segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fiapos de Abril

 ( por Ledusha Spinardi )

Já revirei o mundo com olhos e língua em riste. Agora sobra o delicado gesto. Resto de linho que de tão gasto esqueceu qualquer aspereza. 

Na gaveta também repousam as cenas que fazem da minha memória uma preciosidade. 
Para o mar, as naves. 
Para os véus, as chaves. 
Para o céu, as aves. 
Pairam nos fiapos desse abril sem planos só algumas frases. Vaza uma voz entre os lilases: “Por onde piso vão crescendo as palavras. É o sonho do poeta.” Não me lembro onde li ou mesmo se li - o que importa? – isso que se parece com tudo que confesso e me estende. 
Desnuda, sem asas previdentes, estremeço gozando o viço do vôo para o vácuo irresistível, de onde nunca poderei saber se volto.

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