sábado, 26 de novembro de 2011

Uma noite com os potós


                 Todo cuidado foi pouco.  Depois de três anos ilesa fui, finalmente, batizada pelos potós de Oeiras. Morria de medo. Via todo mundo aparecer com queimaduras horrorosas, por isso, tomava o maior cuidado. Antes de dormir, sacodia todos os tecidos, apagava a luz muito antes de entrar no quarto, jamais parava embaixo de luz branca nem na praça nem no Café Oeiras.                 A moradia á Praça das Vitórias era tranquila.  Costumo meditar de manhã cedinho, no silêncio da madrugada. Esse horário sempre me pareceu mais apropriado para entrar em contato com o Divino.  E todos os dias, a esta época do ano, mal amanhecia o dia, apareciam novas histórias de queimaduras imensas. Tudo serviço dos insetinhos rubro-negros.  As queimaduras , tal como os alto-falantes da Igreja Matriz e os fuxicos da política me pareciam parte integrante da vida de todo oeirense.  


                Foi ali, à Praça das  Vitórias que recebi o referido batismo. Recebi uma queimadura de potó na face. Senti o queimar logo depois do horário do terço. Corri ao banheiro, embebi um algodão em  Leite de Colônia e limpei suavemente.  Temia espalhar o “mijo”  e queimar o rosto inteiro. Mas o ardor continuava. Lavei com sabão neutro... o ardor continuava. Em minutos aparecera  um vinco vermelho e o pavor do potó aumentava.   Resolvi procurar por toda a casa de onde teria vindo aquele agressor. Encontrei três espécimes sobre minha mesa de trabalho.  Aprisionei-os sob um copo de vidro na mesa ao lado do computador e decidi observar com uma lupa o comportamento deles  aprisionados. Pulavam e tentavam subir para a luz.  Tinham asinhas fininhas e transparentes.  Um era pequeno, parecia marrom e  não tinha asas. Dois eram maiores, listadinhos de vermelho e preto e gordinhos. 


                Não conseguiria mesmo dormir por causa da queimadura e do medo.  Passei a noite a observar. Num certo momento, os dois potós gordinhos começaram a coçar as costas cabeludinhas e derrubaram as assas. Depois disso começaram a diminuir de tamanho. Deduzi que estavam expelindo o liquido contido nos anéis do abdome.   A internet do  Walmauri, àquela época, só me permitia mesmo trabalhar após a meia noite. Escolhi os três potós para me acompanhar nas pesquisas da madrugada. Descobri , na pesquisa, que potós comem de tudo.  São polífagos. Alimentam-se de matéria orgânica em decomposição e de pequenos insetos também. O liquido que excretam causa coceira e ulcerações. É um ácido. Quando a gente coça, as bactérias embaixo das unhas (por mais que se lavem as mãos, elas existem) espalham o ácido que, queima e fere e infectam.  As ulcerações  crescem por causa da coceira. Minha mania, herdada de minha mãe, de usar Leite de Colônia para limpar a pele foi que me salvou da queimadura no rosto.  Certamente o álcool amenizou o efeito do ácido e o ácido bórico eliminou boa parte das bactérias que viriam contaminar a queimadura.
                Ao amanhecer, horário da minha meditação e oração, a vermelhidão estava praticamente desaparecida. Eu havia encontrado algumas explicações ótimas e uma dica fundamental:  os insetos são atraídos por luz branca. Uma boa maneira de mantê-los afastados de casa é ter lâmpadas de luz amarela no interior e afastada uns 15 a 20 metros das janelas, iluminação com luz branca.
               E : quando sentir que um potó caiu sobre você, não coce. Umedeça o local atingido com algodão embebido em água de colônia ou perfume, lave com sabão neutro e sossegue.

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