segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Negócio da China

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As Indústrias Nucleares do Brasil (INB) fecharam a venda de 16 mil toneladas de rejeitos radioativos para a Global Green Energy Science, localizada em Taiwan.
Os rejeitos estão estocados há 17 anos em um depósito na cidade de Caldas, no Sul de Minas Gerais, e devem ser transportados para a China em novembro. A carga tem valor estimado em R$ 65 milhões e será trocada por contratos de suprimento de urânio para a fabricação de combustível para as usinas nucleares brasileiras. "É reserva estratégica para a indústria nuclear nacional. Se o preço for confirmado, equivale a 50% da nossa produção anual de urânio", diz o presidente do INB, Aquilino Senra.
O rejeito vendido à Global Green Energy é um subproduto do tratamento químico da monazita, conhecido como Torta 2. "Há duas saídas para o material: estocar, como fazemos desde a década de 1940, ou processar e retirar terras-raras. Mas isso é custoso demais e não dominamos a tecnologia necessária", informa Senra. Terras raras é o nome que se dá a um grupo de 17 elementos químicos, com características semelhantes, usados na fabricação de produtos de alta tecnologia, como semicondutores e componentes para carros híbridos. A Global Green Energy domina esta técnica de reprocessamento e extração do material terras raras, que será vendido no mercado chinês.
"A retirada dos rejeitos é um pleito da população de Caldas há mais de dez anos", comemora o prefeito do município, Ulisses Guimarães. "O principal medo era de que, como já tínhamos esse material, outros tipos de rejeitos fossem mandados para cá", completa. O Brasil ainda não definiu a destinação definitiva para o combustível usado no complexo nuclear de Angra dos Reis, por exemplo, que continuam sendo estocados em piscinas dentro das próprias usinas. Além disso, há uma série de outros rejeitos com menores intensidades de radiação.
Segundo Guimarães, o depósito de Caldas permanecerá com rejeitos radioativos,mas de baixa intensidade. A cidade luta agora para receber compensação financeira por sediar o depósito. "Estamos negociando para resolver isso administrativamente com a INB, para que sejamos compensados pela nossa contribuição com o setor nuclear brasileiro. Mas nosso jurídico também estuda maneiras de cobrar a compensação, caso as negociações não avancem", adianta. Ele diz que ainda não há um cálculo sobre o valor a ser compensado.
A prefeitura propõe também o uso de parte da área do depósito de rejeitos para a criação, no município de pouco mais de 13 mil habitantes, de um centro de tecnologia ligado à mineração. "Estamos exportando essa carga porque não temos tecnologia suficiente para processar no Brasil. Podemos investir em educação para ampliar o conhecimento nesta área", afirma o prefeito.
A exportação dos rejeitos de Caldas já foi autorizada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e depende ainda de definições sobre o esquema de transporte até o litoral, onde a carga será carregada em navio. A estimativa é que o material ocupe 750 contêineres. Segundo o presidente do INB, o lote tem 880 toneladas de terras raras.
Maior produtora de terras raras, com 130 mil toneladas por ano, a China é responsável por dois terços do consumo do material. No Brasil, segundo o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), a produção se resume a um projeto em Bom Jesus do Itabapoana, Norte do Estado do Rio, com a extração de cerca de 250 toneladas por ano. O país tem grande potencial para a produção dos minerais - as reservas são estimadas em 40 mil toneladas -, mas o setor não tinha estímulos para investir por conta da grande produção chinesa, suficiente para abastecer o mercado mundial.
Em 2012, porém, a diminuição das cotas de exportação da China provocou uma alta dos preços das terras raras e uma corrida por novos projetos mundiais de produção de terras raras. No Brasil, por exemplo, a Mining Ventures tem um projeto de R$ 600 milhões em Minaçu (GO), chamado Mineração Serra Verde.
O projeto, com investimento de R$ 1,2 bilhão em dez anos, deve atingir plena carga em 2023. Durante assinatura do protocolo de intenções com o governo de Goiás, em abril, o presidente da companhia, Andreas Specher, alertou sobre a necessidade de atração de empresas beneficiadoras das terras raras. "Com isso, o Brasil deixará de ser um mero exportador de matérias-primas nesse importante setor da mineração, para colocar-se na vanguarda e domínio dessa tecnologia de ponta, com amplos benefícios para sua economia", disse.
Fonte: BE Nicola Pamplona

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