segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vitória. Vitórias. Vitoriosos.

15 de agosto de 2010. Exatos cinco anos desde meu contato imediato com a Oeiras real. Até aquele dia, eu sentia Oeiras como uma cidade inteira, plena, em que as pessoas viviam em paz e sossego. Deviam ser mesmo muito felizes...Afinal, de 5ª a domingo, pelos bares, as pessoas tomavam suas cervejas enquanto saboreavam a picanha, paçoca, Maria Izabel, panelada...serestas e forrós pelos bairros... aos domingos a missa, festa do Divino, N.Sra. da Conceição, das Vitórias.. sempre uma linda manifestação de religiosidade e fé. De quebra, ainda muito forró e folia....

Tudo em seu devido lugar.

Naquele dia, no Nogueira Tapety, encontrei a Oeiras que não conhecia. Um auditório cheinho de jovens e adolescentes, a maioria do Rosário e do Canela, reunidos para uma palestra do Promotor de Justiça sobre sexo na adolescência.
Convidada a me pronunciar, lhes disse: Queridos! Quando tinha a idade de vocês, uma professora me fez uma pergunta e disse uma coisa que me fez decidir a minha vida. A mesma pergunta eu faço para cada um de vocês: o que você quer ser quando crescer?
Imediatamente 3 crianças se levantaram, ansiosas por anunciar sua determinação.
Pedi que dissessem o nome, nome dos pais, o que vai ser quando crescer e por que.
Um baixinho de 10 anos se apresentou e disse: Eu VOU ser jogador de futebol. Alías, vou ser não, já sou, por que SOU um grande artilheiro.
Uma jovem linda de 12 anos também se apresentou e disse: Eu vou ser médica. Quero poder ajudar meus amigos e minha família a se tratarem direito. Quero lutar pela minha cidade. Aqui a gente é muito carente. Minha família sofre muito. Muita gente morre sem ser nem atendido no hospital. Eu quero ajudar.
Uma terceira criança, menino de uns 13 anos, disse que ia ser promotor: como o professor, por que quer lutar contra as injustiças, os crimes, contra os políticos.
Depois desses, levantou-se uma quarta criança, apresentou-se e disse: A senhora é o que mesmo?
– Arquiteta, respondi.
– Pois é! Quero ser arquiteta que nem a senhora e ajudar as crianças e meus amigos.
Agradeci e, emocionada, expliquei a mesma coisa que a irmã Lucia me explicou na aula de Moral e Cívica, aos meus 8 anos de idade: “Sempre se lembre de que tem 5 palavrinhas que representam coisas que não podem, jamais, ser relativas: amor, respeito, caráter, ética e moral. Seja o que você decida em sua vida, qualquer caminho vai lhe fazer feliz, contanto que você seja uma pessoa de verdade: ame inteira, respeite sem restrições, não faça jamais o que seu coração não aceita. Acredite e faça.”
E retornei a palavra ao palestrante.
Abracei cada criança ali presente com um amor tão grande quanto o que recebi delas naquele momento.
Aquela afirmação mexeu comigo de um jeito que nunca mais pude ser a mesma pessoa. Sentir a vontade daquelas crianças de realizar, descobrir e SER, me fez tomar a decisão definitiva de ficar em Oeiras e fazer exatamente o que aquela criança compreendeu. Ser arquiteta e ajudar as crianças e meus amigos. E fiquei.
15 de agosto de 2010. Missa de N. Sra. Das Vitórias, no meio do sermão, tentando escutar a palavra do líder daquele rebanho, perdi a atenção com a passagem de um fardo de algodão doce colorido, com bexigas plásticas amarradas em cada pacote. Criancinhas seguiam o vendedor em gritaria, desejosas dos doces e dos balões coloridos. As palavras do palestrante, aquela cena, me remeteram diretamente ao auditório do Nogueira Tapety, àquelas crianças que conheci 5 anos atrás.
O barulho da chegada dos aviões que trouxeram visitantes importantes para a procissão ainda ressoava nos meus ouvidos. Doía!
Aquelas crianças de olhos brilhando pelos doces, as mães todas arrumadas, de cabelo escovado, meninas lindas com trancinhas e roupas coloridas, menininhos com as boquinhas cheias de açúcar, felizes da vida, alheios à reza e aos poderosos visitantes... Mais uma vez emocionada tive confirmada pelo Divino a decisão tomada há 5 anos.
Tive a certeza de que nada me fará desistir de lutar por minha gente.

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