domingo, 7 de agosto de 2011

O pensamento de vanguarda na política

 
Nos anos oitenta, pensar na preservação do meio ambiente e abraçar as questões ecológicas parecia ingenuidade, elitismo e utopia, pois o processo de abertura democrática trazia à tona as grandes lutas da classe operária que urgiam por soluções de organização e visavam o fortalecimento dos sindicatos,  que dariam o surgimento de um pensamento político genuinamente brasileiro, muito embora com o paradigma calcado nos países do bloco socialista. Os anos noventa demonstraram que nenhum partido político poderia deixar de inserir nos seus programas, além das metas comuns, a luta contra a desigualdade social, com melhor distribuição de renda, melhor administração do dinheiro público, destinação de recursos precípuos nas áreas da saúde e educação, projetos de habitação popular, reforma agrária,  acrescentou-se como ponto nos programas partidários, todos, sem exceção, as questões relativas ao meio ambiente, difundindo-se a questão ecológica, como paradigma para a modernidade.

Já não é mais novo o pensamento de preservação da natureza, do meio ambiente. Michel Serres, filósofo francês contemporâneo, escreveu há mais de duas décadas, na obra intitulada “Contrato Natural”: “Se existisse um direito e uma história para as guerras subjetivas, não existe nenhum para a violência objetiva,  sem limite nem regra, portanto sem história. O aumento dos nossos meios racionais nos leva, numa velocidade difícil de calcular, em direção à destruição do mundo que, por um efeito de retorno bastante recente, pode condenar-nos todos juntos, e não mais por localidade, à extinção automática.

Repentinamente voltamos aos tempos mais antigos,  que apenas os filósofos teóricos do direito guardaram na memória – em suas concepções e através delas – o momento em que nossas culturas, salvas por um contrato, inventaram nossa história, definida pelo esquecimento do estado que a precedeu.

Nas condições muito diferentes deste estado anterior, mas às paralelas, é preciso que, novamente, sob ameaça coletiva, inventemos um direito para a violência objetiva, exatamente como ancestrais impossíveis de imaginar inventaram o direito mais antigo que, através de contrato, levou sua violência subjetiva a tornar-se o que chamamos de guerras. Um novo pacto, um novo acordo prévio, que devemos fazer com o inimigo objetivo do mundo humano: o mundo tal como está: Guerra de todos contra tudo.

A evidência nos mostra que se deve recomeçar o fundamento de uma história, cujo fim está a vista. Trata-se da morte de Marte? Que faremos com os nossos exércitos? Executa-se, muitas vezes, nos governos a volta desta espantosa pergunta.
É mais do que isto: trata-se da necessidade de rever e, até mesmo e para pior, segundo a primeira diagonal, sem mundo; agora que sabemos nos associar diante do perigo, é preciso prever, ao longo da outra diagonal, um novo pacto a assinar com o mundo: o contrato natural”.

Cruzam-se assim os dois contratos fundamentais “(obra citada – p.25).
Michel Serres ainda propõe na mesmo linha de pensamento o resgate da beleza e da paz como conceitos fundamentais. Ainda em sua fala flui: “a beleza requer a paz; a paz pressupõe um novo contrato”. “Devemos decidir a paz entre nós para salvaguardar o mundo e a paz com o mundo para nos salvaguardar”. 

Parece excesso, ilusão, purismo, contudo a grande novidade que se nos apresenta no pensamento político de vanguarda, se é que assim se pode chamar, é, de fato, o “Contrato Natural”, fulcrado nas questões que envolvem a natureza humana como objeto integrado –  no meio em que vivemos e o meio ambiente um terceiro sujeito em todas as relações humanas contratuais.
Como reflexão para ação imediata, é necessário gravar um marco histórico: na data de 06 de abril de 2000, a descoberta dos códigos genéticos do genoma (DNA – três milhões de genes, equivalentes a letras a se decifrar e a se organizar em curto espaço de tempo) pelo americano do “Célebre Genoma” entidade privada, muda completamente o curso da vida na terra. Doenças podem ser detectadas e prevenidas através dos genes, além da possibilidade real e concreta da clonagem humana em série. Tal conhecimento é uma rama que pode ser utilizada para o bem e para o mal. A bioética se impõe como ponto da mais alta importância dos mecanismos e organismos políticos mundiais.
Parece que o pensamento de vanguarda que hoje se impõe é a volta à natureza.
Não se trata de “ditadura verde” como alguns ambientalistas radicais defendem.
A natureza já responde aos ataques que sofre – os recados estão dados: aquecimento global, tsunamis, enchentes, secas…

Não se pretende nenhum retrocesso aos conhecimentos adquiridos ao longo dos tempos, mas a retomada dos valores básicos e simples da vida em sociedade. O respeito, a ética, as noções primárias de certo e errado no trato dos bens públicos e privados – materiais e espirituais, o resgate da paz e da beleza como bem já ensinou o mestre francês cuja lição aqui emprestamos.

Vera  Motta – Advogada
Dirigente Nacional
Partido Verde

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