que levariam a Danuza ao delírio.  Entre um café e outro, e longe do aperto do aviáo, lembrei do outro aperto que sentia, o do coraçáo.

Viajo de coraçáo apertado quando deixo prá trás meus seres queridos e absolutamente imprescindíveis como pais, irmáos e amigos. Sinto um aperto no coraçáo por deixar prá trás também minha terra querida.

Esse sentimento que me acompanha sempre quando a viagem é de volta, dessa vez foi ainda mais realçado por uma profunda indignaçáo ao  ver minha terra táo decadente. Cheguei ansiosa para ver os táo propalados efeitos de uma economia punjante, dos grandes avanços sociais e das melhorias nas infra-estruturas e acabei me deparando com outra realidade.
Me conformaria se tivesse visto que os investimentos tinham ido para a periferia, e que o nível de vida dos mais necessidados tinha realmente melhorado, mas o que vi foi muito lixo, esgotos a céu aberto, e  mendigos pelas ruas. A mediocridade e a corrupçáo estáo produzindo efeitos a olhos vistos. É chocante ver o atraso e a decadência  das instituiçóes encarregadas de zelar pelo bem estar e melhoria da populaçáo e mais triste ainda presenciar o anestesiamento de uma cidadania acomodada que náo reivindica e nem protesta.  Tudo no Brasil está caríssimo, e me pergunto que país é esse que cobra tanto em impostos e náo devolve nada??Revolta ver um contribuinte que só paga e náo recebe nada em troca. Posso citar milhóes de exemplos que vivenciei e me pergunto se minha vista foi obnublada por aspectos pontuais ou meu eterno otimismo no meu país virou algo anacrônico e impossível?

Voltando ao Recife, cheguei com a expectativa de ver a capital de um estado que se gaba de seu crescimento e de suas oportunidades de emprego, dos megas investimentos e me deparo com uma cidade feia, caótica,suja e abandonada. Continuo a ver buracos e calçadas destruídas que têm a minha idade, engarrafamentos constantes, canteiros e jardins absolutamente descuidados. Vi muros imundos e terrenos baldios que mais parecem mini lixóes, mesmo em bairros ditos como nobres.  Negócios desordenados funcionando em calçadas, impedindo a livre circulaçáo dos pedestres. Acessibilidade? Nem pensar... 

Vi um viaduto recém construído na Estrada da Batalha, que quando acaba náo é nivelado com o nível da rua que se encontra, falta acabamento e sinalizaçáo. Falha na gestáo, na fiscalizaçáo ou na mentalidade???

Vi uma Av. Recife com os mesmos buracos de quando eu ia para a faculdade, há quase 30 anos atrás. Predios abandonados e destruídos que mais parecem ter saído de uma guerra como o antigo centro de distibuiçáo do Bompreço, e o da  loja Esplêndidos. Náo há uma cultura de manutençáo e limpeza nem da coisa púbica nem da privada.  A prática nos indica que tudo o que é construído novo dentro de 10 anos será lixo.  Basta ver o predio da Casa de Carolina, onde arquitetos e empresas reformaram com tanto esforço e hoje náo passa de uma ruína.

Seguindo pela Av. Recife, me deparei com o prédio da Justiça Federal que está sendo comido pelo mato e pelo mofo na fachada. Melhor nem falar da triste visáo que dá ver o estado da Faculdade de Medicina e Hospital das Clínicas.

Sigo pela BR 101, e vejo os morros de Casa Amarela mais inchados de favelas, e sinto vontade de chorar quando vejo um serviço de manutençáo de estradas medindo buraquinhos de 0,50 x 0,80 recém tapados com uma capinha de asfalto que náo aguentaráo 2 chuvas mas que custaráo o preço de uma estrada nova ao contribuinte.... mas náo me detenho mais nessa maravilhosa estrada federal, pois ninguém merece ouvir falar do tempo que demorei para sair de Abreu e Lima, outro modelo de desenvolvimento urbano.

Volto à Casa Forte e me deparo com ruas ainda descalçadas. Numa delas, havia uma festa armada pela prefeitura, com direito a comes e bebes, maracatu e discurso do prefeito para propagar que em breve seria pavimentada.  Segundo a propaganda, era coisa do orçamento participativo, onde só eles participam!  E ainda temos que dar graças a Deus à essa mediocridade??? Em Boa Viagem, precisei entrar numa  paralela à Domingos Ferreira, a poucos metros do Aero Clube e encontro um verdadeiro caos urbano , esgoto corrente, gente desocupada nas ruas  e muito lixo.  e náo precisa nem ser numa favela, pois no Encanta Moça, onde está sendo construído o Shopping Rio Mar, têm ruas alagadas por esgotos perenes.  

Meus pensamentos voltam-se para Madrid, onde chego para mais uma baldeaçáo. Saio do aeroporto rumo à Estaçáo de Trens de Atocha num ônibus novo e confortável  colocado à disposiçáo  dos passageiros pela prefeitura, por um custo irrisório de 2 euros. Sáo 20 minutos de viagem, numa autopista impecável, sem sujeira, buracos nem canteiros de mato invadindo a estrada, que desemboca no centro de Madrid.  Me emociono com a beleza da decoraçáo natalina nas ruas, principalmente na Porta de Alcalá, e vejo uma cidade vibrante com milhóes de pessoas nas ruas passeando e desfrutando da sua cidade. Sem buracos, sem lixo e sem assaltos, mesmo numa das maiores crises da sua história. 

Impossível náo se perguntar...onde está o nosso problema??? Será que a Danuza tem alguma dica???  Tudo é táo simples...


Um comentário:

Mari disse...

Minhas amigas sempre me enchendo de orgulho! É um privilégio ter pessoas queridas tão talentosas. Lindo, Thaisinha! Parabéns! E prabéns, Jô, por reproduzir... coisa que também farei "nestante"... Beijos