terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Religião e Religiosidade



Na essência dos ensinamentos das religiões, existe uma tendência comum em torno de se alcançar a atitude moral equilibrada.
Em todas elas, pode-se observar uma pregação constante na permanente busca pelo
inefável, incognoscível e transcendente.

Nem sempre o caminho a ser percorrido pelos adeptos consegue atingir esse alvo, pois cada ser humano possui seu repertório de experiências que balizará sua relação com a religião.

Fundamental é que se perceba, além do aspecto concreto que existe do divino até o ser humano, o que há psiquicamente, isto é, o repertório de experiências acumuladas no inconsciente humano, que interferem no caminho a ser percorrido.

O ser humano constrói uma Religião Pessoal, independentemente do que lhe acontece externamente, por conta da percepção própria a respeito do sagrado.

Os termos religião, atitude religiosa, religiosidade, espiritualismo, inquietação mística, ascese mística, entre outros, nem sempre se referem aos mesmos objetos de interesse.

A criatura humana, mesmo estando consciente de que busca algo superior para a compreensão de si mesmo e do universo que a cerca, nem sempre sabe de fato o que quer. Sofre influências inconscientes, oriundas de suas próprias experiências pregressas, que a levam a acreditar cada vez mais em algo distinto do que conscientemente deseja.

 Medos e anseios pueris interferem na sua compreensão, levando-a muitas vezes a buscar salvações mágicas e inconseqüentes.
A adoção de uma religião parece ser um ato exclusivamente aleatório de seu livre-arbítrio ou resultante de um chamado divino, neste caso externo.
Deve ser também considerada uma necessidade psicológica, portanto, interna.
Nesse último aspecto, uma condição coletiva contra a qual não se pode resistir.
Uma tendência humana forjadora da cultura e dos valores. Nesse sentido, de existir
um imperativo psicológico inconsciente, a autoridade religiosa que norteia a busca espiritual do ser humano não deve ser externa (um livro, um líder religioso, um depoimento de alguém, um governo etc.), muito embora possa se iniciar dessa maneira.

 A autoridade real deve ser a própria consciência humana, a partir das experiências
adquiridas em suas vidas sucessivas, conduzidas pelo sentido que atribui a sua vida atual e futura.
Sobre a tendência inconsciente deve prevalecer uma atitude consciente.

Nas organizações religiosas de pequenas comunidades, as escolhas individuais se estruturam contaminadas pelo arquétipo dominante que atua em seus líderes. Só a maturidade do ego pode fazer a consciência assumir a atitude religiosa.

Religiosidade é a tendência ao sagrado, isto é, ao que transcende o humano para além dele mesmo.
Necessariamente não obriga o ser humano à adoção de uma religião.
Quando a religião é adotada, a religiosidade adequou-se, podendo resultar, ou não, em estagnação da consciência que deseja realizar-se.

A religião formal tende a permitir um certo alívio da tensão provocada pelo inconsciente,
que impulsiona o ego na direção do sagrado.
 A religiosidade o impulsiona para a compreensão de si mesmo, assimilando os conteúdos inconscientes, direcionando sua energia para a compreensão da realidade e de sua existência no mundo.

O conhecimento a respeito das coisas do espírito, vindo do Espiritismo ou de outras religiões mediúnicas, do Hinduísmo, do Cristianismo ou de crenças esotéricas, deve ser utilizado para a formação da Religião Pessoal.

Por enquanto ele ainda é elemento da curiosidade da consciência pueril da humanidade, usado como sistema de proteção contra o medo e o desconhecido.

Em face da infância espiritual do ser humano, tal conhecimento é misturado com crendices e superstições, que apenas atendem ao anseio coletivo de aliviar as tensões inconscientes.

Ainda não estão a serviço da religiosidade nem da formação da Religião Pessoal, muito embora sirvam à atualização do arquétipo, necessitando da conscientização adequada pelo ego para a internalização do resultante das experiências vividas.

É importante ressaltar que a religião coletiva não se constituiu num conjunto coeso de normas e regras interpretadas e aceitas integralmente por todos. Tampouco se deve pensar que a totalidade dos adeptos de uma religião tem a mesma consciência de seus princípios, bem como a praticam da mesma forma.
Na realidade, os adeptos das grandes religiões vivenciam o sagrado de diferentes formas, mas preferem estar abrigados sob o manto protetor da coletividade a assumir, cada um, sua singularidade.

Pode-se dizer que não existe religião uniforme, pois na realidade seus diversos nomes são denominações oriundas de algum fato gerador numinoso. Foram geradas por um fenômeno místico e transcendente e se diversificaram quando se confrontaram com o processo de
simbolização da psiquê de cada indivíduo. O novo (clima, tradições, linguagem, etc.), as experiências coletivas de cada povo e as experiências de vidas passadas são responsáveis
pela multiplicidade de expressões religiosas.

O número de religiões cresce ao surgimento de cada novo paradigma que se estabelece. Essa tendência é fruto do processo de amadurecimento da psiquê, bem como do distancia-
mento do mito que deu origem àquela religião.

Todos possuem sua Religião Pessoal, muito embora não tenham consciência ou coragem de assumir. Vivem-na na intimidade de sua consciência, muitas vezes receosa de manifestar autenticamente o que pensa e sente.

A religião formal deve favorecer a construção de uma religiosidade madura, capaz de fazer face aos anseios psíquicos inconscientes de realização pessoal, de descoberta do Si-Mesmo e de encontro com Deus.
Quanto mais o indivíduo assuma sua Religião Pessoal e construa uma religiosidade que suporte todo o mal inerente à natureza humana, mais cedo alcançará a compreensão de sua existência e viverá sua essência.
 Por não suportar o mal, a religião exclui parte da natureza humana.

Uma religião que ofereça uma perspectiva de continuidade da existência do eu, que, por conta disso, impulsione as pessoas à comunicação interdimensional (mediúnica), que reforce a obrigação ética, que pugne pela responsabilidade social pessoal e que convide as pessoas a vivenciar o amor não pode ser vivida simplesmente para uma suposta salvação pessoal ou para encher os templos de adeptos.

Uma religião que se fixe em estabelecer o que é moral, bem como em condenar uma imoralidade formal, que não compreende o dinamismo do Universo tende a estagnar, falir ou alienar seus adeptos. É necessário que se entenda que o imoral, com o tempo, pode se
transformar em moral ou vice-versa.

É preciso viver religiosamente, porém sem se alienar do mundo, sem deixar de considerar que todos estão num mesmo momento evolutivo e que isso os nivela espiritualmente.

A Religião Pessoal deve ser capaz de proporcionar uma vida pacífica, harmoniosa e com
amorosidade.
Uma religião que não resiste à mínima imoralidade é apenas uma conveniência humana. A religião não é para formar crentes, mas para fazer evoluir consciências.
Sua missão é libertar as consciências, também de seus próprios egos.

Religião sem religiosidade torna-se um movimento intelectual, frio e tendente à alienação.

Religião Pessoal/Adenáuer Novaes


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